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“Revelar a estrutura do zika tornará mais fácil produzir uma vacina contra a doença”

Na última semana, especialistas desvendaram a estrutura do zika em um estudo na revista 'Science'. Nessa entrevista, Michael Rossman, um dos líderes do estudo, explica o significado da descoberta para o combate ao vírus

Por Rita Loiola Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 9 Maio 2016, 14h44 - Publicado em 4 abr 2016, 19h38

Na última semana, uma equipe de pesquisadores liderada pela Universidade Purdue, nos Estados Unidos, revelou, pela primeira vez, a estrutura molecular do vírus zika. O estudo, publicado na revista Science, é peça crucial para o combate à doença. Apesar de ter sido descoberto há mais de 60 anos, a falta de conhecimento sobre a biologia do microrganismo e de seu mecanismo de ação é um dos maiores obstáculos para o desenvolvimento de um diagnóstico confiável, tratamento e de uma futura vacina. De acordo com Michael Rossman, diretor do laboratório da Universidade de Purdue, nos Estados Unidos, que mapeou o vírus, fazer o “retrato completo” é o primeiro passo para impedir as consequências dramáticas do zika, associado a um surto de microcefalia que já atingiu 944 bebês no Brasil, de acordo com o último informe do Ministério da Saúde.

“A estrutura que determinamos deve ser um apoio para a produção de uma vacina e de um medicamento contra o zika”, disse ao site de VEJA.

Nessa entrevista, Rossman explica como a análise, considerada pelos especialistas como um imenso avanço por trazer diversas respostas sobre o vírus, será um apoio essencial para o combate à doença.

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Vírus zika: perguntas e respostas

No estudo, o vírus zika foi considerado muito semelhante ao vírus da dengue. Quais as semelhanças? O zika pertence à família Flavivírus, composta de vírus formados por RNA como a dengue, a febre amarela e o vírus do Oeste do Nilo. A técnica que usamos, de microscopia crioeletrônica [os vírus são congelados e, em seguida, bombardeados com elétrons. Por meio da captura do movimento desses elétrons, os cientistas conseguem fazer o desenho da estrutura, como se fosse um ‘mapa’] revela a estrutura madura do vírus, em um nível bastante próximo ao atômico. Decidimos fazer a comparação para fornecer uma base mais compreensível para as análises de virologia. Ele é muito parecido com o vírus da dengue e do Oeste do Nilo, mas são alguns detalhes no envelope viral do zika que o torna tão diferente.

O vírus da dengue é conhecido por ter quatro sorotipos, o que é considerado um obstáculo para a criação de uma vacina. É possível que o zika também seja dividido em sorotipos? É possível. Quando um vírus tem sorotipos isso significa que os anticorpos produzidos por uma infecção de um sorotipo podem não funcionar se houver uma segunda infecção, provocada por outro sorotipo. Contudo, as amostras do vírus que usamos no estudo (isoladas de um paciente infectado durante a epidemia na Polinésia Francesa em 2013-2014) são 99,9% iguais ao vírus que circula no Brasil. São praticamente idênticas.

Assim, a hipótese de que o vírus tenha sofrido uma mutação ao viajar para o Brasil e, por isso, ele estaria relacionado a tantos casos de microcefalia, está descartada? É possível que ele tenha sofrido pequenas mutações, pois qualquer mínima mudança pode transformar a expressão dos vírus em seus hospedeiros (mosquitos e humanos). Mas ainda não temos evidências para isso. O grande número de casos de microcefalia pode simplesmente ser devido ao elevado número de infecções em uma população que não estava imune ao zika.

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A estrutura revelada pelo estudo de sua equipe daria aos cientistas o caminho para descobrir quais são os receptores do organismo para o vírus e, assim, tentar bloqueá-lo? Estamos uma etapa antes. A informação que temos não mostra qual é o receptor. Mas prevemos como ele deve ser capaz de se ‘encaixar’ nas estruturas específicas de glicoproteínas do vírus.

Até o momento, os cientistas ainda não sabem quais são os anticorpos criados pelo zika nos seres humanos, o que impede a criação de um teste de diagnóstico após a infecção e dificulta o caminho para uma vacina. O novo estudo vai ajudar nessa área? Atualmente, é difícil identificar o vírus zika porque ainda não sabemos qual é a característica específica de seus anticorpos. Os anticorpos que conseguimos identificar também reagem a outros flavivírus, o que nos dá resultados confusos. A nova estrutura identifica regiões do zika que são diferentes de outros vírus, o que pode levar ao reconhecimento das características também únicas de seus anticorpos.

Um dos maiores problemas da atual epidemia é que sabemos pouco sobre a ciência básica do vírus. Qual o papel do estudo de vocês para o combate da doença? Revelar a estrutura do zika tornará mais fácil produzir uma vacina e criar um medicamento antiviral para combater a infecção.

Qual será o próximo passo das pesquisas? Queremos estudar complexos do vírus com anticorpos extraídos de pacientes infectados. Também pretendemos criar componentes antivirais destinados às partes especificas da estrutura viral que poderiam interferir em seu ciclo de vida, impedindo a infecção.

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De acordo com os resultados do estudo, é possível prever se uma vacina ou um tratamento está próximo? O ‘retrato’ do vírus deve ajudar na criação de uma vacina. Contudo, a velocidade com que ela será desenvolvida depende de muitos resultados inesperados que podem surgir durante os testes clínicos.

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