Cinco tipos paulistanos
Branca Nunes O pomar do jardineiro Não fossem os odores repulsivos e a moldura feita de arranha-céus, quem caminha pela viela de terra que margeia o Rio Pinheiros e topa com o Pomar Urbano pode achar que caiu numa fazenda do interior paulista: vacas pastando contracenam com famílias de capivaras ou bandos de lagartos no […]
Branca Nunes
https://videos.abril.com.br/veja/id/2c9f94b4351159e801351610e2f604cf?
O pomar do jardineiro
Não fossem os odores repulsivos e a moldura feita de arranha-céus, quem caminha pela viela de terra que margeia o Rio Pinheiros e topa com o Pomar Urbano pode achar que caiu numa fazenda do interior paulista: vacas pastando contracenam com famílias de capivaras ou bandos de lagartos no cenário suavizado por centenas de palmeiras-jerivá, biris-vermelhos grama-amendoim. Responsável pela plantação e conservação do lugar, Daniel Sousa de Oliveira é um dos oitenta jardineiros do Pinheiros. “Sinto orgulho quando vejo alguma propaganda que mostra o pomar”, confessa. “Parece que sou eu que estou na televisão.” Se pudesse escolher o que é plantado ali, Daniel optaria por mais quaresmeiras e ipês. De que cor? “Todas”, responde. “Acho injusto achar uma cor mais bonita que a outra. Elas se completam.”
https://videos.abril.com.br/veja/id/2c9f94b4351159e80135160dba2e04c8?
O vendedor de guarda-chuvas
“Boa chuva!”, deseja Aldo Grecco aos que, minutos depois de entrar com roupas molhadas, saem prontos para enfrentar a tempestade. Integrante da terceira geração de uma família de fabricantes de guarda-chuvas, Aldo administra a loja que, aberta em 1971, é a mais antiga do gênero em São Paulo. “Antes, o guarda-chuva fazia parte do vestuário”, conta. “As pessoas procuravam qualidade. Hoje, querem algo pequeno e barato.” Apesar da invasão dos produtos chineses e do sumiço da garoa paulistana, Aldo não tem queixas a fazer. “Em São Paulo, o que você faz você vende”, garante. Um dos milhões de descendentes de italianos que vivem na cidade, ele avisa que não pretende suspender a fabricação de peças que custam mais de 300 reais. “Isso, sim, é um guarda-chuva de verdade.”
https://videos.abril.com.br/veja/id/2c9f94b4351159e80135160c522c04c7?
O dono da bica
A cidade que matou mais de 100 córregos, sepultou um rio e mantém outros dois na UTI não conseguiu assassinar uma relíquia inverossímil: a única fonte de água mineral urbana do mundo. Localizada no bairro de Santo Amaro, fica a 500 metros abaixo da superfície e a menos de 5 quilômetros do agonizante Pinheiros. Nos anos 80, a Fonte Petrópolis Paulista foi comprada pelo pai de Amilcar Lopes Junior, atual proprietário. “Além de entregarmos em casa, as pessoas podem trazer recipientes e enchê-los com água”, explica. O litro é vendido a 0,27 real e cada um dos mais de 40.000 clientes mensais leva para casa 40 litros do líquido inacreditavelmente insípido, inodoro e incolor. Os paulistanos consomem mais de 3,5 bilhões de litros de água tratada pela Sabesp por dia, o equivalente a 1 400 piscinas olímpicas. Os fregueses da Petrópolis bebem, literalmente, água na fonte.
https://videos.abril.com.br/veja/id/2c9f94b4351159e80135160e3f0004c9?
Uma Itália com sotaque escocês
Poderia ser Positano, na Itália, ou algum vilarejo francês na Provença, dois dos muitos lugares deslumbrantes onde Nick Johnston morou nos seus 43 anos de vida. Mas foi em São Paulo que esse escocês de Edimburgo decidiu abrir a Bacio di Latte, sorveteria — “gelateria”, ele faz questão de dizer — que se transformou num dos cases de sucesso de 2011. “Quando dois amigos italianos falaram na ideia da gelateria, topei na hora”, diz. “São Paulo tem muita gente com um gosto tão refinado como o dos europeus. E tem também a mão de obra que trabalha de forma artesanal com muita competência.” Numa cidade onde, a cada ano, 30% dos bares e restaurantes abrem e fecham as portas, a Bacio festejou o primeiro aniversário com o recorde estabelecido num domingo de sol: um sorvete vendido a cada trinta segundos.
https://videos.abril.com.br/veja/id/2c9f94b4351159e80135160ad8a804c5?
O maquinista sem locomotiva
Operador da Linha 4-Amarela do metrô, Fábio Silva não precisa de locomotiva para transportar 525 mil passageiros por dia. Usando apenas o computador, ele determina a velocidade dos vagões, controla a abertura das portas, sabe exatamente a hora de parar. A exemplo da linha 14 do metrô de Paris, a similar paulistana funciona por controle remoto. Formado em mecatrônica, Fábio já pilotou pessoalmente os trens, que também obedecem ao sistema manual. “É uma sensação de poder incrível”, alegra-se. Mas prefere ficar longe dos trilhos, instalado na sala provida de ar-condicionado e várias telas. “Dentro do trem, dirijo apenas aquele carro”, diz. “Aqui, é como se estivesse no comando de uma cidade inteira”.