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No faroeste brasileiro, o bandido brinca de xerife antes de fingir que foi morto e depois gasta sem sustos o dinheiro que tungou

“Sou osso duro de roer”, gabou-se Carlos Lupi nesta segunda-feira. (Orlando Silva se sentia “indestrutível” quando o velório já ia chegando ao fim). “Eu quero ver até onde vai essa onda de denuncismo”, foi em frente o ministro do Trabalho. Vai acompanhá-lo até a hora do enterro em cova rasa, logo saberá. (“Vou mostrar que […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 10h15 - Publicado em 7 nov 2011, 22h39

“Sou osso duro de roer”, gabou-se Carlos Lupi nesta segunda-feira. (Orlando Silva se sentia “indestrutível” quando o velório já ia chegando ao fim). “Eu quero ver até onde vai essa onda de denuncismo”, foi em frente o ministro do Trabalho. Vai acompanhá-lo até a hora do enterro em cova rasa, logo saberá. (“Vou mostrar que todas essas denúncias são falsas”, prometeu o ministro do Esporte quando o tsunami de provas contundentes ainda lhe parecia uma marolinha. Não conseguiu desmentir nenhuma).

“Alguns nascem para se acovardar, outros para lutar”, declamou Lupi. “É o meu caso. Topo a luta. Vou até o fim”. É a Teoria do Casco Duro. Inventada por Lula, recomenda ao companheiro delinquente que resista entrincheirado no gabinete aos que tentam confiscar-lhe o empregão e a senha do cofre. A queda inevitável de Carlos Lupi repete o nauseante roteiro que orienta a cerimônia do adeus de ministros bandalhos.

Há menos de um mês, solidário com o camarada Orlando Silva, o PCdoB enxergou uma insidiosa conspiração contrarrevolucionária na descoberta de que o Ministério do Esporte se transformou na casa da moeda do partido. Solidário com o comparsa infiltrado no primeiro escalão, o deputado Paulinho da Força promete agora mobilizar as centrais sindicais que seu bando controla para a feroz resistência a inimigos de alta periculosidade.

Além da Força Sindical, quatro siglas descobriram que Carlos Lupi “está sendo vítima, assim como o movimento sindical, de uma sórdida e explícita campanha difamatória e de uma implacável perseguição política, que visa a desestabilização do governo e o linchamento público do titular da pasta.”  Essa conversa de gatuno pilhado em flagrante já passou da conta, como passaram da conta todos os outros capítulos, tão previsíveis quanto repulsivos, do espetáculo do cinismo reencenado pela sexta vez em cinco meses. O país decente já não suporta a lengalenga dos canastrões desprovidos de vergonha.

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De novo, Dilma Rousseff invocou a presunção de inocência. De novo, Gilberto Carvalho avisou que, “por enquanto”, não surgiu nenhum fato que incrimine diretamente o chefe do bando. De novo, a Comissão de Ética da Presidência abriu uma sindicância para nada apurar. De novo, o governo tenta ganhar tempo. Quando a tempestade se intensificar, será costurado o acerto malandro com o partido premiado com o Ministério do Trabalho: o PDT aceita a saída de Lupi e indica o substituto. Muda-se o ministro para que tudo continue como está.

Qualquer detetetive americano que tropeçar num Carlos Lupi não resistirá à tentação de repetir o ritual celebrizado pela TV. Depois de algemado pelas costas, o ministro saberá que tem o direito de chamar um advogado e de ficar em silêncio, porque tudo o que disser será usado contra ele no tribunal. Nem será necessário especificar o motivo da prisão. Lupi sabe que merece. Aperfeiçoado pelo governo Lula-Dilma, o faroeste brasileiro é diferente. Só aqui o bandido é autorizado a posar de mocinho e brincar de xerife antes de fingir que morreu. Depois, gasta em sossego o dinheiro que tungou.

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