Veleiro Endurance receberá proteção extra do governo britânico
Reencontrado em março, o veleiro que levou Ernest Shackleton e uma tripulação de 27 homens ao Polo Sul em 1915 é considerado local histórico e monumento
Reencontrado em março, após mais de um século debaixo d’água, o Endurance, mítico veleiro que levou Ernest Shackleton e uma tripulação de 27 homens ao Polo Sul no início do século XX, vai ganhar proteção extra. Os estados membros do Tratado da Antártica, entre os quais está o Brasil, declararam a embarcação, que repousa sob o Mar de Weddel, a 3 mil metros da superfície, um monumento e local histórico, e pediram um plano de manutenção e conservação. A missão ficará a cargo da UK Antarctic Heritage Trust, entidade que vai determinar restrições e responsabilidades para quem se aproximar dos restos do barco.
Como primeira providência o perímetro de segurança de 150 metros em torno do Endurance foi aumentado para 500 metros. Uma permissão para visitar o veleiro também é necessária, embora se saiba que, apesar de sua localização exata agora ser pública, é uma área sujeita a intempéries e de difícil acesso – está abaixo de blocos de gelo perene. “Isso pode não ser para sempre, principalmente devido às mudanças climáticas e ao encolhimento do gelo marinho”, disse à BBC Amanda Milling, do Ministério de Relações Exteriores britânico. “É por isso que contratamos o UK Antarctic Heritage Trust para trabalhar com especialistas para preparar um plano de gestão de conservação e considerar se são necessárias medidas de proteção adicionais.”
No dia 21 de novembro de 1915, o explorador britânico Ernest Shackleton deu o último adeus à embarcação que o havia levado até a Antártica, o Endurance, numa viagem que pretendia ser a primeira travessia naquela região inóspita. “Ele está indo, rapazes”, gritou da banquisa onde estava acampado com mais 27 homens. Todos correram para ver o veleiro de três mastros, já debilitado pela força esmagadora do gelo, ser abraçado pelas águas frias do Mar de Weddell. Um século depois do naufrágio, o veleiro foi reencontrado. No dia 9 de março, a expedição Endurance22 localizou o famoso barco de 44 metros a cerca de 3.000 metros de profundidade, dentro da área de busca definida pela equipe de cientistas, 4 milhas ao sul da posição registrada no momento do afundamento.
Shackleton não foi o primeiro a chegar ao Polo Sul. A façanha pertence a Roald Amundsen, explorador norueguês que atingiu a região em 14 de dezembro de 1911. Mas Shackleton, que havia tentado outras vezes alcançar a calota polar, estabeleceu outra meta: poderia fazer história atravessando o continente. Com esse plano em mente, ele deixou a Inglaterra em agosto de 1914, parando primeiro em Buenos Aires, na Argentina, e depois na Ilha Geórgia do Sul, um território britânico ultramarino, antes de partir para a Antártica, em 5 de dezembro. Virou lenda ao resgatar os 22 homens que o acompanhavam no Endurance. Ao voltar para a Inglaterra, foi recebido como herói e seu feito, ao liderar e salvar o grupo de homens que estava com ele, inspira aventureiros até hoje.