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Turismo no espaço: você ainda vai tirar uma selfie inesquecível

Fazer uma “caminhada” e tirar uma foto com a Terra de fundo deixarão de ser privilégios de astronautas profissionais

Por Alexandre Senechal Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 3 jul 2020, 12h31 - Publicado em 3 jul 2020, 06h00

“Aqui Almaz-1. O homem saiu para o espaço.” A frase dita pelo cosmonauta soviético Pavel Belyayev (1925-1970) pode não ter entrado para a história como a grandiosa e ensaiada divisa do americano Neil Arm­strong (1930-2012) ao pisar na Lua: “Um pequeno passo para o homem, mas um grande salto para a humanidade”. Mas foi um indelével registro da primeira “caminhada espacial” (assim mesmo, entre aspas, por ter sido sobretudo uma flutuação). As palavras de Belyayev descreviam a saída da cápsula Voskhod-2 feita por seu companheiro de viagem, Alexei Leonov (1934-2019), em março de 1965. Ao celebrar a cena inédita para olhos humanos, Leonov soaria poético. Descreveu o espaço como “um escuro profundo, com estrelas em todas as partes e um Sol que brilhava de forma ofuscante”.

Desde então, somente 229 astronautas de dezenove países tiveram o privilégio de caminhar no espaço — e outros doze, incluindo Arm­strong, puseram os pés em solo lunar. Em 2023, porém, o exclusivíssimo grupo poderá ganhar a companhia de um cidadão comum, um cidadão qualquer, o primeiro astronauta civil a sair da Estação Espacial Internacional (conhecida mundialmente pela sigla em inglês ISS). Trata-se do mais novo capítulo da exploração turística do espaço sideral. Um acordo divulgado no último dia 25 entre a Roscosmos, agência espacial da Rússia, e a empresa americana Space Adventures, responsável por vender com exclusividade viagens ao espaço por meio das sondas russas Soyuz, proporcionará a experiência. A expedição de catorze dias terá a presença de dois tripulantes civis, mas apenas um deles poderá sair da ISS — acompanhado de um tripulante experiente, claro. “É um imenso avanço na exploração privada do cosmo”, comemorou o CEO da Space Adven­tures, Eric Anderson. Embora nenhum civil tenha caminhado no espaço, desde 2001 outros sete passageiros já puderam sentir a adrenalina de ser enviado para a órbita de nosso planeta. O empresário americano Dennis Tito investiu 20 milhões de dólares e foi o primeirão. O mais recente foi o canadense cofundador do Cirque du Soleil Guy Laliberté, ao custo de 35 milhões de dólares.

A Roscosmos não divulgou os valores que os interessados deverão desembolsar, mas certamente será uma fortuna. A título de referência, a Nasa pagou 80 milhões de dólares à Roscosmos por cada assento no foguete russo, a única forma de levar astronautas americanos para a ISS na última década. A Space Adventures disse em comunicado que “os candidatos aceitos deverão concluir o treinamento especializado e simulações adicionais de preparação”. Ir para o lado de fora da espaçonave é um procedimento complexo e exige horas de treinamento intensivo. Afinal, é uma operação arriscada até mesmo para quem é pago para estar lá — na semana passada, o astronauta americano Chris Cassidy deixou escapar um pequeno espelho enquanto fazia um reparo no exterior da estação espacial. Agora, o objeto de 7 por 12 centímetros viaja a mais de 28 quilômetros por hora no espaço — estima-se que 50 000 pedaços de lixo espacial circundem a Terra. Esses fragmentos de satélites e outros objetos (como o espelho) podem ser perigosos para os terráqueos.

Embora evidentemente cuidadosa, a ocupação privada do espaço exigirá cada vez mais atenção — não se trata de dizer que já estamos lá, ainda não, mas nunca se esteve tão perto. No mês passado, a SpaceX, do empresário Elon Musk, dono da montadora de automóveis Tesla, pôs os Estados Unidos na rota dos voos tripulados com a sonda Crew Dragon. A Boeing também entrou no mercado e está desenvolvendo o próprio foguete, o CST-100 Starliner, para atender à demanda da Nasa. A empresa de Musk deu um passo além: agora também vende assentos para um voo turístico que dará uma volta na Lua, ainda sem data para ocorrer.

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Se os Estados Unidos se mexem, os russos andam ouriçados, em ensaio de nova guerra fria nos ares. O turismo espacial é prioridade do neoczar Vladimir Putin. A parceria da Roscosmos com a Space Adventures enviará dois novos visitantes à estação espacial já no ano que vem (mas que não terão o privilégio de sair da ISS). No ano passado, o banco suíço UBS divulgou um relatório sobre o potencial econômico desse mercado: até 2040, deve movimentar 1 trilhão de dólares — quase o triplo dos 340 bilhões de dólares atuais. É mais um grande salto para a humanidade, agora em nome de bons negócios, diversão e lucratividade.

Publicado em VEJA de 8 de julho de 2020, edição nº 2694

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