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Augusto Nunes

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De onde vêm as palavras: A ocasião faz o ladrão

Em seu texto de estreia, Deonísio da Silva demonstra que aprender a língua portuguesa pode ser muito agradável, além de bastante divertido

Por Branca Nunes Atualizado em 30 jul 2020, 21h45 - Publicado em 25 set 2016, 12h37

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Quem foi a primeira pessoa a dar uma de João-sem-braço? Quem disse que cada povo tem o governo que merece? Por que os lixeiros se chamam garis? O que busto tem a ver com combustão? É verdade que propina e rameira cresceram juntas nas tabernas? Quem primeiro chutou o balde: a vaca ou o homem? Deonísio da Silva sabe as respostas.

Um dos mais brilhantes romancistas brasileiros, autor de várias obras publicadas no exterior, Deonísio também se dedicou desde sempre a pesquisar o berço de palavras e expressões da língua portuguesa (e de outras), ofício que proporciona saberes e sabores deliciosos. É o que se verá a partir deste domingo, na seção semanal que Deonísio assinará nesta coluna.

Aprender Português pode ser muito agradável e bastante divertido, sabem incontáveis alunos, leitores e ouvintes desse brilhante garimpeiro dos curiosos modos que o brasileiro teve ou tem de dizer as coisas. De dizer e de escrever. “Não busquemos objetividade nas sentenças judiciais”, recomenda Deonísio. “Sentença tem o mesmo étimo do verbo sentir. E os juízes não sentem do mesmo modo”. Não sentem e não julgam. Por isso, mesmo no STF, é rara uma votação de 11 x 0 para um lado ou para outro.

Descubra abaixo de onde veio a expressão A ocasião faz o ladrão:

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Frase com certa sutileza malvada embutida. Dá conta implicitamente de que, havendo ocasião, surge inevitavelmente o ladrão.

Diversos códigos penais basearam-se em tão triste concepção do gênero humano para vazar seus artigos. Segundo tal hipótese, o que garante não haver ladrões é um eficiente sistema de punição.

Nas 282 cláusulas do Código de Hamurábi, baixado pelo rei da Babilônia no século XVIII a.C., as punições a furtos e roubos ocupam boa parte do diorito, a rocha em que estão gravadas: “Se o comprador não apresenta o vendedor e as testemunhas perante as quais ele comprou, o comprador é o ladrão e morrerá. E o proprietário retoma o objeto”; “se alguém comete roubo e é preso, ele é morto.”.

Machado de Assis (1839-1908), ainda que tão cínico e mordaz, corrigiu a máxima com muita propriedade para: “Não é a ocasião que faz o ladrão, o provérbio está errado. A forma exata deve ser esta: a ocasião faz o furto; o ladrão já nasce feito”. Pensando bem, é quase pior.

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