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O mistério do amor: estamos sempre à procura de alguém quase igual

Estudo canadense aponta que os indivíduos estão sempre à procura de parceiros cujas respectivas personalidades sejam próximas entre si

Por André Lopes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 25 jun 2019, 17h09 - Publicado em 21 jun 2019, 07h00

“O amor é a capacidade de perceber o semelhante no dessemelhante.” À primeira vista, o aforismo, do filósofo alemão Theodor Wiesengrund-­Adorno (1903-1969), pode soar contraditório. No entanto, já é possível afirmar com alguma segurança científica que, na verdade, ele ajuda a iluminar algo intrigante: como os seres humanos, afinal de contas, escolhem seus pares românticos. Uma pesquisa publicada recentemente na revista PNAS, órgão da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, atesta que os indivíduos estão sempre à procura de parceiros cujas respectivas personalidades sejam próximas entre si. E isso por um motivo muito, muito simples: o que uma pessoa busca no plano dos relacionamentos afetivos é alguém que, somados e subtraídos todos os atributos, se pareça com ela mesma.

Para chegar a tal conclusão, um grupo de psicólogos da Universidade de Toronto, no Canadá, debruçou-se sobre os dados de 332 voluntários alemães coletados entre 2008 e 2017 por meio de um trabalho do German Family Panel, uma comissão multidisciplinar dedicada a estudar as relações pessoais e a vida privada em seu país de origem. Nele, ex e atuais companheiros, que tiveram namoros com duração média de três anos e dez meses, relatavam como entendiam a própria personalidade e a de seus parceiros, apontando traços como afabilidade, aspirações e rotina.

De acordo com os cientistas canadenses, os resultados revelam que existe uma tendência, tanto em homens como em mulheres, a se envolver com um tipo particular de pessoa. Desse modo, no afã de “perceber o semelhante no dessemelhante” — vale dizer, no outro —, os indivíduos estariam sempre, inconscientemente, buscando pontos de contato entre o antigo amor e o, vá lá, “candidato a atual”. Em outras palavras: para cada um de nós existiria, sim, o chamado “tipo perfeito”.

Isso evidenciaria que a procura por parceiro afetivo duradouro não passaria de um círculo vicioso, repetitivo? Segundo Yoobin Park, um dos pesquisadores responsáveis pelo trabalho desenvolvido na Universidade de Toronto, não se trata disso. “Nossos resultados não mostram que a preferência por um tipo de personalidade se traduza em relacionamentos iguais, mas tão somente que eles terão algumas semelhanças”, disse a VEJA. O diferencial na nova relação, sustenta Park, estaria na possibilidade de usar habilidades emocionais — como a capacidade para resolver conflitos — aprendidas com o ex. “De todo modo, é preciso tomar cuidado para não tentar consertar o relacionamento atual baseando-se no antigo, o que significaria que o luto quanto à relação anterior não foi vivido adequadamente.”

Park atenta ainda para outra precaução: que a comodidade de buscar parceiros com os mesmos traços de personalidade dos anteriores acabe resultando na perpetuação de relacionamentos que poderíamos chamar de “tóxicos”. O estudo de que ele participou mostrou que indivíduos introvertidos têm maior predisposição para optar por modelos repetitivos — e muitas vezes problemáticos — de relacionamento amoroso. O contrário ocorre com os de perfil mais desinibido.

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Naturalmente, não é simples discernir quando a repetição de “tipos” nas relações afetivas significa a descoberta do “modelo ideal” ou apenas o envolvimento em mais uma relação tóxica. A atriz inglesa Elizabeth Taylor (1932-2011) teve sete maridos — e oito casamentos. O desencontro entre os números matrimoniais explica-se pelo fato de que com o ator galês Richard Burton a estrela viveu um romance em dois capítulos: eles se casaram em 1964, divorciaram-se em 1974 e voltaram a contrair núpcias em 1975. Esse segundo casamento, contudo, durou apenas um ano — deixando claro que insistir com a mesma pessoa, e não apenas com quem se pareça com ela, está longe de garantir o êxito de uma relação amorosa.

Para além da contribuição que oferece aos estudos da vida afetiva dos seres humanos, o trabalho realizado pela equipe canadense poderá atuar, no futuro, como referência para os serviços e aplicativos de namoro on-line ou voltados para a sugestão de parceiros em potencial, com base justamente nos romances anteriores. Algo parecido com as recomendações de filmes e séries da Netflix, por exemplo — só que tendo como objetivo a descoberta de alguém com quem se possa iniciar uma relação afetiva. Por enquanto, os resultados sugerem que a chave para encontrar felicidade em relacionamentos de longo prazo é, em boa parte dos casos, descobrir alguém novo que seja como o antigo. O semelhante no dessemelhante.

Publicado em VEJA de 26 de junho de 2019, edição nº 2640

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