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Medo do fim da humanidade move busca por vida alienígena, diz cientista

Peter Xiangyuan Ma é o principal signatário de uma pesquisa que usa aprendizado de máquina para identificar sinais de rádio incomuns do espaço

Por Alessandro Giannini Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 6 fev 2023, 17h40

Estudante de matemática e física na Universidade de Toronto, Peter Xiangyuan Ma é o principal signatário de uma pesquisa que usa inteligência artificial para identificar sinais de rádio incomuns vindos do espaço. Ma liderou um grupo de cientistas da Austrália, do Canadá, de Malta, do Reino Unido e dos Estados Unidos que usaram aprendizado de máquina para criar um sistema capaz de diferenciar emissões radiofônicas artificiais — com maior probabilidade de serem gerados por inteligência extraterrena — dos naturais. O estudo foi publicado recentemente na revista Nature Astronomy.

Os pesquisadores liderados por Ma aplicaram o método ao banco de dados do Observatório Green Bank, nos Estados Unidos, que faz parte do programa Breakthrough Listen. Foram varridos 480 horas de observação do Telescópio Robert C. Byrd, cobrindo 820 estrelas. Dos 115 milhões de fragmentos de dados, cerca de 3 milhões de sinais de interesse foram considerados “de interesse”. Após várias peneiras, os autores identificaram oito sinais não detectados anteriormente. No entanto, as observações de acompanhamento desses alvos não os detectaram novamente.

Peter Ma, da Universidade de Toronto: 'Acredito que o medo talvez seja uma motivação mais profunda para nós, ou extraterrestres, querermos fazer contato'
Peter Ma, da Universidade de Toronto: ‘Acredito que o medo talvez seja uma motivação mais profunda para nós, ou extraterrestres, querermos fazer contato’ – (Adar Kahiri/Reprodução)

A ideia é aplicar o mesmo sistema a outros bancos de dados de projetos de de busca por inteligência extraterrestre (do inglês Search for Extraterrestrial Intelligence ou Seti). A seguir, Ma fala sobre sua pesquisa e o que move a humanidade a buscar vida inteligente fora da Terra. Dica: talvez seja o medo de que a existência humana como a conhecemos neste planeta seja finita.

Como você diferencia sinais alienígenas de interferência ou estática, por exemplo?

Diferenciamos verificando várias condições. Se são sinais de banda estreita, o que implica que provavelmente são uma fonte de tecnologia. Se há alguma aceleração relativa entre nós e a fonte, o que significa que pode ser oriunda de vida extraterrestre no espaço e não de interferência terrestre. Se o sinal só aparece quando apontamos nossos telescópios para ela e observamos e desaparecer quando apontamos para longe. Esses fatos poderiam implicar sinais de tecnologia além da Terra, o que poderia implicar em vida inteligente extraterrestre.

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Que tipo de evidência esses sinais podem indicar?

Os sinais que descobrimos atualmente não trazem evidências concretas de vida inteligente extraterrestre. Em parte, o motivo é porque os sinais não aparecem novamente quando os observamos novamente. Agora, o que ele demonstra é o potencial de usar o aprendizado de máquina na abordagem desses problemas em relação aos algoritmos tradicionais. Isso ocorre porque descobrimos sinais que nenhuma outra técnica descobriu anteriormente.

Agora que você “vasculhou” o banco de dados do Seti, quais são os próximos passos?

Esperamos estender esse tipo de trabalho a vários outros projetos com o programa Breakthrough Listen, como observar com o MeerKAT e o programa VLA Cosmic. Esses novos projetos exigem que estendamos este trabalho a algoritmos ainda mais sofisticados para lidar com várias radioantenas. Em outras palavras, estamos trabalhando ativamente na investigação dos recursos de aprendizado com outro trabalho do busca por inteligência extraterrestre!

Você acha que o que estamos procurando é algum extraterrestre com a mesma curiosidade?

Isso é difícil de responder. Para nós, humanos, a curiosidade é uma justificativa natural para querermos enviar uma mensagem. Mas acredito que o medo talvez seja uma motivação mais profunda para nós, ou extraterrestres, querermos fazer contato. Fundamentalmente, o silêncio é assustador. Se nossa solidão cósmica é absoluta, isso sugere que todas as outras tentativas de vida falharam. Implicando que o universo é fundamentalmente hostil à nossa existência. Isso significa que é provável que a humanidade, ou qualquer vida extraterrestre, provavelmente morra no mesmo lugar em que nasceu.

O que justificaria essa busca, então?

Qualquer organismo vivo teme a morte, mas para um organismo inteligente essa percepção talvez seja muito pior. Para alguns, nossa existência limitada, rochosa e insignificante representa a morte do progresso. Um teto que nunca iremos ultrapassar. A estagnação é uma morte sufocante para uma espécie inteligente. As infinitas possibilidades anteriores do universo infinito foram libertadoras, mas a percepção de que as portas cósmicas se fecharão sobre nós é uma carga pesada demais para carregar. Talvez o medo seja uma justificativa razoável do porquê um alienígena pode tentar entrar em contato conosco.

Você realmente acredita em algum tipo de vida extraterrestre?

Isso também é difícil de responder e não tenho certeza. Mas pensar que estamos realmente sozinhos no universo sem um pingo de ceticismo me parece ingênuo. Apenas nas últimas décadas da astronomia moderna descobrimos que a situação da Terra, um planeta com água líquida na superfície orbitando uma estrela estável, não é incomum. Quanto mais olhamos para o cosmos, menos singular parece nossa situação. Parece-me que o berço da humanidade é, na verdade, excepcionalmente normal. Agora, isso significa que acredito que há vida extraterrestre por aí neste momento acenando para nós? Não, até encontrarmos provas, claro. Mas acredito que essa possibilidade por si só é suficiente para justificar uma busca.

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