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Celso Arnaldo: depois da performance de Ana de Hollanda e Romero Britto, o Ministério da Cultura deveria ser lacrado

Por Celso Arnaldo Araújo Dos 37 ministérios do governo Dilma (quatro órgãos e oito secretarias com status de ministério e 25 ministérios propriamente ditos), pelo menos 10 não serão sequer notados ao longo de quatro anos, seja pela insignificância da pasta ou de seu titular 196 ─ a menos que um ou outro, entre notórios […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 12h42 - Publicado em 27 fev 2011, 16h06

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Por Celso Arnaldo Araújo

Dos 37 ministérios do governo Dilma (quatro órgãos e oito secretarias com status de ministério e 25 ministérios propriamente ditos), pelo menos 10 não serão sequer notados ao longo de quatro anos, seja pela insignificância da pasta ou de seu titular 196 ─ a menos que um ou outro, entre notórios pintas bravas, coloque as manguinhas de fora e os mangotes pra dentro.

O Ministério da Cultura – desmembrado do da Educação em 1985 por iniciativa do então recém-empossado presidente Sarney, o acadêmico Sarney – deveria estar na cota dos que precisam mostrar serviço, quando nada pela nobreza de seu objeto.

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Está certo que, ao longo desses 25 anos, a pasta foi ocupada por inexpressividades culturais como José Aparecido de Oliveira, Aluisio Pimenta, Hugo Napoleão e Juca Ferreira – nomes de indicação política intercalados com intelectuais de nomeada, mas muito pouco à vontade na administração pública, como Celso Furtado, Antonio Houaiss, Sergio Paulo Rouanet e Francisco Weffort.

Fazendo um balanço de suas Bodas de Prata, o Ministério da Cultura quase sempre foi uma miragem de boas intenções e muitas visões distorcidas, como é próprio das miragens. Poderíamos, sim, ter vivido sem ele todo esse tempo – a cultura erudita ou comercial sobreviveria através de seus mecenas naturais; a popular, de raiz, pela espontaneidade das manifestações da terra.

Mas a presidente Dilma não tem sido apresentada como contraponto à tronchisse de seu mentor Lula? Como a devoradora de livros, artes plásticas, Bach e Mozart? Ao aceitar de bom grado essa pecha de refinamento – que os frequentadores desta coluna sabem ser tão falsa quanto a nova cabeleira do Eike Batista – ela estaria obrigada a fazer do Ministério da Cultura, pelo menos na aparência, um dos pontos de honra de seu governo. E o que fez Dilma? A resposta inequívoca, sem margem a dúvidas ou interpretações, está neste vídeo estarrecedor. A ministra da Cultura de Dilma, Ana de Hollanda, é apenas a metade de um sobrenome ilustre. Seria essa sua única credencial para o posto? Tudo indica.

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No começo do ano, em homenagem a Dilma Rousseff, o “artista pop brasileiro” Romero Britto, há anos radicado nos Estados Unidos, onde realiza trottoir permanente pelo universo das celebridades, fez um retrato da presidente – naquele estilo “meio Andy Warhol/meio Picasso depois de um estágio no ateliê de José Antonio da Silva”. E comprou uma página inteira no New York Times para anunciar o feito e bajular Dilma.

Há duas semanas, em audiência no Palácio do Planalto, acompanhado pela ministra Ana, o cubista pop levou o presente à presidente Dilma – como costuma fazer, em sua bem-sucedida estratégia de marketing, quando pinta poderosos: entrega em domicílio, sob holofotes. Na saída, abordados pelos jornalistas, Romero e a ministra protagonizaram um momento que, num país sério, causaria o lacramento do Ministério.

O vídeo começa – sem fala, para não ser ainda mais estupefaciente – com retratista e retratada posando (ou pousando, diria Emir Sader) ao lado do retrato. De início uma confirmação: os críticos dizem que todos os retratos feitos por Romero Britto – de Madonna ao Príncipe Charles – parecem-se com…Romero Britto. De fato, ele e o retrato de Dilma foram separados ao nascer. E agora reunidos com a própria Dilma. Mas o vídeo se torna um documento histórico – prova da seriedade que Dilma Rousseff pretende emprestar à Cultura em seu governo – quando entram em cena, aos 26 segundos, a ministra e o artista. Ele, num terno marca-texto e sapatos caneta Pilot. Ela, bem, ela é a irmã do Chico – até a bolsa descomunal, completamente fora de mão, deve ter seus fãs.

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Talvez por incultura minha, não sabia da existência de Ana Buarque de Hollanda até sua indicação para o ministério – portanto nunca a tinha ouvido falar. Parece que fazia carreira como cantora e professora de música. Leio em seu currículo que, ano após ano, ministra oficinas, sempre sobre o mesmo tema: “O Cantor e a Segurança Interpretativa na Música Popular”.

Com base neste vídeo, a oficina “A Ministra e a Segurança Expositiva no Governo Dilma”, ministrada por Ana de Hollanda, é um retumbante fracasso. Ela explica aos repórteres o que Romero foi fazer no gabinete de Dilma:

“Uma audiência com a presidenta, é, vocês até fotografaram, é, deu um presente maravilhoso para ela, um retrato lindo”, explica a ministra, 62 anos mas carinha de menina encabulada encarregada de fazer a apresentação do trabalho da turma, naquela sem-jeitice que se confunde facilmente com despreparo, descrevendo para a imprensa o que, como ela mesmo diz, todos tinham acabado de ver e fotografar. Prossegue, ainda fora de prumo:

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“Nossa presidenta ela conheceu seu trabalho no Hospital da Mulher, né Romero, ficou encantada. Tava contando isso, e aí ele apresentou várias propostas de trabalho, e eu vou deixá o Romero contá, acho que foi um assunto direto com ele, mas eu sou testemunha de que ela ficou apaixonada, o trabalho dele é muito alegre, muito colorido, muito, algumas marcas que são muito a cara do Brasil, essa coisa jovem, essa coisa cheia de energia, cheia de ideia, cheia de colorido, e umas ideias muito boas que ela gostou demais, né Romero? Então fala aí para eles”.

Então, a ministra da Cultura, que se expressa como a ginasiana que se senta no fundo da sala para não ser notada pelo professor, se recolhe e se encolhe, deixando restos de um sorriso que teima nervosamente em permanecer onde já não cabe.

Mas antes que Romero “fale aí pra eles” – hello: num estranhíssimo sotaque luso-americano para um pernambucano da gema – talvez fosse o caso de esclarecer o que seriam essas “várias propostas de trabalho” e “umas ideias muito boas” que a presidenta (arghh) gostou demais.

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Romero gostaria de uma boquinha no Planalto como retratista oficial, uma espécie de Velázquez de Filipe IV na corte de Dilma I? Para tentar descobrir a verdadeira intenção do retrato de Dilma, eu precisaria ter assistido ao restante do vídeo – tarefa de que abro mão gostosamente, repassando-a aos pacientes colaboradores

Mas, pensando bem, nenhuma surpresa: Dilma Rousseff tem uma ministra da Cultura à sua altura.

E pensando o pior: no fundo, quem transformou Ana de Hollanda em ministra de Estado foi José Sarney, em 1985…

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