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Valentina de Botas: Se manca, Letícia (2), ou: Letícia Sabatella usa ou não usa ativador de cachos?

Não se pode levar a sério quem, condenando a intolerância de apenas um lado, legitima o lado da intolerância

Por Augusto Nunes Atualizado em 30 jul 2020, 22h09 - Publicado em 6 ago 2016, 18h12

Letícia Sabatella, que defende Dilma Rousseff com unhas bem cuidadas e dentes perfeitos, incluirá numa peça de teatro o bate-boca que estrelou com manifestantes pró-impeachment em Curitiba, no último domingo, do qual encenou um BO e um vídeo. Há coisas inúteis que não servem para nada e, a essa altura da morte política da criatura indefensável, os vexames de Letícia, a bravata terrorista do bufão Guilherme Boulos, a entrevista que Gregório Duvivier gravou com Dilma para um canal francês de TV e que nosso Celso Arnaldo anuncia como a melhor esquete do Porta dos Fundos, a moral chula da trinca Hoffmann-Grazziotin-Lindbergh na comissão especial do impeachment no Senado e outros guinchos do réquiem ordinário para um projeto nefasto que agoniza não prestam sequer para configurar uma resistência – se muito, configuram mera apologia do crime e Dilma será legalmente destituída e merecidamente esquecida quando entrar setembro e a boa nova andar nos campos.

Fui à manifestação na avenida Paulista que se deteriora sob a administração caricata de Fernando Haddad. É que não consigo deixar de me comover com o país ainda tão tristonho esforçando-se para seguir adiante e nem deixar de comemorar a ausência irreversível de Dilma Rousseff no Palácio do Planalto, a asfixia do PT na própria substância miserável, a prisão de uma elite apodrecida e o extermínio político de um jeca autoritário que inaugurou ódios para ser idolatrado e fundou e aprofundou arcaísmos novos e antigos no país para se fazer dono perpétuo dele. No domingo, estávamos em número muito menor do que nas maiores manifestações, mas a conta agora é outra porque o país verde-amarelo que se impõe ao avermelhado da súcia, quando iniciou há menos de dois anos o resgate de si mesmo, descobriu o tamanho que tem.

Haddad comete uma gestão decidida a degradar a Paulista. Assim age o PT: como não sabe ou não lhe interessa disseminar a civilização, espalha o atraso; talvez esperando que a propaganda doutrinária constranja a lucidez para que ninguém acuse a decadência distribuída igualitariamente ou que a vigarice da catequese petista dilua a memória quanto ao estado anterior. A respeito da avenida infestada de ambulantes clandestinos, barracas de badulaques que tomam metade da calçada, moradores de rua, pedintes e ladrões agindo à luz do dia, o prefeito caricato decidiu: com base na orientação de uma comissão ligada à prefeitura, usou a Lei da Cidade Limpa para proibir a FIESP (pró-impeachment) de exibir a bandeira do Brasil no prédio da entidade. À frente dessa comissão, está o propagandista ideológico Alberto Carlos de Almeida, que sempre encenou o consultor isento em artigos, entrevistas e palestras, mas foi grampeado encorajando Lula a ser ministro para fugir da Lava Jato, numa conversa marcada pelo vocabulário de cafajestes íntimos, e tinha até março deste ano, segundo O Globo, contrato com o governo federal pelo qual recebera 7 milhões de reais desde 2013.

Eis a isenção dos lulopetistas prestigiada por grande parte do jornalismo contígua à quase totalidade da academia e à boa parte da classe artística para uma deformação do debate público que se fez espessa porque sustentada também por gente de bem: o intelectual pop, eloquente e chatinho, Leandro Karnal, em recente entrevista no Roda Viva, repudiou o extremismo de direita lembrando a advertência de Brecht segundo a qual “a cadela do fascismo está sempre no cio”. Lamentável o professor que se diz contra todo tipo de violência omitir que essa cadela, ideologicamente promíscua, engancha-se em cópula também com os cães extremistas de esquerda, sobretudo quando os portadores da boa consciência acusam apenas os latidos do lado oposto. Se até mesmo um intelecto vigoroso sucumbe ao apelo ideológico em que este submete a ética, Letícia Sabatella só alcançaria mesmo encenar um BO.

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Censurar a nossa bandeira é uma picuinha extremista que não fará a FIESP rejeitar o impeachment nem os quase 80% dos brasileiros, que também o desejam, dissociarem o símbolo nacional da causa que formalizará o fim da já extinta Dilma Rousseff. A medida só reafirma o autoritarismo, o aparelhamento do Estado e o mau-caratismo de lulopetistas que fazem de um petrolão e uma medida inútil instrumentos distintos na proporção e no efeito, mas igualmente manejados na obstinação pelo poder. Discípula politicamente obtusa dessa doutrina da intolerância autorizada por certa arrogância do monopólio do bem e da verdade, Letícia postou na internet o vídeo da própria patacoada, pois “é necessário filmar, denunciar e mostrar que tem limite”.

Não vê a falta de limite na própria atitude odiosa de incitar os manifestantes, nas agressões que Janaína Paschoal sofreu no aeroporto de Goiânia há um mês ou na arruaça em frente à casa da família de Temer em São Paulo durante dias e noites logo depois da posse do presidente interino, mas se escandalizou com a mesma arruaça na frente do prédio onde Chico Buarque tem um apartamento no Rio. Acho deplorável atacar políticos e personalidades de algum modo identificadas com eles em restaurantes, livrarias, aeroportos, hospitais (!), na casa deles e em outros espaços que não os institucionais. A defensora-e-atriz também acha, mas só se o limite tiver limite: o ideológico. E aquele cabelo lindo? Será que ela usa ativador de cachos? Claro que estou sendo sarcástica, e não por Letícia ser bela, nada tenho contra a beleza, mas porque não se pode levar a sério quem, condenando a intolerância de apenas um lado, legitima o lado da intolerância. Se manca, Letícia.

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