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Trump e o temor de uma ‘guerra fria’ contra a ciência

Medidas que silenciam as agências ambientais, aliadas às opiniões do presidente sobre o aquecimento global, despertam preocupação na comunidade científica

Por Da Redação 30 jan 2017, 19h48

Não são poucos os atritos de Donald Trump em seu início de mandato. O atual presidente americano e ex-apresentador de reality show já declarou guerra à imprensa, brigou (e fez as pazes) com o setor de inteligência e atraiu críticas de quase toda a comunidade internacional por sua política de barrar refugiados. Com tanta notícia em poucos dias, uma outra rusga de Trump  acabou ofuscada. Desde sua posse, o republicano vem tomando uma série de medidas que tem preocupado a comunidade científica. Sob Trump, agências ambientais ligadas ao governo sofreram congelamento de gastos, censura prévia na divulgação de dados e cancelamento de eventos. Embora medidas assim não sejam inéditas em uma transição presidencial, o histórico do novo mandatário – que já chamou o aquecimento global de “farsa criada pela China para prejudicar a indústria americana” – desperta temor de que o governo Trump inicie uma “guerra fria” contra a ciência.

Na última semana, a nova administração ordenou o congelamento temporário de gastos da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA, na sigla em inglês) e a proibiu de produzir novos releases, posts nas redes sociais ou qualquer conteúdo para os sites oficiais até segunda ordem. As demandas da imprensa devem passar pela nova equipe do Escritório de Relações Públicas (OPA, na sigla em inglês).

Todos os contratos e concessões do órgão também foram momentaneamente suspensos e pelo menos outros três departamentos americanos (Interior, Agricultura e Saúde e Saúde e Serviços Humanos) receberam as mesmas instruções quanto à imprensa. Funcionários foram alertados com as novas instruções por e-mail na última segunda-feira. Algumas seções dedicadas a proteção ambiental também foram excluídas dos sites da Casa Branca e do Departamento de Estado.

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Em outra decisão criticada, o governo cancelou abruptamente uma conferência do Centro para Controle de Doenças (CDC, na sigla em inglês) que discutiria os riscos das mudanças climáticas à saúde. Para preencher a lacuna, o ambientalista e ex-vice-presidente Al Gore organizou um evento com a mesma pauta de discussão, mas sem a presença da CDC. E deu uma indireta em Trump: “Hoje nós enfrentamos um clima político desafiador, mas o clima não deveria ser uma questão política”.

Na terça, a conta oficial do Serviço Nacional de Parques (NPS na sigla em inglês) no Twitter, ao contrário da recomendação do governo, divulgou diversas informações e dados sobre o aquecimento global, além de um retuíte da comparação entre as posses de Trump e Barack Obama. Em seguida, os posts foram deletados e um porta-voz da Casa Branca disse que eles eram obra de um antigo funcionário que ainda tinha acesso à conta.

Print Forbes
(Reprodução)
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(Reprodução)

Em reação ao controle do novo presidente, foram criadas diversas contas não-oficiais de órgãos americanos no Twitter. Em suas descrições, elas dizem resistir ao silenciamento de Trump e veiculam fatos científicos que evidenciam o Aquecimento Global. A conta ‘rebelde’ do Serviço Nacional de Parques já alcançou 1.300.000 seguidores, a da Agência de Proteção Ambiental tem 257.000 e a da Nasa, mais de 766.000.

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“A mudança climática é real, Trump. Você precisa lidar com ela agora, ou terá os problemas que ela gera como o seu legado, tanto no presento como para gerações futuras”

“Obrigada por apoiar a EPA. Essa agência opera de maneira mais eficiente com transparência. Uma ordem de mordaça não favorece a comunicação”

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“Retuíte se no lugar de uma parede, nós devemos dobrar o orçamento da Nasa. Nossa divisão de ciência terrestre está à frente de toda a pesquisa climática”

Apesar da forte comoção que as recomendações do governo Trump provocaram, antigos funcionários dessas agencias disseram ao jornal The New York Times que as medidas não foram muito diferentes das do início do governo Obama, durante o processo de transição. Eles alegam que a reação foi exagerada, sendo natural que estudos e análises de cada órgão sejam feitos antes de seguir com ações.

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Mesmo assim, esses funcionários se dizem preocupados com as declarações do novo presidente em sua campanha, na qual declarou que o conceito de aquecimento global causado pelo aumento na emissão de gás carbônico pelo homem foi inventado pelos chineses para enfraquecer a indústria americana. Ele também disse que tiraria os Estados Unidos do Acordo de Paris, pacto universal para conter o aumento da temperatura global. Depois que tomou posse, Trump adotou um discurso mais ameno e afirmou que estuda o assunto e tem a mente aberta para o acordo.

“Essa cara mentira que é o aquecimento global precisa parar. Nosso planeta está esfriando, com recorde de temperaturas negativas e nossos cientistas do assunto estão presos no gelo.”

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A ‘guerra fria’ de Trump contra a ciência

Antes mesmo de assumir o governo, Donald Trump já alarmava a comunidade científica com suas declarações e nomeações para chefias das agências ambientais. Para a Agência de Proteção Ambiental, o escolhido foi Scott Pruitt, crítico da regulação ambiental federal dos EUA e oponente às medidas de Obama para combate às mudanças climáticas.

Logo na primeira semana, o novo presidente dos Estados Unidos aprovou a construção de dois oleodutos que cortam a América do Norte. Eles haviam sido barrados no governo Obama em função de forte pressão de grupos ambientalistas.

Em protesto, sete ativistas do Greenpeace escalaram e penduraram, na última quarta-feira, uma enorme faixa escrito “Resist” (Resista, em inglês) em um guindaste atrás da Casa Branca. A organização disse que o ato simboliza a resistência às posições de Trump, não só sobre as mudanças climáticas, mas também ao racismo, misoginia, homofobia e intolerância que, segundo o grupo, o novo governo representa. Os manifestantes foram presos e a polícia de Washington classificou o incidente como perigoso e ilegal.

Greenpeace
Greenpeace protesta contra Trump com enorme faixa perto da Casa Branca em Washington (SAUL LOEB/AFP)
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