Dois casos de polícia vão chefiar o Carandiru sem grades
PUBLICADO EM 16 DE JANEIRO Em nações politicamente adultas, Renan Calheiros e Henrique Alves não passariam da primeira anotação no prontuário: antes da segunda patifaria, seriam transferidos da tribuna para um tribunal, teriam o mandato cassado e só voltariam ao Congresso para depor em alguma CPI ou, depois da temporada no presídio, fantasiados de turistas. […]
PUBLICADO EM 16 DE JANEIRO
Em nações politicamente adultas, Renan Calheiros e Henrique Alves não passariam da primeira anotação no prontuário: antes da segunda patifaria, seriam transferidos da tribuna para um tribunal, teriam o mandato cassado e só voltariam ao Congresso para depor em alguma CPI ou, depois da temporada no presídio, fantasiados de turistas. Num Brasil com cara de clube dos cafajestes, o senador alagoano vai presidir a Casa do Espanto e o deputado potiguar vai administrar o Feirão da Bandidagem. Faz sentido.
A seita lulopetista aprendeu que folha corrida é currículo, integridade é defeito e honra é coisa de otário. Como nas disputas promovidas mensalmente pela coluna para a escolha do Homem sem Visão do Ano, a eleição do presidente da Câmara ou do Senado comprova que os congressistas votam no candidato que lhes pareça o pior entre os piores. A galeria dos eleitos depois do advento da Era da Mediocridade confirma que, quanto mais alentado for o prontuário, maior será a chance de vitória.
Indicados pelo PMDB, com o endosso de partidos da base alugada e o apoio da oposição oficial, Renan e Henrique Alves estão à altura dos atuais ocupantes do cargo. José Sarney só não foi despejado da presidência do Senado porque Lula o promoveu a Homem Incomum e os oposicionistas estão em férias há 10 anos (veja o post reproduzido na seção Vale Reprise). Renan teve de renunciar ao posto para escapar da cassação que até seus comparsas achavam inevitável. Marco Maia acha muito natural que um deputado condenado pelo STF passe o dia no plenário e a noite na cadeia. Henrique Alves já avisou que, se José Genoíno precisar de um coiteiro, é só chamar o presidente.
Contemplada do lado de fora, a sede do Parlamento brasileiro é uma bela criação da grife Niemeyer. Visto por dentro, sobretudo por quem conhece a face escura dos inquilinos, o lugar onde deveria haver um Congresso é reduzido a um acampamento de meliantes com um terno escuro que não se dá com a gravata, sorriso de aeromoça e a expressão confiante de quem confunde imunidade parlamentar com licença para pecar.
O Congresso virou um Carandiru sem grades. É natural que seja dirigido por casos de polícia.