Saud Abu Ramadán.
Cidade de Gaza, 25 dez (EFE).- O americano James S. Gordon, do Centro de Medicina para o Corpo e a Mente, em Washington, já trabalhou em diversos países que enfrentaram crises humanitárias, inclusive em regiões como a Faixa de Gaza, onde percebeu que o estresse traumático não é algo ocasional, mas uma enfermidade contínua.
Médico de 69 anos, ele ajuda pessoas afetadas por conflitos e desastres a superaram seus medos graças a técnicas alternativas. Na Palestina, explica Gordon, há uma diferença significativa para os outros lugares em que já esteve: ‘No Haiti ou Kosovo falamos de desordens pós-traumáticas. Aqui em Gaza, existe um estresse traumático contínuo’.
Quando se encontra um dos seus grupos de ajuda para mulheres com câncer, é difícil imaginar que elas sofrem de algum tipo de enfermidade ou estresse psicológico.
As sete mulheres que fazem parte do programa de tratamento no centro de Gaza, com idades entre 22 e 50 anos, mostram-se sorridentes e confiantes. E o médico as escuta atentamente com a ajuda de um intérprete.
Todas participam do tratamento para diminuir sintomas como a depressão causada pela doença. Uma das participantes sofre de leucemia linfoide aguda, e após cada sessão de quimioterapia voltava para casa desanimada e brigava com suas filhas. ‘Agora compreendo as queixas delas’, afirma a paciente, que diz que sua melhora se deve a Gordon.
Elas dizem que o que mais gostam no tratamento desenvolvido pelo americano são as técnicas de relaxamento, imaginação, meditação, pintura e escrita.
O médico decidiu iniciar seu trabalho em Gaza após sua primeira visita ao território, em 2002. Ele escuta as mulheres e sempre responde com comentários positivos.
Aya al Louch, que tem apenas 22 anos e se recupera de um câncer, afirma que a esperança faz com que os seres humanos sobrevivam e superem as doenças.
Ela está há anos em tratamento e quer terminar seus estudos para se matricular numa faculdade de direito ou jornalismo. ‘Infelizmente são poucos os médicos que reconhecem que as doenças físicas estão relacionadas com a mente. Cada ser humano deve se transformar no seu próprio médico’, afirma Gordon para a jovem.
A atividade realizada com as sete mulheres não é a única realizada com o tratamento desenvolvido por Gordon em Gaza. Ele ensinou seu método para vários profissionais e em 2004 abriu uma filial do Centro de Medicina para o Corpo e a Mente em Gaza.
Aqueles eram tempos difíceis e a região vivia a época da Segunda Intifada, que antecederam o bloqueio à Gaza e a devastadora operação sobre a cidade, lançada por Israel no final de 2008 e que mergulhou uma população de 1,6 milhão de pessoas em grande desânimo.
Desde então, o centro formou 400 profissionais no tratamento de estresse e depressão causados após a exposição a um evento traumático.
Esses especialistas, por sua vez, transmitiram seus conhecimentos para milhares de pessoas por meio de modelos grupais.
Além disso, o médico aplica seu método, que não utiliza remédios, em Israel, Cisjordânia, Kosovo, Haiti e com os soldados americanos que retornam de conflitos militares.
Em Gaza, sua equipe conta com a presença de sete especialistas americanos e dois psiquiatras kosovares. Em seu centro, ele trata adultos, crianças e jovens traumatizados.
Uma amostra do trabalho realizado por Gordon se dá num jardim público na cidade, onde ele se senta com um grupo de estudantes, que reclamavam que seus professores ensinam apenas o que está nos livros.
O ‘doutor da alma’ pede que eles fiquem de pé, sacudam seus corpos e respirem fundo, imaginando coisas bonitas. Os estudantes então obedecem ao médico, e após cinco minutos, livram-se de suas tensões.
Gordon acredita que tanto em Gaza como no Haiti, onde tratou os desabrigados pelo terremoto de 2010, existe interesse em aprender suas técnicas.
Mas há uma grande diferença, aponta ele: na Palestina, os sintomas pós-traumáticos parecem ter se transformado em parte estrutural da psique da população. EFE