Os bilionários da indústria digital querem comprar toda a mídia?
Em A Origem dos Bytes, entenda por que essa tendência pode ser perigosíssima
No mês passado, Marc Benioff, bilionário (com 6,6 bilhões de dólares) fundador da desenvolvedor de softwares Salesforce, e sua esposa, Lynne, compraram a tradicional revista estadunidense Time por 190 milhões de dólares. No ano passado, uma organização chefiada pela bilionária Laurene Powell Jobs, viúva de Steve Jobs (criador da Apple), adquiriu uma boa parte da revista e site The Atlantic. Em 2013, Jeff Bezos, o homem mais rico do mundo, chefão da Amazon, levou o jornal The Washington Post. Esses são apenas os casos mais conhecidos de bilionários da indústria digital comprando veículos de mídia. Por que eles estão tão interessados nesse setor?
Antes de continuar, alguns outros exemplos. Patrick Soon-Shiong, bilionário do mercado de biotecnologia, adquiriu o Los Angeles Times, o San Diego Union-Tribune e outros jornais menores. Chris Hughes, cofundador do Facebook, também investiu na área. E uma gigante japonesa ligada a tecnologia da informação também foi às compras, pegando o novato, mas já celebrado, site Quartz. A lista se estende. Será que a tendência chegará à América Latina?
Quando questionados sobre as aquisições, os bilionários costumam dar respostas similares. Giram em torno da justificativa de que estariam entrando no campo da mídia por quererem fortificar agentes importantes do chamado quarto poder. O posicionamento faz sentido, visto que o interesse não poderia ser estritamente nos negócios, em si. Afinal, a maioria dos jornais, sites e revistas vendidos só davam prejuízos.
No entanto, é preciso ter um pouco de desconfiança. As intenções desses bilionários podem, sim, ser das melhores. Só que vale uma pergunta: eles não estariam mais interessados é no controle do fluxo de informações em seus respectivos países?
Não haveria problema algum nisso, no ato de querer um jornal para chamar de seu, se não fosse um detalhe. Esses bilionários já controlam, em quase todos os casos – incluindo aí, por exemplo, Benioff e Bezos –, as plataformas pelas quais mais se tem acesso a conteúdo, a informação, hoje em dia. Seja de forma indireta (no caso de Benioff), ou direta (com Bezos e sua loja de tudo Amazon).
Está se construindo assim um cenário inédito. Um no qual as mesmas pessoas que devem controlar ao menos uma grande e significativa parte da mídia serão as mesmas que dominam o meio pela qual essas mesmas se disseminam. Ou seja, esses ricaços, além de serem donos da influência concedida por suas próprias fortunas, também ditarão a forma como a informação é apurada, divulgada, distribuída e consumida. Estarão, portanto, por trás de toda a cadeia que envolve a indústria da mídia.
Antes, havia um rico na cabeça de cada braço desse mercado, diversificando-o. Talvez não tarde para ter somente um (Bezos?) no controle de tudo. Comece a refletir sobre a gravidade desse cenário. Para servir de inspiração para os pensamentos, recomendo ver uns episódios de Black Mirror (no Netflix) ou de Philip K. Dick’s Electric Dreams (Amazon Prime).
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