Estudo restabelece fama de matador do Tiranossauro rex
Por quase uma década dinossauro foi descrito como carniceiro
Abordagem ambiental das espécies descarta estratégia alimentar baseada na carniça
Por mais de um século, o Tiranossauro rex foi descrito pelos cientistas como uma máquina mortífera de seis toneladas projetada para derrubar e destroçar dinossauros até maiores do que ele. No auge de sua fama, na década de 1990, chegou a estrelar, pode-se dizer assim, a série de filmes Jurassic Park. Depois disso, surgiram estudos que pintaram um novo retrato da espécie: de temido predador, o tiranossauro passou a ser visto como um comedor de carniça, mais hiena que leão. Mas nesta quarta-feira, sua fama de matador foi restaurada com um novo estudo, publicado na revista Royal Society B: Biological Sciences.
O primeiro ataque às credenciais predatórias do dinossauro carnívoro veio à tona em 2003, quando o especialista americano Jack Horner concluiu que os braços sem garras do tiranossauro, os olhos pequenos e patas pouco ágeis demonstrariam que ele seria “100% carniceiro”. Em 2007, foi a vez do cientista John Hutchinson, da Escola Real de Veterinária, da Grã-Bretanha, desferir outro golpe na reputação da espécie, ao sugerir que o “desajeitado” dinossauro precisaria de mais de dois segundos para girar 45 graus, facilitando a fuga da presa.
Reviravolta – No estudo divulgado nesta quarta, cientista Chris Carbone e seus colegas da Sociedade Zoológica de Londres afirmam que alguns dos traços analisados que levantaram dúvidas sobre a perícia predatória do tiranossauro são ambíguos. Segundo eles, o olfato apurado, presumido pelos bulbos olfativos aumentados, que é um traço comum entre carniceiros, como os urubus, também pode ajudar um caçador. Além disso, os olhos do dino não são tão pequenos quanto se pensava, e sua visão binocular, juntamente com a mordida esmagadora e dentes resistentes a impactos, seriam bem adaptados para a caça.
Mas o argumento mais convincente de Carbone sobre a predação não tem nada a ver com os traços físicos do terópode gigante. “Fizemos uma abordagem ambiental, estabelecendo uma lista completa de todas as espécies na área”, explicou o cientista. “A novidade são as conclusões que tiramos sobre a abundância a partir do tamanho dos animais” no Cretáceo tardio, afirmou, em alusão ao intervalo da escala geológica compreendido entre 85 e 65 milhões de anos atrás, quando o Tiranossauro rex reinou.
Leões, não hienas – Com base em registros fósseis e estudos da distribuição da fauna nas planícies do Serengeti, no leste da África, hoje, Carbone calculou que o ecossistema na época teria sido enormemente habitado por dinossauros menores. Entre os carnívoros, 80% pesariam cerca de 20 quilos e o tiranossauro responderia por 0,1% da população. Entre os herbívoros, geralmente mais pesados, cerca da metade pesava cerca de 75 quilos.
Os cientistas calcularam a área de vida do dinossauro, as distâncias que poderia percorrer diariamente, quantas carniças encontraria pelo caminho e outro tipo de alimento que pudesse ser detectado. “Em vista da distribuição de carcaças e da competição potencial com outros dinossauros carnívoros, é extremamente improvável, a longo prazo, que um tiranossauro adulto pudesse se alimentar de carniça”, concluiu o estudo.
Segundo Carbone, cães selvagens e hienas – similares em tamanho e relativamente abundantes tanto quanto dinossauros menores do Cretáceu tardio – “são capazes de reduzir uma carcaça de 70 quilos a pedaços de pele e ossos em um prazo extremamente rápido, certamente em menos de uma hora”. De acordo com o cientista, um carniceiro lento teria um desempenho muito pior e sofreria as consequências disto. Mesmo que ele conseguisse afastar outros predadores, até chegar à carniça outros animais menores e mais ágeis teriam consumido toda a carne da presa.
(Com Agência France-Presse)