Para coordenador, Rio+20 é uma ‘vacina de reforço obrigatória’
ONGs consideram que texto aprovado apenas indica processos e que, por isso, a conferência é um "fracasso épico"
“Em um momento em que a maioria dos governos tem na crise econômica sua maior preocupação, a conferência tem um aspecto de vacina de reforço obrigatória. Todos eles consideram que isso é importante. No entanto, agir coletivamente é mais difícil”
A Rio+20 é “uma vacina de reforço obrigatório”. Esta é a imagem usada por Brice Lalonde, co-coordenador da Rio+20, para definir o papel da conferência. Em entrevista à AFP, Lalonde disse que a crise econômica tornou as negociações da Rio+20 ainda mais difíceis.
Por que as negociações foram tão duras na Rio+20? Em um momento em que a maioria dos governos tem na crise econômica sua maior preocupação, a conferência tem um aspecto de vacina de reforço obrigatória. Todos eles consideram que isso é importante. No entanto, agir coletivamente é mais difícil, apesar das mensagens cada vez mais alarmistas dos cientistas. Há sempre uma tensão entre o desenvolvimento sustentável e meio ambiente, mas a tensão é menor do que antes, porque mais e mais países em desenvolvimento estão percebendo que o capital natural faz parte do seu desenvolvimento.
O que é mais importante no texto aprovado? O mais emocionante é a idéia de objetivos concretos de desenvolvimento sustentável para toda a humanidade, para os próximos 20 anos. Os objetivos vão envolver tanto os ricos quanto os pobres. Pode ser uma nova etapa na história da ONU: em vez de ser um diálogo difícil entre países em desenvolvimento e desenvolvidos, alguns destinatários, outros doadores, temos uma discussão da família das nações que tem problemas comuns e que devem fazer um esforço para tentar resolvê-los conjuntamente. Quanto à elaboração intelectual destes objetivos, não é tão simples, porque a resposta não é emergencial, como enviar sacos de arroz por avião, mas está em encontrar objetivos que transformem a realidade.
Para que serve este tipo de conferência? Como não há uma governança global, a ação começa ao nível local e, em seguida, é preciso explicar aos outros como funciona. As pessoas vêm para discutir, partilhar as suas esperanças, suas dificuldades, dizer aos governos que eles poderiam fazer mais, empurrá-los para prestar contas para o planeta. Isso acontece aqui, há muitas ONGs apaixonadas, é assim que progride. Ao contrário de 1992, todos os países têm agora a sua própria estratégia de desenvolvimento sustentável. Nós nos reunimos também porque há coisas a fazer em comum, como ir além do PIB como indicador do desenvolvimento de um país. A declaração final da cúpula também é importante porque o texto está baseado em demandas locais, isso legitima o que as pessoas fazem nesse nível.
ONGs reagem – Para as ONGs Greenpeace e WWF, o texto aprovado nesta terça-feira pode fazer da Rio+20 “um fracasso épico”. “A conferência falhou em termos de equidade, ecologia e economia”, considerou Daniel Mittler, diretor de Políticas Públicas do Greenpeace. “Eles nos prometeram o ‘futuro que queremos’ (nome que a declaração final terá), mas agora seremos reconhecidos apenas como uma máquina contaminadora que vai cozinhar o planeta, esvaziar os oceanos e destruir as florestas tropicais”, seguiu Mittler.
O Brasil, que conduziu a negociação, havia indicado sua intenção de fechar o acordo na segunda-feira, antes que uma centena de chefes de Estado e de governo começassem a chegar ao Rio. Mas, diante da falta de acordo, as negociações foram adiadas para esta terça-feira.
“Depois de dois anos de negociações, temos um texto que só gera mais processos. Isto é decepcionante. A linguagem é fraca e o resultado não se aproxima do que as pessoas e o planeta precisam”, disse Lasse Gustavsson, chefe da delegação do Fundo Mundial da Natureza (WWF) na Rio+20. “Precisamos agora que os líderes mundiais venham ao resgate das negociações ou veremos mais pobreza, mais conflito e mais destruição ambiental”, disse.
(Com AFP)