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Indústria mascarou estudos sobre malefícios do açúcar há 50 anos

Estudo indica que debate sobre o impacto do consumo de doces na saúde humana teria começado antes se resultados não tivessem sido manipulados

Por Da redação
Atualizado em 22 nov 2017, 17h12 - Publicado em 22 nov 2017, 12h22

A indústria açucareira americana mascarou resultados e deixou de financiar pesquisas científicas sobre os efeitos negativos do açúcar 50 anos atrás, de acordo com um estudo publicado nesta terça-feira no periódico PLOS Biology. Os autores analisaram documentos da década de 1960 e perceberam evidências de intervenção por parte da Fundação de Pesquisa sobre Açúcar (SRF, na sigla em inglês), que manipulou pesquisas em animais para proteger interesses comerciais e influenciar a opinião pública.

Segundo os autores do estudo, se os experimentos não tivessem sido manipulados, o debate sobre o impacto do consumo de açúcar na saúde teria começado bem antes, adiantando medidas de prevenção contra doenças cardíacas, diabetes, obesidade e outros. “A Associação do Açúcar [organização americana voltada ao comércio] provou em 1969 que as calorias do açúcar tinham diferentes efeitos metabólicos do que as calorias do amido”, disse em comunicado a autora Cristin Kearns, da Universidade da Califórnia, em São Francisco, nos Estados Unidos. A cientista descobriu os documentos da indústria e decidiu dar início às investigações. “Isso contrasta radicalmente com a posição pública [da associação], da época e de agora, de que todas as calorias são iguais.”

Kearns e sua equipe descobriram documentos que revelavam que a indústria açucareira começou a trabalhar em conjunto com nutricionistas e outros cientistas para apontar a gordura e o colesterol como as principais causas das doenças arteriais coronarianas, um conjunto de graves doenças cardíacas. O objetivo era minimizar evidências de que o consumo de sacarose também é um fator de risco e incentivar o consumo por parte do público. Os pesquisadores relatam no estudo recém-publicado que a SRF financiou secretamente uma revisão no New England Journal of Medicine, em 1967, para eliminar qualquer evidência que ligasse o consumo de sacarose aos níveis de lipídios no sangue e às doenças cardíacas.

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Os estudos mascarados teriam revelado que a sacarose, principal substância que compõe o açúcar de mesa, é uma indutora da hiperglicemia (níveis altos de açúcar no sangue, que leva à diabetes) e que seu consumo pode estar associado ao câncer de bexiga. Se essas informações fossem disponibilizadas ao público já na década de 1960, saberíamos há 50 anos que o açúcar é um produto potencialmente carcinogênico.

Todas essas descobertas foram feitas durante o Projeto 259, uma série de estudos em animais financiados pela SRF de 1968 a 1970 que foi interrompida e enterrada depois que resultados preliminares começaram a indicar efeitos negativos do açúcar.

“Este caso é mais uma ilustração de que, assim como a indústria do tabaco, a indústria do açúcar tem uma longa história de supressão de resultados científicos que não apoiam seus interesses econômicos”, disse o coautor Stanton Glantz, professor de medicina na Universidade da Califórnia e diretor do Centro de Pesquisa e Educação em Controle do Tabaco da instituição.

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