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‘Gostem ou não, o debate ambiental passa pela economia’

Negociador-chefe do Brasil para a Rio+20 critica postura europeia e afirma que, mais que preservar a natureza, o verdadeiro debate deve ser sobre como tirar gente da pobreza e lidar com a nova classe média

Por Márcia Régis
Atualizado em 6 Maio 2016, 16h43 - Publicado em 12 mar 2012, 16h34

Negociador-chefe do Brasil para a Rio+20, o embaixador André Aranha Corrêa do Lago acredita que o formato e o alcance do que seria uma agência ambiental mundial, encabeçada pela França e apoiada pela maior parte da Europa, será um dos grandes embates da conferência. Incluídas na discussão estão diretrizes que podem interferir diretamente na forma como os países emergentes terão de se adequar a padrões de desenvolvimento e consumo. O Brasil, contrário à ideia, vai defender que a conversa caminhe no sentido do desenvolvimento sustentável, algo que, para Correa do Lago, atende aos objetivos da Europa e não pune as nações emergentes. “Gostem ou não, o debate ambiental passa pela dimensão econômica. Não considerar esse fato hoje é tapar o sol com a peneira”, diz Lago, em entrevista ao site de VEJA.

Qual é o X da questão na pauta da Rio+20?

O verdadeiro debate é como tirar gente da pobreza em países em desenvolvimento e assegurar vida de classe media para muitos indivíduos emergentes, que querem consumir. Isso importa bem mais que assegurar recursos naturais para país rico, motivo básico que levou os europeus a defenderem a criação de uma organização mundial do meio ambiente, que o Brasil contestou. Os europeus trabalham com visão de longo prazo. Em 2050, poderemos ter uma classe média de 9 bilhões de pessoas no mundo. É claro que, se a pessoa sai da pobreza, ela vai querer consumir mais. Eles, os países ricos, querem que essa classe média compre seus produtos industrializados, mas se apavoram com a possibilidade que os pobres esgotem os recursos naturais que eles, os ricos, querem preservar para si próprios.

A criação da Organização Mundial do Meio Ambiente será a grande conquista da conferência?

A questão institucional da conferência será a revisão do mandato do PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), mas não exatamente a criação de uma organização mundial de meio ambiente, uma proposta dos europeus que o Brasil acha que não resolve os dilemas atuais. O que pedimos insistentemente é uma instituição que lide com desenvolvimento sustentável, não somente com meio ambiente. A proposta inicial europeia deturpa o conceito de desenvolvimento sustentável, é um retrocesso a 1972, ano da Conferência de Estocolmo, quando a preocupação deles era o fim dos recursos naturais. Mas estamos avançando, porque os europeus já evoluem para uma proposta mais alinhada com a brasileira.

Por que as gerações atuais deveriam se preocupar com a Rio+20?

O consumo nosso de cada dia é que tem provocado os desastres que vemos hoje. Todos nós, diariamente, tomamos milhares de decisões de consumo. Optamos pelo melhor lápis, restaurante, produto do supermercado, plano de saúde etc. Tudo é opção de consumo e nós decidimos o tempo todo. Hoje, no dia a dia, já deixamos de regressar a um restaurante que maltrata funcionários, por exemplo. Mas a mesma lógica que impera nas decisões que tangem o social deveria considerar também o ambiental. Isso não é fácil, porque há a obsessão que desenvolvimento sustentável se relaciona só com uma dessas dimensões – ou é social, ou ambiental ou econômico, depende do interesse de quem aplica o termo. Mas a relação é com as três dimensões em conjunto.

Qual poderá ser um dos resultados concretos do encontro no Rio?

Um mandato de 193 países para a constituição de uma entidade internacional de desenvolvimento sustentável nos meses subsequentes. Um mandato é um documento que instrui os países a seguirem em uma determinada direção e é um documento hierarquicamente mais forte que uma declaração. Poderemos ter dois mandatos, incluindo a criação de uma entidade ambiental também.

O governo brasileiro se prepara para manifestações contra o Código Florestal e Belo Monte?

A maioria dos países que lança críticas ao Brasil o faz como se não estivesse havendo o debate sobre esses temas entre os próprios brasileiros. Afinal, é legítimo que pessoas discordem e demonstrem suas opiniões abertamente em uma democracia. A postura desses países é desagradável. Fica parecendo que, se não fossem os alemães, ninguém estaria debatendo Belo Monte no Brasil.

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