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Inundação em Veneza e incêndio na Austrália: efeitos da mudança climática

Catástrofes provocam reações diferentes das respectivas autoridades diante da evidência das causas: o aquecimento global

Por Sabrina Brito Atualizado em 30 jul 2020, 19h35 - Publicado em 15 nov 2019, 06h00

Os fatos foram opostos — inundação e fogaréu —, e a reação a eles também. Em uma mesma semana, a cidade italiana de Veneza e a costa leste da Austrália materializaram o embate que contrapõe “ambientalistas” a “negacionistas” quando o assunto são as mudanças climáticas que afetam o planeta. Na quarta-feira 13, o prefeito de Veneza, Luigi Brugnaro, declarou estado de emergência na extraordinariamente bela capital da região do Vêneto, no norte da Itália, notabilizada por seus canais. O motivo: a pior cheia já registrada nos últimos cinquenta anos. O nível da água se elevou tanto que agravou a degradação de construções históricas — e, pior, fez duas vítimas logo nos primeiros dias, mortas em suas casas. As águas subiram quase 2 metros, e ondas de mais de 1 metro e meio atingiram cerca de 85% da cidade. Um horror.

Brugnaro classificou a situação como “dramática”, postando vídeos e fotos da acqua alta (maré alta) que inundou os principais pontos turísticos venezianos. Imagens da Piazza San Marco submersa, com pessoas andando com água acima dos joelhos, correram o mundo. “Pedimos ao governo que nos ajude. O custo será alto. Esse é o resultado da mudança climática”, escreveu o prefeito nas redes sociais. Um relatório de 2017 da Agência Nacional da Itália para Novas Tecnologias, Energia e Desenvolvimento Econômico Sustentável advertiu que a cidade dos canais ficará submersa até o final deste século se o aquecimento global não for contido por medidas como as previstas no Acordo de Paris, de 2015.

Na Austrália, as labaredas devastaram cerca de 1 000 quilômetros de área florestal (Darren Pateman/Reuters)

Mas, se em Veneza o Poder Executivo reconheceu publicamente que as inundações decorriam do peso da interferência humana no clima da Terra, a 16 000 quilômetros de lá, outra catástrofe para o meio ambiente foi definida como “natural” — apesar de seu inédito impacto. Na segunda-feira 11, o fogo começou a destruir a mata costeira em regiões muito próximas a Sidney. As labaredas devastaram cerca de 1 000 quilômetros de área florestal, provocando a morte de pessoas — quatro nos primeiros três dias — e de animais únicos da fauna do país. Encarando tudo como fenômeno da natureza, o vice-premiê, Michael McCormack, chamou de “lunáticos” os que acreditam no aquecimento global. Ele declarou numa entrevista radiofônica, em tom de evidente ironia, que a população afetada pelos incêndios precisava “de ajuda”, e não “do papo incoerente de pessoas ‘verdinhas’ da cidade grande, que são puras, esclarecidas e conscientes”. Não ficou sem resposta. Um senador do Partido Verde da Austrália, Jordon Steele-John, afirmou que, por causa de sua conduta negacionista, os políticos das siglas maiores podiam ser considerados “praticamente incendiários”.

McCormack, no entanto, como se sabe, está longe de ser um solitário em seu negacionismo quando se leva em conta o cenário local (a maioria do Parlamento australiano concorda com ele) ou internacional (basta citar o que pensam a respeito do assunto o presidente Donald Trump e o governo de Jair Bolsonaro).

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O ponto a destacar é que negar as provas científicas do aquecimento global não o faz inexistente. Estudos recentes já comprovaram que as mudanças climáticas provocadas pela ação humana tornaram os furacões mais comuns e os incêndios florestais mais recorrentes, para não falar do avanço no ritmo do derretimento das geleiras, entre outros problemas. “É pior, muito pior do que você imagina”, escreveu o jornalista americano David Wallace-Wells em A Terra Inabitável, publicado neste ano. Veneza e Austrália experimentaram isso.

Colaborou André Lopes

Publicado em VEJA de 20 de novembro de 2019, edição nº 2661

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