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Falta d’água dobra risco de guerra civil, diz estudo

Explosão demográfica, urbanização desordenada e mau gerenciamento fazem da competição pela água o estopim de centenas de conflitos

Por Jones Rossi
Atualizado em 6 Maio 2016, 17h02 - Publicado em 28 ago 2011, 09h34

Uma das primeiras guerras da história foi travada por causa de água, há 4.500 anos, entre duas cidades-estado à margem do rio Eufrates, região onde fica o atual Iraque. De lá para cá, a quantidade de água potável disponível no planeta não mudou, mas a explosão demográfica, a urbanização desordenada e o mau gerenciamento de um recurso insubstituível fizeram do acesso à água uma competição cada vez mais agressiva – e o estopim de centenas de conflitos.

Um estudo publicado na revista Nature pelo Instituto da Terra da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, mostra a relação entre a escassez de água e guerra. Analisando o fenômeno El Niño, que em ciclos de três a sete anos provoca aumento na temperatura e diminuição no volume de chuvas, os pesquisadores descobriram que, nos 90 países tropicais afetados pelo fenômeno climático entre 1950 e 2004, o risco de uma guerra civil dobrou, passando de 3% para 6%. “Claro que, sozinha, a falta de água não causa as guerras. Há fatores sociais, políticos e econômicos que devem ser levados em conta”, diz Mark Cane, cientista especializado em clima da Columbia. “Mas onde há tensões latentes, o clima pode ser a fagulha que faltava.”

Os países pobres são os mais atingidos. A rica Austrália sofre com o El Niño, mas a chance de haver uma guerra civil é nula. Em compensação, a guerra civil que matou mais de duas milhões de pessoas no Sudão floresceu em 1963, ano que o El Niño provocou severas secas, e recrudesceu em 1976, 1983 e novamente este ano, períodos em que o país, agora dividido entre Norte e Sul, foi de novo afetado pelo fenômeno.

“As guerras do século 21 serão travadas por causa da água”, disse Ismail Serageldin, do Banco Mundial, em depoimento ao escritor Alex Prud’homme, autor do livro The Ripple Effect, um alentado estudo sobre os desafios relacionados à água, do esgotamento de aquíferos à contaminação da água tratada nas grandes cidades. As chances de Seralgedin estar certo são grandes. Em 2000, 1,2 bilhão de pessoas não tinham água tratada para beber. Até 2025, serão 3,4 bilhões. Segundo relatório da ONU apresentado em Estocolmo, na Suécia, durante a Semana Mundial da Água, bastaria 0,16% do PIB mundial – o equivalente a 198 bilhões de dólares por ano – para o abastecimento regular de meio bilhão de pessoas, contingente hoje vulnerável a doenças e mesmo à morte por falta de água potável. Caso a questão continue ignorada, até 2030 a demanda de água superará a oferta em 40%.

“Guerras do século 21 serão travadas por causa de água.”

Ismail Serageldin, Banco Mundial

O novo petróleo – Foi de olho na crescente competição pela água que o empresário T. Boone Pickens, dono de uma imensa quantidade de terra situada sobre o maior aquífero da América do Norte, no Texas, resolveu abastecer Dallas e sua região metropolitana com a água de sua fazenda (no Texas, a lei que gere os recursos hídricos determina que somente a água localizada na superfície é propriedade do estado; o que está abaixo pertence ao dono do terreno).

O projeto previa um investimento de 1,5 bilhão de dólares para a construção de uma tubulação que levasse a água até Dallas. Entusiasmado com o projeto, o bilionário T. Boone afirmou que a era do hidrocarboneto havia passado. “A água é o novo petróleo”, exclamou. Em 2008, o projeto foi suspenso pelo alto custo da tubulação, mas este ano Pickens fechou um acordo vendendo o direito sobre as águas por 103 milhões de dólares.

“A água é o novo petróleo.”

T. Boone Pickens, empresário texano

Distante e cara – “A água vai ficar cada vez mais cara”, diz João Lotufo, diretor da Agência Nacional de Águas. “A tendência é buscar água cada vez mais longe, o que vai demandar mais recursos para atender uma população crescente.”

Assim como Dallas, São Paulo ‘importa’ mais da metade da água que consome de outras cidades e até mesmo de outros estados. A cidade consome a água de 17 mananciais diferentes e vai precisar de outro até 2015 para garantir o abastecimendo da população. “Em maior ou menor grau, isso vai acontecer com todas as regiões metropolitanas do país”, prevê Lotufo.

Dos 5.565 municípios brasileiros, 55% precisam de investimentos para aumentar a oferta de água. Em investimentos, isso significa que são necessários 22 bilhões de reais até 2015. Mesmo assim, Lotufo considera impossível faltar água para o abastecimento humano. “O que há é uma competição de usos – industrial, agrícola, doméstico – que desequilibre a oferta. Mas isso só vai acontecer se não houver gestão.”

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