Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Augusto Nunes Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Coluna
Com palavras e imagens, esta página tenta apressar a chegada do futuro que o Brasil espera deitado em berço esplêndido. E lembrar aos sem-memória o que não pode ser esquecido. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

‘Sem disfarce nem miopia’, por Fernando Henrique Cardoso

PUBLICADO NO ESTADÃO DESTE DOMINGO FERNANDO HENRIQUE CARDOSO As forças governistas, depois de precipitarem a campanha eleitoral, voltaram ao diapasão antigo: comparar os governos petistas com os do PSDB. Chega a ser doentio! Será que não sabem olhar para a frente? As conjunturas mudam. O que é possível fazer numa dada fase muitas vezes não pode […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 06h45 - Publicado em 4 mar 2013, 15h51

PUBLICADO NO ESTADÃO DESTE DOMINGO

"Na cartilha de exaltação aos dez anos do PT no poder, com capa ao estilo realismo socialista e Dilma e Lula retratados como duas faces de uma mesma criatura, a História é reescrita para fazer as estatísticas falarem o que aos donos do poder interessa"

“Na cartilha de exaltação aos dez anos do PT no poder, com capa ao estilo realismo socialista e Dilma e Lula retratados como duas faces de uma mesma criatura, a História é reescrita para fazer as estatísticas falarem o que aos donos do poder interessa”

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

As forças governistas, depois de precipitarem a campanha eleitoral, voltaram ao diapasão antigo: comparar os governos petistas com os do PSDB. Chega a ser doentio! Será que não sabem olhar para a frente? As conjunturas mudam. O que é possível fazer numa dada fase muitas vezes não pode ser feito em outra; políticas podem e devem ser aperfeiçoadas.

Porém, na lógica infantil prevalecente, em lugar de se perguntar o que mudou no País em cada governo, em que direção e com qual velocidade, fazem-se comparações sem sentido e imagina-se que tudo começou do zero no primeiro dia do governo Lula. Na cartilha de exaltação aos dez anos do PT no poder, com capa ao estilo realismo socialista e Dilma e Lula retratados como duas faces de uma mesma criatura, a História é reescrita para fazer as estatísticas falarem o que aos donos do poder interessa. Nada de novo sob o sol: é só lembrar dos museus soviéticos que borravam nas fotos os rostos dos ex-companheiros caídos em desgraça…

Continua após a publicidade

O PSDB não deve entrar nessa armadilha. É melhor olhar para a frente e deixar as picuinhas para quem gosta delas.

Quanto ao futuro, o governo está demonstrando miopia estratégica.

Depois de quatro anos iniciais de consolidação da herança bendita, a política econômica teve de reagir ao violento impacto da crise de 2007/2008. Foi necessário, sem demora, expandir o gasto público, desonerar setores produtivos, ampliar o crédito por intermédio dos bancos públicos, etc.

Em situações extraordinárias, medidas extraordinárias. Mas o cachimbo foi entortando a boca: a discricionariedade governamental tornou-se a regra desde então.

Continua após a publicidade

Com isso, a credibilidade do Banco Central foi posta em xeque, a transparência das contas públicas também. Cresceram as dúvidas sobre a inflação futura e sobre o compromisso do governo com a responsabilidade fiscal.

Não há que exagerar na crítica: por ora, o trem não descarrilou.

Mas as balizas que asseguraram crescimento com estabilidade – câmbio flutuante, metas inflacionárias e responsabilidade fiscal -, mesmo ainda em pé, se tornam cada vez mais referências longínquas. A máquina governamental está enguiçada, como o próprio governo sente, e sua incapacidade para consertá-la é preocupante. Os expedientes utilizados até agora com o propósito de acelerar o crescimento deram em quase nada (o pibinho).

Na ânsia de acelerar a economia, o governo beijou a cruz e apelou para as concessões (portos, aeroportos, estradas) e mesmo privatizações (de partes da distribuição energética). Mas a viseira ideológica, o hábito de se fecharem pequenos grupos, a precariedade gerencial não permitem dar efetividade a decisões que ferem o coração de suas crenças arcaicas.

Continua após a publicidade

Enquanto a China puxar as exportações de matérias-primas e de alimentos, tudo se vai arranjando.

Mesmo assim, a produção industrial torna-se menos competitiva e perde importância relativa no processo produtivo.

A balança comercial já deixou de ser folgada, mas com o financiamento estrangeiro as contas vão fechando.

No curto prazo, tudo bem. Em prazo mais longo, volta a preocupar o fantasma da “vulnerabilidade externa”.

Continua após a publicidade

Já se veem no horizonte sinais de retomada na economia mundial.

Não me refiro a uma incerta recuperação do emprego e do equilíbrio fiscal, este em alguns países da Europa, aquele nos Estados Unidos. Refiro-me ao que Schumpeter salientava para explicar a natureza do crescimento econômico, uma onda de inovações.

Provavelmente serão os Estados Unidos que capitanearão a nova investida capitalista mundial. O gás de xisto e os novos métodos de extração de petróleo tornarão aquele país a grande potência energética. Junto com ele, Canadá, México, Argentina e Brasil podem ter um lugar ao sol. De ser isso verdade, uma nova geopolítica se desenha, com, por um lado, um polo chinês-asiático e outro americano.

Isso num contexto político e cultural que não aceita hegemonias, no qual, portanto, a multiplicidade de polos e subpolos requer uma nova institucionalidade global.

Continua após a publicidade

Diante disso, como ficará o Brasil: pendendo para a Alba (Aliança Bolivariana para as Américas), de inspiração chavista? À margem da nova aliança atlântica proposta pelos Estados Unidos que, por agora, contempla apenas a América do Norte e a Europa? Iremos fortalecer nossos laços como mundo árabe longínquo, ou este terminará por se aconchegar na dupla formada pela China e pela Índia, ambos países carentes de energia? E como nos situaremos na dinâmica da nova fase do capitalismo global? Ao que eu saiba, ela continuará dependendo do aumento contínuo de produtividade para assegurar as bases do bem-estar social (que não será decorrência automática disso, mas de políticas adequadas). Como, então, querer acelerar o crescimento utilizando truques e maquiagens,do tipo subsídios tópicos, exceções de impostos setoriais, salvamento de empresas via hospital BNDES ou Caixa Econômica? Quando o PSDB fez o Plano Real, percebeu as oportunidades que se abriam para o Brasil com a globalização, desde que ajustássemos a economia e iniciássemos políticas de inclusão social. Na época o PT não entendeu do que se tratava.

Queria dar o calote da dívida externa e sustentava o inadequado programa Fome Zero, que jamais saiu do papel. Foram as bolsas que o PSDB introduziu que salvara mo PT quando este, tardiamente, se deu conta de que era melhor fazer uma política de transferência direta de rendas. Em geral, aferrou-se à ideia de que a globalização seria uma ideologia – o neoliberalismo -, e não a maneira contemporânea de organizar a produção com base em novas tecnologias e novas normas.

Não estará o PT repetindo o equívoco, com uma leitura míope do mundo e distorcida do papel do Estado? A resposta cabe ao governo.

Ao PSDB cumpre oferecer a sua visão alternativa e um programa contemporâneo que amplie as possibilidades de realização pessoal e coletiva dos brasileiros.

Sem esquecer o passado, mas com os olhos no futuro.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.