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Augusto Nunes

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José Nêumanne: Pule de dez na economia, pé direito na diplomacia

Duas boas notícias de Temer: há governo e o presidente fala a nossa língua. Mas não bastam

Por Augusto Nunes Atualizado em 30 jul 2020, 22h41 - Publicado em 19 Maio 2016, 17h10

Publicado no Blog do Nêumanne

Alvíssaras, brasileiros! Temos governo. Fazia muito tempo que administração não havia mais, pois, instalada no posto mais alto da República, com legitimidade garantida pela maioria dos votos válidos na eleição presidencial, Dilma Rousseff abusou de sua autoridade tentando forçar a própria permanência. Por determinação de 367 (71%) dos 513 deputados federais e de 51 (67%) dos 81 senadores, o vice Michel Temer tomou posse interinamente na presidência e escolheu ministros que já começaram a tomar providências efetivas, anunciando a evidência de que, no mínimo, há uma gestão em marcha.

Com alívio, a nação ouviu um chefe de governo que fala a língua de todos, o velho galaico-português de Camões, Eça, Pessoa, Castro Alves e Machado. Pois é: nossa língua materna, em que os gerúndios têm “dê”, ou seja, andando e não andano; os pronomes pessoais, mesmo nas formas coloquiais, devem ser usados corretamente (pra eu fazer ao invés de pra mim fazer) e adjetivos têm gêneros, com mulheres falando obrigada, não obrigado, reservado apenas para emprego masculino. Ao discursar apresentando-se à nação, Temer tratou as instituições e quem as ocupa em nome da cidadania com o devido respeito. E deu ao distinto público, escorchado por uma carga tributária indecente e afligido pela crise moral, econômica e política, que “nunca houve antes na História deste país”, esperança de que os cidadãos sejam tratados com decência. Não tendo de arcar com o ônus da desmoralização desta República desgovernada à matroca.

Dois dos ministros que assumiram autorizam a esperança de que, pelo menos, algo será feito para resgatar a fé e o respeito que o Brasil merece. Tendo presidido uma grande instituição financeira internacional e nosso Banco Central, com gestões que o fizeram gozar de boa fama nos mercados financeiros interno e externo, Henrique Meirelles, ex-tucano e várias vezes sugerido a Dilma por Lula para ocupar o lugar que assumiu, é o que se chama no turfe de “pule de dez”.

No Itamaraty, o senador José Serra (PSDB-SP) começou com pé direito. Em plena turbulência causada pelo inconformismo dos derrotados no processo legal do impeachment, ele teve a serenidade e a ousadia de não deixar sem resposta a impertinente tentativa de intromissão em nossos assuntos internos por sócios no autoritarismo e no malogro econômico bolivariano. Em sua tirania de 57 anos, que aprisiona adversários políticos e homossexuais, Cuba não tem autoridade para denunciar o tal “golpe jurídico-parlamentar”. Desde o golpe comunista dado pelo clã Castro, sustentada, antes, pelo extinto império soviético e, depois, pela Venezuela, que não ampara mais ninguém, Cuba devia calar-se.

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A dura nota do Itamaraty, repetindo o tom utilizado pelo ex-rei de Espanha Juan Carlos, quando refutou a molecagem malcriada de Hugo Chávez ─ “y por qué no te callas?” ─, pôs em seu devido lugar o sucessor deste, Nicolás Maduro, e os aliados sul-americanos do Partido dos Trabalhadores (PT). Falta a Maduro um espelho no Palácio de Miraflores para ver a falência de sua gestão e que, com uma Justiça submissa ao Executivo, não pode criticar decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) brasileiro. Pois este convalidou, com amplas maiorias e até unanimidade, o afastamento de sua comadre repetidas vezes, tornando lana caprina o uso de chicanas em sua defesa. Isso vale ainda para o boliviano Evo Morales, o equatoriano Rafael Correa e o uruguaio José Mujica, que não é presidente. Nem, ao que se saiba, fala por Tabaré Vázquez.

Atitude corajosa, similar à de Serra, foi tomada pelo ministro da Educação e Cultura, deputado Mendonça Filho (DEM-PE). Ele enfrentou e calou baderneiros, que foram desmoralizá-lo e saíram do confronto derrotados por sua argumentação lógica, lúcida, respeitosa à democracia e que deveria ser imitada em enfrentamentos públicos do tipo.

Recriar o Ministério da Cultura (Minc) ou subordinar a Secretaria à presidência seria recuo que dificultará ao governo a adotar as providências necessárias para desmontar o deletério legado da desastrada gestão petista nestes 13 anos, quatro meses e meio. O MinC foi uma má iniciativa de José Sarney para pôr pelo menos um amigo no ministério, então só composto por indicações do titular morto, Tancredo Neves. Um de seus ministros foi o economista Celso Furtado. Mas a biografia impoluta do grande mestre foi maculada por seu injustificável apoio à censura ao filme Je vous Salue, Marie (Ave Maria), de Jean-Luc Godard, imposta ao ex-presidente pela mãe devota, Dona Kiola.

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À exceção de Ipojuca Pontes, que ousou extinguir a Embrafilme e por isso é hostilizado, Antonio Houaiss, sob Itamar Franco, e Francisco Weffort, a pasta foi uma ação entre amigos à nossa custa. Até agora foi aparelhada para servir ao PT e à indústria fonográfica e usada para tungar direitos de nossos autores e aumentar os lucros das multinacionais da cultura e de artistas nativos que se beneficiam do Bolsa Show, sob as bênçãos de Xangô e do Senhor do Bonfim. Enquanto as traças devoram a Biblioteca Nacional e os museus sob sua égide tornam-se inaptos a visitas públicas.

A Cultura é um detalhe simbólico, mas também relevante, tendo em vista as dificuldades com imagem do presidente em exercício. Urge ao governo-tampão evitar que Dilma e seus asseclas completem o desmanche do país, sob os aplausos dos decadentes aliados subcontinentais. Para tanto, basta que os senadores contra seu afastamento cheguem a 25 (um terço de 81), três a mais do que os obtidos na votação da abertura do processo.

Esta tarefa não é impossível, mas fácil também não é. Dois passos são exigidos: demitir não 4 mil, mas todos quantos comissionados for possível, para que não sabotem a gestão; e fazer de tudo para pôr de novo as contas públicas nos eixos. E esta luta terá de ser travada com lisura e na guerra pela paz.

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