Messi, esqueça esse desejo. Você merece aniversários mais felizes
Craque argentino roubará de Zico a camisa 10 dos gênios que jamais venceram a Copa do Mundo
SAMARA – Lionel Messi comemorou uma dezena de seus 31 aniversários longe dos familiares, ao lado de apenas alguns amigos do peito, como Aguero e Mascherano, e vários colegas. Não é difícil adivinhar seu pedido ao apagar a vela e cortar o bolo a cada 24 de junho, sempre na concentração da seleção argentina: tudo que o gênio de Rosário sempre quis foi conquistar um título com a seleção argentina. Com exceção a uma vitoriosa Olimpíada, em Pequim-2008, a rotina se repetiu: em poucos dias, a ilusão deu lugar à amargura. Neste sábado, diante da França do imparável jovem Kylian Mbappé, Messi experimentou sua quarta frustração em Copas do Mundo. Doze anos de tentativas em vão, uma crueldade da bola com quem sempre a tratou tão bem.
Tabela completa de jogos da Copa do Mundo 2018
Messi talvez seja o melhor jogador da história depois de Pelé – aquele que, aos 17 anos, dois a menos que Mbappé, guiou o Brasil a seu primeiro título mundial, há 60 anos – mas jamais será o maior. Tudo por causa de sua infeliz sina com a seleção de seu país. Talvez seja cedo para cravar que Messi se despediu dos Mundiais na Rússia (completará 35 anos no meio da Copa do Catar). Mas é cada vez mais provável que se torne o maior craque do time de gênios que nunca venceram o Mundial, ao lado de Zico, Cruyff, Puskás, Di Stéfano, George Best e… Cristiano Ronaldo, sempre ele, que por ironia do destino conseguiu um troféu continental por Portugal, muito mais improvável, e sem nem precisar jogar a final (se lesionou no inicio da decisão da Euro-2016).
Messi jogou mais bola e por mais tempo, mas nunca será mais querido que Diego Armando Maradona na terra dos tangos de Gardel e de Evita Perón. E não pelo fato de ter crescido na Catalunha – se tivesse superado Neuer e levantado a Copa no Maracanã há quatro anos, ninguém se lembraria disso em Buenos Aires. Essa bobagem de que Messi não se vê como argentino, “não sente a camiseta”, foi enterrada justamente em um momento de profunda tristeza.
Em 2016, ao errar um pênalti na decisão perdida contra o Chile na Copa América Centenário, Messi provou que não é um ET ao chorar feito menino no gramado. O olhar perdido do gênio tocou o coração dos argentinos. Após o jogo, Messi anunciou que não jogaria mais pela “albiceleste” e imediatamente uma campanha por seu retorno tomou as ruas de todo o país. Messi é rosarino, torcedor do Newell’s e 100% “argento”. Não perdeu nada do sotaque portenho mesmo após 18 anos na Espanha. O problema é que seus incontáveis momentos de glória insistiram em permanecer no Camp Nou.
Tampouco é justo dizer que Messi não tem culpa alguma pelos fracassos de sua geração. Justamente por ser um humano de carne e osso e não um marciano, o camisa 10 também falhou em momentos decisivos – bem menos do que o parceiro de ataque Higuain ou as sofríveis defesas argentinas, mas também falhou. Na Rússia, teve raros momentos de brilho, como o golaço contra a Nigéria, mas passou boa parte dos jogos ausente, com o olhar perdido, impotente. Não conseguiu carregar o time nas costas como Maradona em 86. Talvez porque o futebol tenha mudado, as marcações evoluido. Ou talvez porque simplesmente não era para ser. O futebol é assim mesmo, coletivo e muitas vezes injusto, Leo. Vá curtir as férias com sua família e, no ano que vem, mude o desejo de aniversário.