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Por que a maior parte das pessoas perdeu a noção do tempo na quarentena

Estudos realizados no período de isolamento social mostram que a sensação foi completamente alterada durante a pandemia

Por Jennifer Ann Thomas Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 29 jul 2020, 15h39 - Publicado em 24 jul 2020, 06h00
CONGELANTE – Efeito negativo: o stress faz com que os dias se arrastem. (iStock/Getty Images)

A ordenação dos segundos, minutos e horas dos dias é uma das grandes invenções da história da humanidade, talvez a mais perene de todas. O primeiro registro de povo que marcou a passagem do tempo é dos babilônios, que viveram na Mesopotâmia entre 1895 a.C. e 539 a.C. Eles construíram o relógio de sol, dividiram o dia em doze partes e depois em 24, constituindo o mesmo sistema utilizado até os dias de hoje. Na primeira concepção de um relógio, o momento em que o Sol ficava na exata posição em que não produzia sombra foi marcado como meio-dia, e então deu-se o restante da distribuição das horas entre manhã, tarde e noite. De volta para o século XXI: a forma de vida existente até o início da pandemia do coronavírus colocava outros elementos do dia a dia para auxiliar nos marcos temporais do cotidiano. Havia a hora de ir à academia, de fazer aula de inglês, a pausa garantida por feriados e fins de semana, a rotina do escritório. Com a paralisação das atividades e pouca diferenciação entre o que pode ser feito em um dia útil e numa folga — situação que se agravou ainda mais para quem perdeu o emprego durante a pandemia —, a percepção sobre a passagem do tempo mudou.

Essa é a principal conclusão de um estudo conduzido pela Universidade Liverpool John Moores, na Inglaterra, que constatou que 80% dos voluntários sentiram alguma distorção na passagem das horas durante a quarentena no Reino Unido, seja a sensação de os minutos escorrerem pelos dedos, seja a de um dia duro e interminável (veja o quadro da pág. ao lado). De acordo com a principal autora do estudo, Ruth Ogden, “a sensação de a quarentena passar mais devagar do que o normal foi associada a idades mais elevadas e à insatisfação com interações sociais”. Uma pesquisa semelhante está sendo conduzida no Brasil pela Universidade Federal do ABC. De acordo com o neurocientista e coordenador do Laboratório de Cognição Humana da instituição, André Cravo, a análise teve início em 6 de maio e a ideia é mantê-la após o fim da quarentena, para comparar os períodos. “O que chamamos de percepção do tempo envolve uma série de fenômenos diferentes, como ritmo, emoções e a memória”, afirma. “Não há outros estudos do tipo para termos como base de comparação. Pela primeira vez, vários grupos distintos estão vivenciando a mesma experiência.”

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Por mais que a percepção individual sobre a passagem das horas pareça palpável, há obviamente o elemento físico e imutável que rege o mundo, havendo pandemia ou não. Para o professor de filosofia da Universidade de São Paulo (USP) Osvaldo Frota Junior é essencial lembrar da diferença entre os fenômenos. “O tempo físico transcorre de uma maneira independente das pessoas”, diz. “O subjetivo é a construção, aquele que sentimos pelas nossas experiências.” De acordo com a escritora e ensaísta Rosiska Darcy de Oliveira, autora do livro Reegenharia do Tempo, a mudança brusca impôs a reorganização da vida, que exigiu, por exemplo, a conciliação das atividades do lar, como cuidar dos filhos e da casa, com o trabalho. “Cada segundo é um recurso não renovável”, afirma. “As pessoas estão expostas à dolorosa convivência com a finitude e isso pode estimular que se valorize o que realmente importa.” Para o neurocientista Cravo, um exemplo é o paradoxo das férias. “Quando elas chegam, passam rápido, porque dá prazer”, diz. “Contudo, na memória, a sensação é que muita coisa aconteceu.” A quarentena não é férias, muito pelo contrário. Mas o tempo em casa durante a pandemia certamente deixará lembranças eternas.

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Publicado em VEJA de 29 de julho de 2020, edição nº 2697

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