“Michel Temer vem aí” e outras cinco notas de Carlos Brickmann
Publicado na Coluna de Carlos Brickmann CARLOS BRICKMANN A política e a lei às vezes se movem devagar, mas seu movimento é incontível. A crise que empareda a presidente Dilma e seu governo não anda com a rapidez que alguns oposicionistas mais duros esperavam; mas parar, isso não parou. A primeira bomba estourou ontem mesmo: […]
Publicado na Coluna de Carlos Brickmann
CARLOS BRICKMANN
A política e a lei às vezes se movem devagar, mas seu movimento é incontível. A crise que empareda a presidente Dilma e seu governo não anda com a rapidez que alguns oposicionistas mais duros esperavam; mas parar, isso não parou. A primeira bomba estourou ontem mesmo: a decisão italiana de extraditar Henrique Pizzolato para o Brasil. Se Pizzolato preferir trocar alguns anos de prisão por coisas que ainda não contou ─ bem, ele era diretor de Marketing do Banco do Brasil e sabe tudo. Sua presença no Brasil pode ser ruim para muita gente.
Outras bombas explodem aos poucos, mas sem parar. O PMDB, dono dos votos que decidem o impeachment, se recusou a indicar ministros para Dilma. O PMDB, recusando cargos? Tem coisa esquisita aí. Não é coisa boa para quem oferece e se vê rejeitada. E o PT, partido do governo, opondo-se ao governo? Há pouco tempo, as principais entidades empresariais do país fizeram um manifesto “em defesa da governabilidade” ─ traduzindo, pró-Dilma. O banqueiro Roberto Setúbal elogiou a presidente. Hoje, Fiesp e Firjan, que reúnem indústrias de São Paulo e Rio, se colocam ao lado da oposição. Não, não falam em impeachment. Ainda não falam. E os banqueiros se mantêm em estrondoso silêncio.Lula promete viajar o país em defesa de Dilma, mas até agora só viajou do Instituto Lula para Brasília, ida e volta. Ele gostaria de afastar Aloizio Mercadante, não foi atendido. Há quem diga que está na mira de novas investigações, não se sabe. Mas não age com a desenvoltura de hábito. Está difícil para todo mundo.Somando tudoAmanhã, o IBGE deve anunciar o desemprego ─ tudo indica que cresceu. Ontem, o dólar ultrapassou os R$ 4,00; e o governo, consolidando o rompimento com as entidades empresariais e irritando o pagador de impostos com mais um ataque a seu bolso, enviou ao Congresso o projeto de recriação da CPMF. O pacote fiscal, que finge ser corte de gastos e é apenas aumento de impostos, nem entrou em votação, e é difícil que passe. Ibope e Datafolha já pesquisam a popularidade de Dilma ─ se cair ainda mais, dará um péssimo sinal ao PT. A situação está tão brava que, nos anúncios de rádio e TV do partido, Lula entra e Dilma não. Há tempo para mudar, porque os anúncios serão divulgados só na semana que vem. Mas até agora preferiram fazer sem ela. E, considerando-se que Dilma viaja amanhã e só volta na semana que vem, talvez haja anúncios sem panelaços.Frase terrívelO deputado pernambucano Jarbas Vasconcelos, do PMDB pernambucano, respeitado em todas as áreas por sua integridade, é duro ao analisar a situação: acha que Dilma cai, talvez em outubro, por impeachment ou renúncia. Completa: “Temos de nos livrar dessa praga antes do fim do ano. Ela está terminal”. Sobre Lula: “É uma quadrilha organizada e o Lula é quem comanda. Vocês têm dúvida de que Lula vai ser preso na Operação Lava Jato? Vai ser uma cena bonita”.A derrota de quem ganhaÉ difícil que Dilma se salve. Políticos experientes, cuja capacidade de antever o desenho do futuro já foi comprovada, disseram a este colunista que o governo Dilma acabou; e que ela não comerá o peru de Natal no Palácio da Alvorada. Mas seus maiores adversários, os comandantes do PMDB, também podem ser atingidos pelo furacão da Lava Jato. A Operação Nessun Dorma prendeu o lobista João Augusto Henriques. O lobista Fernando Baiano faz delação premiada. Ambos, afirma-se, sabem muito sobre o PMDB ─ o que inclui a cúpula do partido. Uns 300 anos antes de Cristo, o rei da Macedônia e de Épiro, Pirro, derrotou por duas vezes o cada vez mais poderoso Império Romano. Mas o custo foi tamanho que ele mesmo reconheceu: “mais uma vitória dessas e estou liquidado”.O PMDB corre esse risco: derrotar o grande adversário e perecer na festa.Como dizia FHCNos tempos de Itamar Franco, quando o presidente tinha algum compromisso oficial no Exterior, o ministro Fernando Henrique brincava: “A crise está viajando”. E não é que de novo a crise vai viajar? Dilma vai amanhã para os Estados Unidos, onde participa, na sexta, da Cúpula de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Na segunda, abre, como é da tradição, a Assembléia Geral da ONU. Tudo bem, faz parte da função presidencial. Mas será que a presidente vai resistir ao apelo do aluguel de limusines e de suítes milionárias dos hotéis mais estrelados da cidade? Na sua última viagem aos EUA, a presidente gastou mais de US$ 100 mil só no aluguel de limusines para ela e sua luzida comitiva.Erro essencial de pessoaA guerrilha do PT está voltada contra Aécio Neves e contra, claro, Fernando Henrique. O objetivo é simples: simular algo que pareça um movimento de opinião pública, uma tentativa de criar uma verdade a partir de um falso consenso. Mas tudo indica que não é só o consenso que é falso: Fernando Henrique não é candidato; e Aécio não conseguiu ainda uma posição preponderante no partido. Dos atuais tucanos, o candidato mais provável, hoje, é o senador José Serra, que se articula com Temer e o PMDB e procura colocar-se no governo de Temer, após a queda, que considera inevitável, de Dilma. Seria o candidato do PMDB.