Celso Arnaldo captura Mercadante durante mais um show de bajulação explícita
DILMA, SEGUNDO MERCADANTE: A VERGONHOSA AULA MAGNA DO NOVO MINISTRO DA EDUCAÇÃO Celso Arnaldo Araújo O bizarro bigode do ministro Mercadante – cópia escarrada do símbolo do Batman criado por Bob Kane – não é do tempo em que um único fio valia o compromisso assumido. Não que ele não seja suficientemente honesto para tal. […]
DILMA, SEGUNDO MERCADANTE: A VERGONHOSA AULA MAGNA DO NOVO MINISTRO DA EDUCAÇÃO
Celso Arnaldo Araújo
O bizarro bigode do ministro Mercadante – cópia escarrada do símbolo do Batman criado por Bob Kane – não é do tempo em que um único fio valia o compromisso assumido. Não que ele não seja suficientemente honesto para tal. Apenas é muito jovem. Quando ele nasceu, o bigode de Sarney já se melava no pires do gato. Na política brasileira, um bigode é tudo aquilo que Sarney representa.
Mas o bigode-morcego de Mercadante vale, sim, por um compromisso assumido – o de prestar vassalagem à presidente que o livrou do ostracismo de uma segura derrota em eventual tentativa de reeleição para o Senado; e lhe deu o consolo de uma pasta com a qual não tinha a mais remota afinidade – Ciência, Tecnologia e Inovação.
Em um ano e 22 dias de gestão, a única ideia conhecida de Mercadante para seu ministério foi sugerir que os hackers que infernizavam os sites da República fossem contratados para dar um upgrade na informática do Planalto. Os próprios hackers devem ter se recusado a entrar para o funcionalismo público, como pichadores que fossem convidados a usar o elevador social para deixar sua marca no topo do edifício–alvo. Porque nunca mais se falou no assunto. E nunca mais se falou no Mercadante.
O problema do Mercadante não é o fio do bigode – que ele os tem abundantemente – mas a mediocridade. E mediocridade também sangra os cofres públicos e as esperanças da nação. Sua promoção ao Ministério da Educação, depois do vazamento de Haddad, dá bem a medida de valor que o governo Dilma, fora do blá-blá-blá dos palanques e das entrevistas capengas, devota à Educação.
Mercadante só pode estar gratíssimo, reconhecidíssimo, por esse segundo “voto de confiança” da presidente Dilma. Daí não temer a exposição de sua bajulação explícita, despudorada, mistificadora, na cerimônia de posse do matemático Marco Antonio Raupp no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, agora livre de Mercadante.
Numa espécie de instrução de sobrevivência a seu sucessor, e na frente de Dilma, o agora biministro capricha no perfil mitológico da superexecutiva que, com sua eficiência, reduz a trainees Carlos Slim, Bill Gates e Eike Batista – mas que, pelo desempenho prático de seu governo, é a estagiária que ainda apanha para desatarrachar a garrafa térmica do café.
No fundo, o que faz Mercadante, em escandalosos 1 minuto e 48 segundos, é ensinar Raupp a ludibriar a presidente. Porque, seguindo essa mesma fórmula de três etapas, pelo menos oito ministros — os seis que ela tentou salvar e não pôde e os dois aos quais deu sobrevida por boca-a-boca e massagem cardíaca – conseguiram ludibriar por meses a mulher que sabe tudo de tudo, mas ainda não fez quase nada.
ETAPA N° 1
Primeira lição da aula-show do curso “Como se comportar num despacho com a presidenta”, ministrado pelo professor Mercadante, em língua que parece simular a sintaxe presidencial:
“Toda vez que cê levá um projeto, um programa, a primeira fase vai sê de espancamento do projeto (risos). O projeto vai ser disconstituído (sic) em todas as suas dimensões e, se não tiver muito bem consistente, você vai ouvir a seguinte expressão: Ele não fica de pé (risos). Conselho que eu dou, Raupp: não insista (…), porque a vivência administrativa e de governança e de gestão, você não vai convencê-la e vai perder tempo tentando. Volte para casa, junte a equipe, trabalhe intensamente e volte a apresentá o projeto”.
Deve ter sido exatamente assim que ganharam vida, em caráter de emergência, os projetos que prometiam acabar com as enchentes da região serrana do Rio, em janeiro do ano passado – espancados com carinhosas palmadas pedagógicas, foram aprovados por Dilma com louvor, entusiasmo, dinheiro e entrevistas chorosas depois de sobrevoos de helicóptero. Todos pararam em pé. Pena que as casas, não.
ETAPA N° 2
Para os projetos que não pararam em pé de primeira, uma segunda lição do ministro que aprendeu as manhas de Dilma:
“Mas quando cê voltá, se o projeto já tiver de pé, cê pode ouvir uma segunda expressão: Tá de pé mas ocê não vai entregá (risos). É gravíssimo, Raupp, volte e se dedique, aí uma semana, um mês, pra prepará e entregá o projeto, com gestão on-line de tudo o que for definido e o monitoramento em todos os detalhes do projeto”
Dilma tem razão em sua descrença: depois de serem espancados e ficarem de pé, a maioria dos projetos só foram materializados com o esforço concentrado da equipe. O ministro Bezerra Coelho botou toda a família pra trabalhar neles, em sua pasta – tudo acompanhado on-line e monitorado pela presidente que sabe de tudo. Pena que, entregues, não foram cumpridos na prática – com exceção dos de Pernambuco. Mas todos foram pagos assim mesmo, para demonstrar o apreço que Dilma tem pela família, o “berço de tudo”.
ETAPA N° 3
Terceira lição, para o caso de o projeto enfim ter ficado de pé e ter sido entregue, mas ainda não tiver sido pago pelo governo:
“Depois que você tem segurança de que ele vai ficar de pé e que você vai entregá, não espere que haverá novos comentários do tipo: agora Raupp, é na nona casa decimal que nós vamos discutir o projeto. É agora que vai começar a discussão”.
Beleza. É assim que Dilma, zelosa da nona casa decimal, cuida da casa da nona. Evitando o desvio e o malfeito. Dá um pouco de trabalho e um pouco de chateação participar dessas discussões intermináveis sobre a “nona casa decimal”. Até o ministro Raupp, matemático de fama internacional, está preocupado – porque nem no quadro-negro conhecia esse número infinitesimal. Mas foi assim, contando microtostões, que, segundo Mercadante, a presidente Dilma decretou o fim da roubalheira no Brasil.
“É a mais profunda verdade. E essa atitude é a atitude de quem tem compromisso com o gasto público, quem quer eficiência, quem quer que cada real pago por esse povo seja aplicado naquilo que é absolutamente fundamental ao Brasil”.
Nessa fase “stand-up comedy” de seu discurso, com a plateia recheada de figurões do PT e de membros do ministério de Dilma, incluindo os dois Fernandos, Mercadante acabava de entrar no que um velho editorialista carioca costumava chamar de “o perigoso terreno da galhofa”.
https://storage.mais.uol.com.br/embed.swf?mediaId=12463014&ver=1