‘Nelson Rodrigues ao telefone’, uma crônica de Arnaldo Jabor
Publicado no Globo desta terça-feira ARNALDO JABOR Quando fico angustiado com as notícias brasileiras, ligo para o Nelson Rodrigues. Ele me dá bons conselhos lá do céu de papelão, entre nuvens de algodão e estrelas de papel prateado — seu paraíso é um cenário de teatro de revistas. O telefone toca como uma trombeta suave. […]
Publicado no Globo desta terça-feira
ARNALDO JABOR
Quando fico angustiado com as notícias brasileiras, ligo para o Nelson Rodrigues. Ele me dá bons conselhos lá do céu de papelão, entre nuvens de algodão e estrelas de papel prateado — seu paraíso é um cenário de teatro de revistas. O telefone toca como uma trombeta suave.
Ele já sabe quem é:
— Você, hein? Só me liga quando está encalacrado.
— Estou mesmo, Nelson, mas não sei se sou eu ou o Brasil.
— Deixa de frases, rapaz, você e o Brasil são a mesma coisa. O Brasil não é feito de florestas e cachoeiras. O Brasil é uma região dentro de nossas cabeças. Você é o Brasil. Levaram séculos para aperfeiçoar nosso atraso e você me vem com essa. Subdesenvolvimento não se improvisa. É uma obra de séculos.