Prêmio dará 10 milhões de dólares para quem decifrar genes de centenários a um custo inferior a 1.000 dólares
O estudo do código genético de pessoas com mais de cem anos pode revelar mais sobre os segredos de uma vida longa e saudável. Também é possível descobrir variedades do DNA que evitam ou reprimem doenças
A busca por formas mais baratas de decifrar o genoma é essencial para que, no futuro, se produzam medicamentos e outros tratamentos mais eficazes. Assim como já foi feito na área espacial, com a criação de prêmios para quem desenvolvesse foguetes baratos, um prêmio quer estimular o barateamento da codificação do genoma humano. O Prêmio Archon Genomics X será concedido à equipe que conseguir, no prazo de 30 dias, decifrar o código genético de 100 pessoas com mais de cem anos, ao custo máximo de US$ 1.000 por indivíduo. A intenção é encorajar a medicina personalizada, segundo os organizadores.
O que é genoma?
Daniel Cisalpino, mestre em biologia pela UFMG
“O genoma é toda a informação hereditária de um organismo. Ele pode ser entendido como se fosse o disco rígido de um computador. Dentro dele ficam as pastas, ou cromossomos. Dentro de cada cromossomo ficam os arquivos, ou genes. Os genes são responsáveis por desencadear características e comportamentos do organismo, desde resistência a certos remédios ou o desenvolvimento de doenças. O Projeto Genoma, concluído em 2003, identificou onde ficava cada um dos três bilhões de “arquivos” dentro das 46 pastas – ou cromossomos – do código genético humano. Agora, os especialistas estão trabalhando para saber qual é a função de cada um dos genes”
A competição ocorrerá entre janeiro e fevereiro de 2013, usando amostras celulares doadas por centenários de diferentes origens étnicas e de várias partes do mundo.
As regras, divulgadas na revista Nature Genetics, reeditam uma competição que existe há cinco anos, mas não conseguiu encontrar um vencedor.
Até agora, o prêmio de US$ 10 milhões seria concedido à equipe que conseguisse, até outubro de 2013, decifrar 100 genomas humanos – não necessariamente de centenários – em 10 dias ao custo unitário de US$ 10 mil ou menos.
Leia entrevista com o autor do livro Seu Genoma por Mil Dólares
“Nós mudamos a duração da competição de 10 para 30 dias após discussões com os competidores em potencial, que consideraram a estreita margem de tempo uma barreira”, explicaram Larry Kedes e Grant Campany, da Fundação X Prize, da Califórnia, parceira na competição. “Além disso, reduções drásticas nos custos divulgados nos levaram a diminuir a cifra admissível por genoma”, acrescentou.
O genoma compreende o DNA, o código da vida, embalada em uma “escada” de dupla hélice, cujos degraus contém quatro bases químicas.
A genética vasculha estes cerca de três bilhões de pares em busca de pequenas falhas vinculadas a doenças. O objetivo é desenvolver uma medicina personalizada, na qual o indivíduo possa ser alertado para o risco de uma doença, tomar medidas para evitá-la ou tomar medicamentos especialmente produzidos para abrandá-la.
O uso de amostras de voluntários centenários visa a revelar mais sobre os segredos de uma vida longa e saudável. Descobrir variedades do DNA que evitam ou reprimem as doenças pode ajudar a identificar novos alvos para medicamentos e mudanças no estilo de vida. No Brasil, o Centro de estudos do Genoma Humano (CEGH), da USP, já está catalogando o código genético de pessoas saudáveis com mais de 80 anos. A ideia do projeto, batizado de 80+, é montar um banco de dados que possa servir de comparação com o genoma de pessoas mais jovens.
Segundo os organizadores do prêmio, as decodificações vencedoras terão que apresentar altos padrões de qualidade, sem não mais do que um único erro em um milhão de bases. Após a competição, a amostra genética será “disponibilizada abertamente para a comunidade científica” na esperança de incentivar a pesquisa, afirmaram os organizadores.
Segundo o site do Instituto Nacional de Pesquisa do Genoma Humano dos Estados Unidos (NHGR, na sigla em inglês), o custo do sequenciamento do genoma humano caiu de cerca de US$ 100 milhões em meados de 2001 para cerca de 10.000 dólares em meados de 2011.
(Com Agência France-Presse)