Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

CannabiZ Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por André Sollitto e Ricardo Amorim
Novidades e reflexões sobre o mercado da cannabis legal, no Brasil e no mundo
Continua após publicidade

Avanço da Cannabis no Brasil encontra resistências em múltiplas frentes

Mesmo que não tenham ligações entre si, iniciativas buscam frear o acesso aos medicamentos à base da erva

Por Ricardo Amorim Atualizado em 18 dez 2020, 14h41 - Publicado em 18 dez 2020, 14h37

Se 2019 foi o ano em que a cannabis entrou de vez no debate público nacional, podemos considerar que 2020 registrou um período de reações ao tema. Coordenados ou não, alguns fatos nos autorizam a enxergar um esforço contrário às iniciativas pela regulamentação e ampliação do acesso à erva no Brasil. Ainda que produzam mais barulho que efeitos práticos, é importante acompanhar essas movimentações para compreender os desafios e as oportunidades (ou falta delas) para o desenvolvimento de um mercado capaz de atender aos pacientes. Abaixo comento três desses episódios que, se não prejudicaram o avanço da cannabis no Brasil, pelo menos fomentaram a dúvida e a confusão na opinião pública.

Cassação da liminar da Apepi

Fundada em 2014 no Rio de Janeiro, a Apepi (Associação de Apoio à Pesquisa e a Pacientes de Cannabis Medicinal) havia conquistado na Justiça, por meio de uma liminar concedida em julho deste ano, o direito de “pesquisar, plantar, colher, cultivar, manipular, transportar, extrair óleo, acondicionar, embalar e distribuir aos associados o extrato de canabidiol, oriundo da Cannabis”. Desde então, a associação começou a se preparar para iniciar o cultivo em um terreno na serra fluminense, mas, em meados de novembro, a liminar foi derrubada após um recurso da Anvisa.

Mesmo diante do revés e com o imóvel já alugado, a Apepi manteve os planos e lançou o Projeto 10 mil Plantas, que, nas palavras dos responsáveis, pretender ser “referência nacional” na produção de “um remédio seguro, eficaz e de baixo custo”. Na página da iniciativa, há todos os detalhes e o investimento total necessário, de 277 mil reais, que estão sendo arrecadados por meio de financiamento coletivo. Há cotas disponíveis em valores que vão de R$ 30 a R$ 500. Nascida como uma organização voltada ao ativismo político, a Apepi agora arregaça as mangas para tranformar ideias em ação, em reação a uma decisão injusta, tendo em vista que outras associações brasileiras já conquistaram o direito de produzir remédios para seus integrantes.

Continua após a publicidade

Acordo Prati Donaduzzi/Fiocruz

O que poderia ser uma boa notícia, se converteu numa obscuridade desnecessária. O episódio, abordado em dois posts aqui no Cannabiz (link1; link2), ainda prejudicou a imagem da Fundação Oswaldo Cruz, uma das mais respeitadas instituições de ensino e pesquisa do país, reconhecida no mundo todo. Até então, a entidade vinha sendo transparente e proativa em relação ao tema, tendo inclusive firmado parcerias com a Apepi para a realização de estudos, seminários e debates.

Ao fazer um acordo sigiloso com a farmacêutica paranaense Prati Donaduzzi, a Fiocruz deixou no ar mais perguntas que respostas, o que motivou o envio de um “requerimento de informações” ao Ministério da Saúde por iniciativa da Câmara dos Deputados. De autoria dos deputados Paulo Teixeira (PT-SP) e Luciano Ducci (PSB-PR), respectivamente presidente e relator da comissão que discute o PL 399/2015 (regulamentação da cannabis medicinal), o pedido foi aprovado nesta semana pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e enviado ao ministério, que agora tem 30 dias para responder.

Continua após a publicidade

O maior problema do acordo, segundo especialistas, é a formulação única oferecida pela Prati (Canabidiol 200mg/ml), que não atende a todos os pacientes. Fontes ouvidas pelo blog disseram que o acordo da empresa com a Fiocruz pode servir de pretexto para que o seu produto seja incorporado pelo SUS, fechando as portas para o registro de outros medicamentos mais completos e com outras formulações e dosagens. De acordo com essas mesmas fontes, ao incluir o CBD 200mg/ml no sistema público de saúde, os adversários do PL 399 com influência no governo estariam dando uma “resposta” à sociedade justamente para esvaziar a tramitação do projeto no Congresso. A hipótese ganhou força com a inclusão do tema na pauta da reunião da Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS) realizada nos dias 8 e 9 de dezembro. Na última hora, o próprio Ministério da Saúde resolveu retirar a proposta, mas prometeu reapresentá-la no encontro da comissão agendado para a primeira semana de fevereiro, conforme informação do portal Sechat. Aqui, como se percebe, nada é exatamente o que parece. Seguiremos acompanhando.

Cartilha conjunta dos ministérios da Mulher, Família e Direitos Humanos e da Cidadania

Este talvez seja o ataque mais explícito à cannabis medicinal já feito até aqui pelo governo federal. Pior que desconsiderar as evidências científicas acerca do tema (o que, aliás, é praxe na atual administração inclusive no gravíssimo assunto da pandemia de COVID-19), o documento toma opinião como fato para confundir, desinformar e causar pânico na população. A tal cartilha chega a dizer que “não existe maconha medicinal”. São muitos absurdos que ofendem não só a ciência, mas também os milhares de pacientes que fazem uso dessa medicina.

Continua após a publicidade

Com o pomposo título de “Os riscos do uso da maconha na família, na infância e na juventude”, a publicação afirma que apenas o CBD (canabidiol) vem sendo investigado “com o objetivo de verificar se existe ou não um potencial terapêtico para condições clínicas específicas”. O texto diz ainda que a substância tem “uso bastante restrito”, quando qualquer pessoa minimamente informada sobre o tema sabe que isso não é verdade, conforme comprovado em inúmeras pesquisas e diversos ensaios clínicos. Em resumo: a cartilha conjunta dos ministérios é uma peça de propaganda anti-científica cujo objetivo é tão somente animar a claque conservadora e reacionária que sustenta os delírios de um governo que aposta na ignorância e no preconceito para fazer avançar sua agenda de retrocessos. Não conseguirão.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.