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Pesquisas premiadas com o Nobel de Medicina ainda devem dar origem a tratamentos

Cientistas ajudaram a revelar o mecanismo pelo qual as células secretam substâncias para o resto do corpo humano. Suas pesquisas devem começar a ter consequências práticas nos próximos anos, como novos remédios para distúrbios hormonais e neurológicos

Por Guilherme Rosa
Atualizado em 6 Maio 2016, 16h16 - Publicado em 7 out 2013, 18h33

O Prêmio Nobel de Medicina de 2013 foi concedido a três cientistas que ajudaram a revelar detalhes do funcionamento interno das células humanas. Seus estudos mostraram como uma série de moléculas produzidas dentro dessas células são transportadas e transmitidas para o resto do corpo. As pesquisas, produzidas há mais de duas décadas, serviram, a princípio, para aumentar o conhecimento sobre a fisiologia humana. Nos últimos anos, no entanto, elas começaram a sair das apostilas de ciência básica e a ser levadas aos laboratórios farmacêuticos, onde prometem dar origem a novos tratamentos contra doenças neurológicas e distúrbios hormonais e imunológicos.

Perfil

Professor James Rothman ()

JAMES ROTHMAN

James E. Rothman nasceu em 1950 na cidade de Haverhill , nos Estados Unidos. Ele recebeu seu PhD na Faculdade de Medicina de Harvard em 1976, mas iniciou as pesquisas que levariam ao Nobel na Universidade de Stanford em 1978. Em 2008 , Rothman passou a lecionar na Universidade de Yale, onde é diretor do Departamento de Biologia Celular .

Professor Randy W. Schekman ()

RANDY SCHEKMAN

Randy W. Schekman nasceu 1948, em St Paul , nos Estados Unidos. Ele obteve seu doutorado na Universidade de Stanford em 1974, sob a supervisão de Arthur Kornberg (vencedor do Prêmio Nobel de 1959), no mesmo departamento em que Rothman se juntou alguns anos mais tarde . Em 1976, Schekman se transferiu para o corpo docente da Universidade da Califórnia, em Berkeley, onde atualmente é professor do Departamento de Biologia Molecular e Celular.

Professor Thomas C. Sudhof ()

THOMAS SUDHOF

Thomas C. Südhof nasceu em 1955 em Gotinga, na Alemanha. Ele estudou na Universidade de Gotinga, onde recebeu o doutorado em 1982. Após se mudar para os Estados Unidos, Südhof se tornou pesquisador do Instituto Médico Howard Hughes em 1991 e foi nomeado professor de Fisiologia Molecular e Celular da Universidade de Stanford em 2008.

No começo dos anos 1990, quando o último dos estudos agraciados com o Nobel foi realizado, a intenção dos pesquisadores era explicar a extrema regularidade e precisão com que as células humanas são capazes de transportar e secretar substâncias. Randy Schekman explicou a genética por trás do processo, James Rothman mostrou como essas substâncias são entregues exatamente nos lugares que devem atingir e Thomas Südhof, como elas são liberadas nos momentos exatos em que teriam algum efeito. Juntos, descortinaram o processo complexo pelo qual as células transmitem moléculas produzidas dentro delas para o resto do corpo. Isso serve tanto para as células que produzem hormônios, como a insulina, quanto os neurônios, que se comunicam pela emissão de neurotransmissores.

As pesquisas básicas, que apenas descrevem os mecanismos estudados e não possuem grandes consequências práticas, nem sempre são reconhecidas com o Nobel de Medicina. Foi o que aconteceu com os três pesquisadores nas primeiras décadas após seus estudos. Os avanços da ciência nos últimos anos, no entanto, têm permitido que os cientistas consigam manipular esse mecanismo no interior das células, levando ao surgimento de uma série de estudos que prometem acarretar no desenvolvimento de novos remédios e tratamentos.

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“Os cientistas descreveram um mecanismo celular muito básico. No decorrer dos últimos vinte anos, esse princípio já foi usado para desenvolver uma série de áreas da medicina, como a endocrinologia e a neurologia, e aumentou a possibilidade de se criar novas drogas para tratar uma série de doenças. O Prêmio Nobel parece vir como reconhecimento do potencial prático dos estudos desses pesquisadores”, afirma Licio Velloso, pesquisador do Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp.

Laboratórios – Um dos tratamentos que pode se beneficiar do conhecimento revelado pelos pesquisadores é o da diabetes. A insulina é um hormônio que controla a quantidade de glicose presente no sangue. Ela costuma ser produzida dentro das células beta do pâncreas, que a transportam e secretam por meio do mecanismo descoberto pelos cientistas. No diabetes, algo impede que a célula responda ao aumento de glicose no sangue e emita o hormônio. “Um dos medicamentos usados para tratar a doença são as sulfonilureias, que atuam aumentando a produção de insulina e incentivando seu transporte para o exterior das células”, afirma Velloso.

Do mesmo modo, laboratórios ao redor do mundo se miram nesse mecanismo para tratar uma série de disfunções neurológicas. A comunicação entre os neurônios acontece pela emissão de neurotransmissores, substâncias produzidas no interior das células nervosas e transmitidas para a célula seguinte, numa longa cadeia. Esse processo é muito rápido e preciso. No comando de um movimento da perna, por exemplo, ele é realizado por todos os neurônios entre o cérebro e os músculos em instantes.

Um problema qualquer que ocorra nessa comunicação pode dar origem a sérias disfunções. “Por isso, os pesquisadores têm estudado intervenções nesse mecanismo que possam dar origem a uma série de tratamentos contra doenças neurológicas, como o Alzheimer e o Parkinson”, diz Velloso.

Assim, como é de costume nas ciências biológicas, o que antes era apenas uma pesquisa básica começa ser levado aos laboratórios e promete chegar às farmácias e consultórios médicos nos próximos anos. Ao conceder o Prêmio Nobel de Medicina deste ano aos pesquisadores que deram início a esse processo, os responsáveis pelo prêmio confirmam a importância desse tipo de pesquisa.

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