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Entenda os motivos que fizeram o Relógio do Juízo Final avançar ainda mais

Criado em 1947, o simbólico relógio nunca esteve tão próximo da meia-noite, o que signicaria o fim do nosso planeta

Por Marilia Monitchele
26 jan 2023, 17h20

A ideia do apocalipse não é algo distante da nossa cultura. O cinema e a literatura já imaginaram centenas de possibilidades para o fim da humanidade. Este ano, o Conselho de Ciência e Segurança do Bulletin of the Atomic Scientists acredita que estamos mais perto que nunca do Juízo Final tão imaginado na cultura pop. De acordo com a previsão, estamos há exatos 90 segundos da destruição humana. O icônico Relógio do Juízo Final, que desde 1947 aponta o quão próximos estamos do fim, nunca esteve tão perto da meia-noite.

O pessimismo dos cientistas se dá em grande parte, mas não exclusivamente, pelos efeitos da Guerra da Ucrânia, que avança para o segundo ano, e o aumento do risco da escalada nuclear. A crise climática, o enfraquecimento das normas e instituições globais necessárias para mitigar os riscos associados ao avanço das tecnologias e ameaças biológicas, como a Covid-19, também desempenham um papel na expectativa do grupo. Os ponteiros do relógio são definidos pelo Conselho de Ciência e Segurança do Boletim, em consulta direta com os apoiadores do projeto, que inclui 10 ganhadores do Prêmio Nobel. A marcação se tornou um indicador reconhecido da vulnerabilidade do mundo à catástrofes causada por tecnologias disruptivas, risco nuclear e mudanças climáticas.

O Bulletin of the Atomic Scientists foi fundado em 1945 por Albert Einstein e outros cientistas da Universidade de Chicago que ajudaram a desenvolver as primeiras bombas atômicas, no conhecido Projeto Manhattan. Dois anos depois, como capa de uma publicação impressa, criou-se o Relógio do Juízo Final, cujo objetivo era transmitir, de forma didática, as ameaças à humanidade e ao planeta. De lá para cá, os ponteiros já foram reajustados 25 vezes. Antes da mudança registrada em 2023, o relógio marcava 100 segundos para a meia-noite após atualização feita em 2020.

A criação de um boletim de alerta para perigos atômicos, e posteriormente do Relógio do Juízo Final, começou como uma ação de emergência após os bombardeios das cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki no fim da Segunda Guerra Mundial. O grupo previa naquele momento que as bombas atômicas eram apenas a primeira de muitas ameaças que poderiam ser criadas pela ciência moderna. Assim, idealizaram um meio de ajudar o público amplo a entender esses efeitos, ao mesmo tempo em que tentavam influenciar na elaboração de políticas anti-atômicas.

O físico americano Leonard M. Rieser, que trabalhou no Projeto Manhattan, ajusta o Relógio do Juízo Final para 17 minutos para a meia-noite em 1991 -
O físico americano Leonard M. Rieser, que trabalhou no Projeto Manhattan, ajusta o Relógio do Juízo Final para 17 minutos para a meia-noite em 1991 – (Carl Wagner/Chicago Tribune/Tribune News Service/Getty Images)

Em 1947, a maior ameaça enfrentada eram as armas nucleares, em um contexto de Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética, as duas maiores potências que protagonizaram uma declarada corrida armamentista e tecnológica. Em 2007, pela primeira vez, o boletim considerou os possíveis efeitos das mudanças climáticas. Além da ameaça nuclear e dos gases de efeito estufa que prejudicam a saúde do planeta, lidamos com outras implicações do avanço científico, como ataques cibernéticos, usos indevidos da engenharia genética e da inteligência artificial.

A Guerra da Ucrânia ilustra bem esse novo contexto. As ameaças nucleares realçam os perigos envolvendo os dois países. Além disso, o conflito levantou questões sobre a forma como os Estados interagem e sobre o quão dispostos eles estão a transgredir normas de conduta internacionais, que poderiam mitigar riscos extremos. Os efeitos do conflito não estão restritos apenas ao evidente perigo nuclear, mas também minam esforços para combater as mudanças climáticas, levando a um maior investimento em combustíveis fósseis a fim de diminuir os impactos da crise de abastecimento global resultante da dependência do gás russo.

O Relógio serve como marcador desses perigos, mostrando os riscos da extinção humana e do planeta. No entanto, está longe de representar uma previsão imutável ou mesmo certeira, trata-se de uma metáfora da catástrofe, de uma ferramenta educacional que, na maioria das vezes, deseja estar errada, mesmo que o caminhar da humanidade não contribua tanto para previsões menos fatalistas.

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