Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

“Sem animais, não há pesquisa científica na área da saúde”

A FeSBE 2010 termina defendendo o uso de animais em pesquisas científicas

Por Marco Túlio Pires, de Águas de Lindóia
Atualizado em 6 Maio 2016, 17h15 - Publicado em 30 ago 2010, 09h38

“Utilizar animais é preservar a integridade humana”

“Qualquer medicamento que existe nas farmácias foi testado em animais durante as pesquisas científicas. Sem eles, seria quase impossível avançar rapidamente nas pesquisas”

Marcelo Morales

Em 2008, depois de 15 anos tramitando no Congresso Nacional, foi aprovada a Lei Arouca, que permite a utilização de animais em pesquisas científicas desde que eles sejam poupados ao máximo de sofrimento. Com a aprovação da lei, foi criado o Conselho Nacional de Experimentação Animal (Concea), com o objetivo de reforçar as normas da lei. A 25ª FeSBE, que ocorreu entre os dias 26 e 28 de agosto em Águas de Lindóia, São Paulo, terminou com uma mensagem clara de que o Brasil precisa mudar sua atitude com relação ao tratamento a esses animais. VEJA.com falou com Marcelo Morales, membro do Concea, presidente da Federação Latino Americana de Sociedades de Biofísica e presidente da comissão de ética com animais da UFRJ. Ele é um dos responsáveis por divulgar a nova política brasileira com relações a esses animais.

FeSBE 2010

Falta de sono pode causar impotência sexual

Pacientes com câncer terão tratamento personalizado no futuro

Pesquisadores tentam curar o enfisema com células-tronco

Subnutrição da mãe afeta saúde do filho para toda a vida

Continua após a publicidade

Nanotecnologia brasileira contra segunda maior causa de morte em transplantes de coração

Droga utilizada há 20 anos no Brasil pode ajudar no combate ao diabetes tipo 2

Marcelo Morales ()
Continua após a publicidade

Como está a situação do Brasil na questão da utilização de animais em pesquisas científicas, em comparação com outros países? É difícil dizer. Não sabemos quantos biotérios [local onde os animais são acondicionados] existem, quantas instituições fazem pesquisas com animais, quantas comissões de ética existem, e assim por diante. Estamos buscando o que já existe em países desenvolvidos, ou seja, uma fotografia de tudo que está sendo feito com esses animais. Em breve, teremos um cadastro nacional, no qual todas as instituições que utilizam animais em pesquisa científica, todas as comissões de ética locais e todos os biotérios terão de estar registrados. Assim, teremos um controle muito melhor do que acontece no país. Por que é tão importante utilizar animais em pesquisas científicas? A pesquisa científica na área da saúde depende, em grande parte, desses animais. Eu diria com grande certeza que é quase impossível a pesquisa científica na área da saúde acontecer sem a utilização deles. E será quase impossível não utilizarmos animais no futuro. É claro que temos que lutar por métodos alternativos, mas será muito difícil deixar de usar animais. O que podemos fazer é, sempre que possível, reduzir o número de animais e sempre nos preocuparmos com o bem-estar deles. Quando utilizamos animais na pesquisa, é como se estivéssemos realizando um procedimento cirúrgico em um ser humano. Nós, humanos, não sofremos durante as cirurgias porque somos anestesiados e não sentimos nada. A mesma coisa precisa se passar com os animais. Onde estaria a medicina se não fossem esses animais? Não teríamos grandes avanços, com certeza. Todos os avanços na área da medicina existem graças à experimentação com o animal. Estaríamos fazendo testes em seres humanos, mas tudo seria bem mais lento. O ponto importante é que um ratinho, por exemplo, tem um período de vida muito curto, um ano. Ele mimetiza, em um ano, a vida inteira de um ser humano – infância, adolescência, fase adulta e envelhecimento. Por isso, podemos testar e comparar com o que aconteceria em um ser humano. É por causa disso que o avanço é grande e rápido. Há 40 anos, tínhamos uma expectativa de vida muito menor. Hoje, parte desse aumento da perspectiva de vida aconteceu por causa dos avanços na área da saúde. E isso só foi possível com a experimentação animal. Porque não testamos em seres humanos primeiro? Temos sempre que preservar a integridade humana. Estamos lutando não só pela saúde humana, mas também pelos próprios animais. Colocar em risco um ser humano é uma responsabilidade muito grande. Um novo procedimento sempre apresenta grandes riscos. Por isso o teste com animais é importante. Dependemos dos animais para para alimentação e dependemos deles na pesquisa científica. O mais importante é a que haja uma preocupação com o bem-estar animal. Ou seja, não fazer crueldades ou qualquer tipo de coisa que possa fazê-los sofrer. Utilizar animais é preservar a integridade humana. Se os resultados dos testes são positivos em animais, é muito provável que o resultado também será positivo em seres humanos, devido à semelhança genética que existe entre o homem e os camundongos, ratos e coelhos. Mas isso não quer dizer que se um procedimento novo, como o das células-tronco, deu certo no animal, ele terá sucesso nos seres humanos. Se isso aconteceu, temos que realizar testes para saber se o procedimento é seguro no ser humano e depois saber se é eficaz. São passos que temos que dar, tanto na pesquisa de novos remédios, como no desenvolvimento de novas tecnologias na área da saúde. Qualquer medicamento que existe nas farmácias foi testado em animais durante as pesquisas científicas. Sem eles, seria quase impossível avançar rapidamente nas pesquisas. Qual é a decisão que o pesquisador toma, o que passa na cabeça dele quando ele está sacrificando algum animal? Como isso afeta o trabalho dele? É como se eu estivesse fazendo uma cirurgia em uma pessoa. Tenho que verificar todos os parâmetros para que o animal não sofra. Se eu tiver que, ao final da experiência, sacrificar o animal, que o sacrifício desse animal seja humanitário e que ele não sofra também. Além disso a dor no animal ou qualquer tipo de stress pode causar uma série de modificações fisiológicas que interferem nos resultados da pesquisa. Primeiro, o respeito aos animais, como respeitamos os seres humanos, depois, o comprometimento com a pesquisa. Como os jovens pesquisadores encaram a pesquisa com animais? Temos que aprender a respeitar nossos limites. Alguns alunos não gostam de ver o animal sendo aberto mesmo sabendo que ele não está sofrendo. Contudo, os alunos precisam saber que o animal não sofre. Como vocês tem certeza de que eles não sofrem? Por que existem vários parâmetros para nos certificarmos disso. Sabemos pelos mesmos motivos que sabemos que os seres humanos não sofrem. Ou seja, por meio das doses de anestesia e, depois da cirurgia, com analgésicos. Fazemos testes antes de realizar qualquer procedimento, certificamos de que ele está desacordado e não está sentindo dor. Além disso, o aluno precisa entender que ele escolheu ser um pesquisador da área de saúde. Ele tem que saber que ele depende dos animais para desenvolver pesquisa científica. Contudo, sabendo que precisamos substituir o animal sempre que possível. Por exemplo, podemos utilizar células cancerígenas em cultura e ver se um novo medicamento irá acabar com as células. Mas em um segundo momento, será que esse medicamento, quando injetado em um ser humano, não irá levá-lo à morte? Então, em algum momento, temos que fazer os testes com animais. É a nossa realidade como profissional. E qual é a mensagem que a FeSBE deixa com relação à experimentação animal? Agora, o Brasil muda a partir de uma lei. Toda pesquisa animal estará sujeita a lei e será respeitada. A ética existia, mas hoje ela é lei. O Estado brasileiro é responsável pelos animais utilizados em pesquisa científica. Portanto, nós, pesquisadores, temos que zelar pelo bem estar deles.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.