Estudo mostra que rodovias federais sob concessão são mais seguras
Levantamento da Fundação Dom Cabral analisou mais de 250 mil ocorrências em estradas da União com alto volume de tráfego entre 2018 e 2021

No Brasil, as rodovias sob gestão pública são mais perigosas do que as rodovias sob gestão privada. Esta é a principal conclusão de um estudo realizado recentemente pela Fundação Dom Cabral (FDC), que analisou 264.196 acidentes de trânsito registrados entre 2018 e 2021 em rodovias federais pela Polícia Rodoviária Federal (PRF). Os pesquisadores trabalharam com índices e pesos para evitar distorções resultantes da diferença entre os modelos de gerenciamento, já que apenas 13,7% da malha federal estão nas mãos de concessionárias. Foram considerados apenas trechos com alto volume de tráfego.
Em números absolutos, os percentuais de acidentes nos conjuntos de rodovias concedidas e sob gestão pública são bem próximos, de 43,4% e de 56,6%, respectivamente. Quando são considerados índices que ponderam o volume de tráfego médio do trecho de ocorrência (Taxas de Acidentes), a diferença aumenta: 79,7% (públicas) e 20,3% (concedidas). Quando se leva em conta a gravidade dos acidentes (Taxa de Severidade), o intervalo aumenta: 80,4% (públicas) e 19,6% (concedidas).
No Brasil, o Rio Grande do Sul e o Paraná apresentam as maiores taxas de acidentes e taxas de severidade das ocorrências . Os dois estados se destacam de um segundo bloco composto por Minas Gerais, Santa Catarina e Rio de Janeiro. Entre as rodovias federais, a BR 101 e BR 116 ocupam as primeiras posições, tanto em números absolutos de acidentes quanto nas taxas de acidentes e de severidade. Ainda assim, os pesquisadores ressaltam que, quando se isola os acidentes graves, os trechos das vias públicas têm os índices mais altos.
O estudo mostra que há necessidade de se criar fontes alternativas de financiamento para a manutenção e a melhoria das rodovias sob gestão direta do governo federal. Um dos responsáveis pelo levantamento, o professor Paulo Resende, da Fundação Dom Cabral, diz que isso não significa abrir mão completamente da participação federal no gerenciamento das estradas. “É preciso pensar fora da caixa”, disse ele a Veja, após a apresentar os dados. “Talvez pensando em títulos públicos ou outro modelo mais sustentável. A presença do estado, no entanto, continua necessária em lugares que não são atrativos para a iniciativa privada.”