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Augusto Nunes

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‘Estamos, sim, atrasados para a Copa’, um artigo de Carlos Alberto Sardenberg

TEXTO PUBLICADO NO GLOBO DESTA QUINTA-FEIRA Carlos Alberto Sardenberg O governo diz que está tudo em dia para a Copa, mas não é essa a impressão que se recolhe das conversas com os setores privados diretamente envolvidos. Aqui, há três tipos de preocupação: falta de planos, definições e regulamentações; atrasos em planejamento e obras; e […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 10h45 - Publicado em 15 set 2011, 20h41

TEXTO PUBLICADO NO GLOBO DESTA QUINTA-FEIRA

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Lula visita as obras do Itaquerão

Carlos Alberto Sardenberg

O governo diz que está tudo em dia para a Copa, mas não é essa a impressão que se recolhe das conversas com os setores privados diretamente envolvidos. Aqui, há três tipos de preocupação: falta de planos, definições e regulamentações; atrasos em planejamento e obras; e indefinição em relação ao pós-Copa.

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Foram justamente esses os pontos destacados por diversos representantes do setor de Telecomunicações e Tecnologia da Informação, reunidos em São Paulo no evento Futurecom, nesta semana. Muitos manifestavam surpresa com a promessa da presidente Dilma de que a tecnologia de celulares 4G, de altíssima velocidade, estará funcionando no Brasil nas cidades da Copa.

Acontece que esse sistema (com o nome técnico de LTE) nem está regulamentado. Com sorte e rapidez, se tudo der certo, o pessoal do setor acredita que o leilão para a concessão de faixas 4G só poderá ser realizado a partir de abril de 2012. Além disso, a implantação exige pesados investimentos, em um momento em que as operadoras ainda nem conseguiram recuperar o que aplicaram nas redes 3G, aliás, não totalmente implantadas.

Disse a presidente que a Telebrás, a estatal do setor, já está autorizada a investir R0 milhões na infraestrutura das cidades da Copa. Mas esse dinheiro não dá nem para o começo.

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Ou seja, a presidente prometeu um sistema para o qual o próprio governo ainda não definiu a regulamentação. Além disso, essas regras dependem de legislação específica, para a qual não há projeto. Obviamente, isso impede qualquer planejamento da parte das (muitas) empresas interessadas no negócio. Havia dúvidas ali entre especialistas no Futurecom: a presidente Dilma teria se equivocado na sua promessa? Ou teria recebido informações equivocadas? De todo modo, não há como fugir à conclusão de que o governo anda meio perdido no que se refere às telecomunicações para a Copa, que constituem um imenso desafio.

A transmissão dos jogos para TV será por alta definição, em todas as cidades. Milhares de jornalistas, de turistas estrangeiros e brasileiros chegarão aos estádios portando smartphones e câmeras para registrar suas imagens e enviá-las no ato para os amigos. E todos precisarão usar celulares e computadores com banda larga por toda parte, não apenas nos estádios e suas redondezas. Não precisa ser técnico para imaginar o tamanho do esforço e do investimento. Todo o pessoal do setor diz que dá para fazer, mas que é preciso organizar e definir isso tudo urgentemente.

Todo esse planejamento depende também de se saber como será o pós-Copa. Quer dizer: monta-se uma ampla e avançada estrutura para a Copa; e o que se faz com ela quando o pessoal for embora?

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Se não houver demanda doméstica para a utilização desse sistema, é prejuízo na veia. Ora, no momento, não há condições de aparecer essa demanda, porque está tudo muito caro no Brasil, dos equipamentos e aparelhos aos serviços. O sistema vai oferecer a velocidade do 4G, mas os celulares para isso estarão a preços inacessíveis para a classe média, como são caros hoje os aparelhos 3G.

Nesse quadro, as companhias só farão os investimentos se tiverem a garantia de que serão remuneradas pelo governo. É outra coisa que está no ar.

E há precedentes negativos. A operadora dos Jogos Militares, a Tim, antecipou tecnologias, levou rede para locais antes não atendidos e o que aconteceu? Metade dessa infraestrutura está lá, ociosa.

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O governo poderia criar demanda doméstica promovendo uma acentuada redução de preços. Como? Reduzindo os pesados impostos que incidem em todo o setor, dos investimentos ao consumo. O governo federal anunciou exoneração e redução de carga para certos investimentos, mas não basta porque os impostos são exageradamente elevados. Além disso, o principal imposto é estadual (ICMS) e os governadores não parecem dispostos a abrir mão da receita.

Sem contar que em Brasília só se fala no contrário – em aumentar impostos. E, então, não é um caso de atraso geral?

De novo, o pessoal do setor insiste que não há nada perdido. Dá para correr, mas fica cada vez mais difícil, mais improvisado e, pois, mais caro.

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Por trás dessa história, há uma questão essencial de política e economia. Para qualquer lado que se vá, a situação é a mesma: impostos elevados e juros altos bloqueiam investimentos e consumo. O governo confessa isso toda vez que apresenta um plano de estímulo de algum setor: promete isenções de impostos e juros subsidiados.

Só que isso custa dinheiro, o que leva o governo a buscar recursos em outros setores. Termina que todo mundo paga caro para que alguns possam receber benefícios.

Além disso, é crescente a demanda por mais gasto público, a ser pago com mais impostos.

Não fecha. E, pior de tudo, nem temos uma seleção ganhadora.

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