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Em dez anos, mestiçagem nos Estados Unidos cresce 50%

Casamentos entre negros e brancos no Sul do país aceleram fenômeno

Por The New York Times
Atualizado em 6 Maio 2016, 17h09 - Publicado em 27 mar 2011, 20h37

No sul dos Estados Unidos, há gerações existia um tabu: cruzar publicamente a linha das cores do amor. Há menos de 45 anos, o casamento entre negros e brancos era ilegal e seguiu sendo mal visto por muito tempo desde então. Assim, quando o técnico de basquete universitário Jeffrey Norwood recebeu uma proposta de trabalho na região teve suas reservas. Negro, ele namorava uma mulher de origens branca e asiática.

Mesmo receoso, ele mudou-se para o Mississipi, casou com a namorada e teve uma filha. Taylor Rae Norwood, de 3 anos, foi contabilizada no último censo como negra, branca e asiática. A filha de Norwood é uma das milhares de crianças mestiças que tornaram o Mississipi o estado com uma das populações multirraciais em mais rápida expansão do país. O número de mestiços no estado aumentou 70% entre 2000 e 2010, de acordo com novos dados do Census Bureau.

Relatórios do censo 2010 mostram que a população mestiça dos Estados Unidos está crescendo muito mais rapidamente do que os demógrafos estimavam, especialmente no sul e em partes do Meio-Oeste. A conclusão baseia-se na análise de 42 estados. Os dados dos oito outros estados serão divulgados em breve.

Na Carolina do Norte, a população de mestiços dobrou. Na Geórgia, Kentucky e Tennessee aumentou cerca de 80%. Em Indiana, Iowa e South Dakota, a população mestiça cresceu 70%. “Qualquer índice acima dos 50% é impressionante”, diz William Frey, sociólogo e demógrafo da Brookings Institution. “Estados como Mississipi tiveram uma explosão no número de residentes que se identificaram ao mesmo tempo como brancos e negros. Era algo que as pessoas não previam há 10 ou 20 anos.”

Autoridades do censo esperavam uma taxa de crescimento multiétnico nacional de cerca de 35% desde 2000, quando 7 milhões de pessoas – 2,4% da população – disseram pertencer a mais de uma raça. A agência ainda não anunciou um índice nacional de crescimento no número de mestiços, mas certamente estará próximo dos 50%.

Mistura local – A configuração não é uniforme. Em estados como Califórnia, Havaí e Oklahoma, onde pessoas mestiças já correspondem a uma porcentagem significativa do total, os aumentos são menores do que em locais como Mississipi. No Havaí – onde o grupo multirracial corresponde a 23% da população, mais que qualquer outro estado – o crescimento desde 2000 foi de 23,6%.

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Ainda no Havaí, a miscigenação predominante é de asiáticos e havaianos/ilhéus do Pacífico nativos, enquanto em Oklahoma se dá mais entre índios americanos e brancos. No Mississipi, a mistura mais comum é de negros e brancos – historicamente e hoje em dia, os dois grupos com menor probabilidade de se casar entre si, dizem os sociólogos, por conta da duradoura distância social e econômica entre eles.

O Mississipi liderou o país no crescimento de casamentos miscigenados durante grande parte da última década, de acordo com a análise de Frey da Pesquisa Comunitária Americana. Ainda assim, pessoas mestiças correspondem a uma pequena porcentagem da população do estado: 34.000 indivíduos, ou cerca de 1,1%. E muitos reclamam de persistentes desigualdades raciais.

Mudança de comportamento – “As atitudes raciais estão mudando”, diz Marvin King, professor de Ciência Política da Universidade do Mississipi, negro, casado com uma branca e pai de uma filha mestiça de 2 anos. “No dia a dia, certamente não existe a hostilidade que havia há alguns anos. Ninguém mais precisa esconder relacionamentos inter-raciais.”

Norwood e sua esposa, Patty Norwood, concordam. “Tem sido muito tranquilo aqui”, diz Norwood. “Algumas pessoas que antes podiam não se sentir confortáveis com isso agora não têm escolha. Sempre me diziam: quanto mais para o sul, mais racismo. Mas isso não é verdade.”

Jovens mestiços – A participação da população multirracial com menos de 18 anos no Mississipi é mais alta do que a participação de jovens na população geral, sugerindo que grande parte do crescimento do grupo mestiço pode ser explicada por nascimentos recentes. Algum crescimento também pode ser resultado de americanos mais velhos que antes se identificavam como negros ou outra raça repensando a forma de ver sua própria identidade.

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“A realidade é que tem havido uma longa história de relacionamentos entre negros e brancos – elas apenas não eram públicos”, diz o professor Matthew Snipp, demógrafo do departamento de sociologia da Stanford University. “Esses dados são mais correções do que mudanças. De certa forma, eles oferecem um retrato mais preciso de sua herança racial, que no passado seria suprimida.”

Vizinhança – De acordo com o Censo, os mestiços têm tendência a morar em bairros que possuem uma grande mistura de raças com uma proporção maior de brancos do que aqueles que se identificam apenas como negros. Isso sugere que eles desfrutam de maior status socioeconômico, segundo o demógrafo Frey.

Jeffrey e Patty Norwood não buscaram um bairro diversificado, mas acabaram vivendo em um. Em 2001, eles compraram a primeira casa construída numa rua. À medida que apareciam casas, eles notavam que os vizinhos eram famílias negras e mestiças.

Patty diz nunca ter certeza sobre que raça indicar em formulários. “Eu geralmente opto por asiática, pois só posso marcar um quadradinho”, conta Patty Norwood. “A vida da nossa filha não será assim. Ela sabe o que ela é e está exposta a um pouquinho de tudo. Os tempos certamente são outros.”

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