A inocência da onda foi provada por Raul Seixas há 36 anos. Falta identificar os culpados pela queda da ciclovia de R$ 45 milhões que acaba de engolir duas vidas
BRANCA NUNES Na década de 1980, ao ser “atropelado por uma onda” quando passava de carro pela Avenida Delfim Moreira, no Leblon, Raul Seixas resignou-se: “A onda está certa, o que está errado é esse negócio de aterro, botar edifício aí”. Passados 30 anos, nesta quinta-feira, pelo menos duas pessoas morreram depois que uma onda […]
BRANCA NUNES
Na década de 1980, ao ser “atropelado por uma onda” quando passava de carro pela Avenida Delfim Moreira, no Leblon, Raul Seixas resignou-se: “A onda está certa, o que está errado é esse negócio de aterro, botar edifício aí”.
Passados 30 anos, nesta quinta-feira, pelo menos duas pessoas morreram depois que uma onda atropelou ─ e destruiu ─ parte da ciclovia construída há menos de 3 meses entre os bairros de São Conrado e Leblon, no Rio de Janeiro. A obra engoliu R$ 45 milhões.
No local do acidente, Pedro Paulo Carvalho, secretário municipal de Governo do Rio, avisou que é cedo para identificar causas e falhas que possam esclarecer o episódio. “É muito precipitado nós fazermos qualquer tipo de acusação sem ter ainda o laudo dos engenheiros, mas é claro que um acidente como esse é imperdoável”.
Pode ser prematuro apontar as falhas técnicas que provocaram o acidente. Mas não há como qualificar de afoito quem responsabiliza o poder público por não ter projetado uma estrutura, localizada sobre um penhasco, capaz de neutralizar os efeitos de um fenômeno que precedeu a chegada dos primeiros seres humanos às praias cariocas.
Duas obviedades merecem registro. Primeira: liberar a ciclovia para uso público em dias de ressaca é coisa de irresponsável. Segunda: em países sérios, uma obra tão recente e tão cara não cai sem mais nem menos. Tais evidências informam que não será difícil chegar aos culpados. Para que as investigações não percam tempo com uma inocente, basta lembrar a lição de Raul Seixas: “A onda está certa”.