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Na guerra comercial, política interna chinesa também conta

Se Xi Jinping passar a ser visto por olhos chineses como condescendente a exigências americanas, o líder chinês pagará um alto preço

Por Marcos Troyjo
Atualizado em 30 jul 2020, 20h20 - Publicado em 15 set 2018, 22h54

Marcos Troyjo

Lembro-me que na primeira vez que fui à China, há quinze anos, um empresário italiano radicado em Pequim desde os anos 1980 me disse: “a vantagem deste país (China) é que não tem muitas das coisas com que precisamos perder tempo no Ocidente. Uma delas é a opinião pública. Outra é a briga política interna”.

É fato que a China conseguiu provavelmente realizar um dos maiores milagres econômicos da história sem muitas das instituições que julgamos (nós, ocidentais) imprescindíveis. Na China, não há imprensa livre, sufrágio universal, marcos jurídicos claros, multipartidarismo, independência dos poderes, agências reguladoras e tanto mais.

Além disso, a atividade de governar a China, quando comparada à relação Estado-sociedade civil no Ocidente, parece relativamente mais simples. A disciplina milenar chinesa traz componentes confucianos de respeito à hierarquia e à autoridade. O Partido Comunista Chinês teria reforçado ainda mais esses traços com sua mão pesada na vida acadêmica e sua onipresença na economia e na política.

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Trump, em entrevistas coletivas ao lado de Xi Jinping, admira o “bom comportamento” e as “perguntas construtivas” da imprensa chapa branca chinesa. Lamenta que a mídia jornalística de seu país não seja mais “patriótica”.

Essa suposta harmonia chinesa obtida pelo seu rarefeito oxigênio democrático interno leva a algumas superficialidades, quando o assunto é a influência da política doméstica na modelagem da guerra comercial entre Washington e Pequim.

Em março, o presidente Trump afirmou que seu governo iria impor tarifas de importação para aço e alumínio de 25% e 10%, respectivamente. A ação afetou não apenas a China, como a União Europeia e também o Brasil ─ o objetivo da medida é proteger a indústria americana da concorrência internacional, uma das principais promessas de campanha de Trump.

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De acordo com tais impressões, a postura dos EUA é essencialmente guiada pelas variáveis de opinião pública interna. Ao bater de frente com a China, Trump estaria remunerando aquele eleitorado do “Rust Belt” (regiões desindustrializadas dos EUA) que contribuíram decisivamente para sua vitória em 2016.

Trump sabe que bater na China também contenta o eleitorado do Partido Democrata, que nos últimos anos foi mais crítico ao comportamento comercial de Pequim do que o próprio Partido Republicano, pelo qual Trump foi eleito à Casa Branca.

Ao mostrar que “está ganhando” a guerra comercial com a China, Trump aumenta suas chances de eleger um Congresso a ele simpático agora em novembro e pavimenta sua reeleição em 2020.

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Ainda que muito de suas medidas comercialmente ofensivas à China não façam qualquer sentido econômico ─ machucam eficiência, produtividade e lucratividade das próprias empresas transnacionais americanas ─ o ganho político tudo compensaria.

A política interna dos EUA ─ e seu termômetro na opinião pública ─ e não os objetivos estratégicos de mais longo prazo dos EUA, seriam assim a bússola mais potente da posição negociadora americana.

Já a China, estima-se, estaria mais predisposta a aceitar derrotas na guerra comercial. Xi Jinping não teria de prestar contas à sua opinião pública interna. Na China, o conceito de sociedade civil é incipiente, e empresários e trabalhadores dispõem de menos espaço para manobras contestatórias.

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Mas não é bem assim. A política interna na China também conta ─ e muito. Os chineses se formam ao som da narrativa da grandeza natural de seu país, de sua ‘centralidade” nas relações internacionais, de que os momentos em que a China ficou para trás resultaram da cobiça e agressão de potências estrangeiras.

Gideon Rachman, em recente coluna no Financial Times, assinala que, na presente guerra comercial, “Trump aceitaria uma vitória simbólica, mas Xi Jinping não teria como bancar uma derrota simbólica”.

Vale recordar que Xi ascendeu à Presidência em 2013 prometendo um “grande ressurgimento” do povo chinês. Ele chegou ao topo do poder numa China que caminha celeremente para tornar-se, em algum instante dos próximos quinze anos, a maior economia do mundo.

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E, cabe enfatizar, em fevereiro deste ano o Partido Comunista Chinês decidiu não mais restringir o teto de permanência de um indivíduo na condição de presidente do país. A medida foi legitimada com base na hipótese de que Xi Jinping teria de concentrar ainda mais poder em suas mãos de modo a continuar a promover reformas e sustentar a ascensão do país.

Quando Trump exorta a Apple a abandonar o “Montado na China” (“Assembled in China”), os chineses veem em tais medidas ─ ou em outras relacionadas à propriedade intelectual ─ mera desculpa para evitar a presença chinesa em setores de alta tecnologia típicos da Quarta Revolução Industrial.

Se, como resultado de derrotas em sucessivas batalhas da guerra comercial, Xi Jinping passar a ser visto por olhos chineses como condescendente a exigências americanas que venham a arrefecer o crescimento de seu país, o líder chinês pagará um alto preço. Mesmo sua “perenidade” no comando chinês poderia ser questionada e revista.

Já se afirmou, com acerto, que na China “em nome da riqueza a autocracia é tolerada”. E permitir qualquer distúrbio nessa correlação implica grave risco para qualquer dirigente chinês.

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