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Humanos e seu ‘parente’ primitivo podem ter convivido na África

‘Homo naledi’ pode ter caminhado ao lado do ‘Homo sapiens’, mais um indício de que a evolução humana não seguiu um caminho linear

Por Da redação
Atualizado em 9 Maio 2017, 17h12 - Publicado em 9 Maio 2017, 14h16

Hominídeos primitivos podem ter convivido na África com os primeiros seres humanos modernos, anunciaram cientistas nesta terça-feira. Uma equipe de pesquisadores internacionais descobriu novos restos de, pelo menos, 18 exemplares de Homo naledi em uma caverna localizada na África do Sul, perto de Johannesburgo. Segundo os cientistas, um dos exemplares é um esqueleto bastante completo, incluindo um crânio bem preservado, apelidado de neo (“presente”, na língua local sesotho). A pesquisa, publicada na revista científica online eLife, sugere que esses hominídeos habitaram a região até pelo menos 236.000 ou 335.000 anos atrás, mesmo período que os primeiros humanos, e podem ter fabricado suas próprias ferramentas de pedra. A descoberta fornece ainda mais evidências de que a evolução humana possivelmente não tenha seguido um caminho linear, mas teria um desenho mais próximo ao de um rio que, ao longo de seu curso, separa-se em braços que podem voltar a se encontrar lá na frente.

Homo naledi

Em 2015, cientistas anunciaram a descoberta de uma rica coleção de 1.500 ossos de 15 hominídeos, também na África do Sul. Na época, o líder da pesquisa, o paleontólogo americano Lee Berger, da Universidade de Witwatersrand, na África do Sul, ocupou as manchetes dos principais jornais do mundo ao afirmar que os achados pertenceriam a um tipo inédito, uma nova espécie de antepassado humano. A análise das ossadas apontou para um hominídeo que reunia características de exemplares do gênero Homo e macacos — ele apresentava um pequeno cérebro, pés semelhantes aos de homens modernos e mãos capazes de segurar ferramentas. Entretanto, na época, os fósseis não puderam ser datados com precisão, deixando algumas dúvidas sobre a reunião de traços em um mesmo indivíduo.

O estudo recém-divulgado, também liderado por Lee Berger, revela a idade dos fósseis e de outro conjunto de ossos que pertenceriam aos mesmos hominídeos, mostrando que são muito recentes e, possivelmente, coabitaram com os humanos modernos. Para os pesquisadores, a datação torna ainda mais frágeis as leituras lineares da evolução dos seres humanos, que acreditam que houve uma progressão lógica e constante dos macacos para os humanos, e fornece novos indícios de que nossa história evolutiva tenha sido formada por diversas espécies que conviviam e competiam, com características que surgem e desaparecem ao longo do tempo. A imagem mais próxima de nossa evolução, sugerida por Berger, é a de um curso d’água, que pode se separar em braços que voltariam a se encontrar próximo à foz.  A água dos diversos cursos do rio evolutivo arrastariam consigo os sedimentos de todos os lugares por onde passou, unindo-se em um delta antes de desembocar no oceano.

Crânio hominídeo
Crânio de ‘Homo naledi’ encontrado em caverna da África do Sul (Foto/Divulgação)

“Pensávamos que o homem era invencível (…) e que havia apenas uma história ou uma linha reta cada vez mais humana com um cérebro maior e comportamentos mais complexos”, ressaltou John Hawks, da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, membro da equipe de cientistas responsáveis pelo estudo. “A datação destes fósseis sugere muitas possibilidades de trocas (…) entre o Homo sapiens e o Homo naledi“, completou Paul Dirks, da Universidade John Cook, na Austrália, que também participou da investigação.

Segundo a pesquisa mais recente, os Homo naledi viveram no início do que é considerado pelos cientistas o começo da era dos humanos modernos. “Eles são surpreendentemente jovens. E é muito possível que o Homo naledi, esta espécie de hominídeo de cérebro pequeno, tenha encontrado o Homo sapiens“, afirmou Berger à Agência France-Presse.

Casos de coabitação entre espécies já foram identificados. Na Europa, por exemplo, o homem de Neandertal cruzou seu caminho com o Homo sapiens antes de sua extinção, há 30.000 anos. Mas este cenário jamais havia sido traçado na África.

“Não poderemos mais afirmar qual espécie fabricou quais ferramentas ou mesmo que os homens modernos estão na origem de certas inovações técnicas ou comportamentais”, afirmou o cientista. “Este pode ser um ‘elo perdido’ crucial na história da nossa evolução.”

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Ritos funerários

O paleontólogo também voltou a falar sobre uma outra controvérsia relativa à sua descoberta inicial. Em 2015, Berger sugeriu que a presença de ossos em uma caverna quase inacessível significava que ela era, de fato, uma tumba e que o Homo naledi realizava ritos funerários, uma prática até então atribuída unicamente aos seres humanos modernos. Sua hipótese suscitou muitas provocações, mas, nesta terça-feira, o pesquisador insistiu, revelando que o caminho para o local do segundo conjunto de ossos era tão estreito quanto o primeiro. “Isso reforça, creio eu, a ideia de que o Homo naledi utilizava essa caverna com um objetivo particular e potencialmente (…) que o Homo naledi enterrava seus mortos lá.”

Outros pesquisadores, no entanto, acreditam que é preciso ter cautela e analisar os indícios com cuidado antes de chegar à conclusões em relação aos rituais funerários. Ritos para os mortos costumam ser vistos como comportamentos avançados, pois sugerem que a espécie seria capaz de conceber símbolos e se enxergar como separada da natureza. Apenas humanos e Neandertais foram conclusivamente associados à prática de enterrar seus mortos, e, no caso dos Homo naledi, alguns cientistas acreditam que a possibilidade de que os ossos tenham sido depositados na caverna naturalmente ainda não pode ser descartada.

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