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Em 2017, missões espaciais serão de empresas privadas

No lugar das grandes agências, como a Nasa, companhias particulares farão os primeiros voos tripulados ao espaço, um marco

Por Rita Loiola Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 12 dez 2016, 19h55 - Publicado em 12 dez 2016, 18h02

No futuro, 2017 deve ser lembrado como o ano em que a exploração espacial ganhou novos contornos. Será a primeira vez em que as viagens de astronautas ao espaço serão entregues a empresas privadas, até então responsabilidade de agências espaciais governamentais, como a Nasa. Durante o ano, devem acontecer os voos tripulados inaugurais da SpaceX, empresa do sul-africano Elon Musk; da Blue Origin, de Jeff Bezos, o bilionário fundador e CEO da Amazon; e da Boeing, que ganhou os primeiros contratos da Nasa para fazer o transporte de astronautas para a Estação Espacial Internacional (ISS). Se tudo correr bem, uma nova era espacial, mais democrática, terá começado, em que o setor privado fará as missões mais curtas e menos ousadas – ao menos do ponto de vista científico – enquanto as agências dedicam-se a viagens de longo prazo e mais arriscadas, como o voo a Marte.

“O ano de 2017 trará uma roupagem definitiva de como iremos encarar a exploração espacial daqui em diante. Além dos serviços prestados por futuras cápsulas privadas aos governos, podemos imaginar o crescimento massivo do turismo espacial com preços cada vez mais acessíveis – a virada de década que está por vir pode representar uma grande revolução para a história da humanidade”, explica o engenheiro espacial Lucas Fonseca, da missão Garatéa, a primeira viagem espacial brasileira à Lua. “Há também iniciativas na China, Índia, Japão e União Europeia, expandindo o conhecido eixo Estados Unidos-Rússia. Estamos, de fato, democratizando o acesso ao espaço.”

 

Voos tripulados

Os esforços para a participação comercial na exploração espacial começaram em 2010, quando a Nasa investiu cerca de 50 milhões de dólares em cinco iniciativas privadas capazes de oferecer meios seguros, confiáveis e com baixo custo para o transporte de astronautas e carga ao espaço. Um ano depois, em 21 de julho de 2011, o ônibus espacial Atlantis, da Nasa, faria sua derradeira missão, transportando quatro astronautas à ISS, e encerrando a “era dos ônibus espaciais”, que havia começado trinta anos antes. O objetivo da Nasa, ao financiar empresas privadas que fizessem voos tripulados ao espaço era baratear essas viagens, que custavam milhões de dólares ao governo americano. De acordo com dados da agência, a preparação e lançamento da missão de um ônibus espacial custava, em 2010, a quantia de 775 milhões de dólares. Só a construção do ônibus espacial Endeavour, que substituiu o Challenger, em 1992, custou 1,7 bilhão de dólares.

O plano faz parte de uma estratégia de longo prazo da agência espacial americana, com a meta de se voltar a missões mais ambiciosas, que exigem grande dedicação de astrônomos e cientistas, como o voo a Marte. Inicialmente prevista para 2030, a viagem ao planeta seria um retorno dos Estados Unidos às jornadas espaciais cientificamente desafiadoras e de grande apelo público. A ideia é deixar para empresas privadas o caminho já trilhado pela baixa órbita da Terra (até 400 quilômetros de altitude) e até a Lua, focando os investimentos em áreas inexploradas do universo, que incluem as missões ao espaço profundo (como a New Horizons, que revelou incríveis imagens de Plutão) e além.

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Com esse projeto em mente, a Nasa expandiu seus investimentos e lançou um programa para facilitar o transporte privado ao espaço de pessoas e cargas. Em setembro de 2014, a SpaceX e a Boeing assinaram um contrato de 6,8 bilhões de dólares para fazer testes de cápsulas capazes de chegar à ISS. De acordo com plano, até 2017 elas deverão ser capazes de levar astronautas, em segurança, ao espaço.

“Esses próximos testes certamente serão um marco para a iniciativa privada, que começa a, efetivamente, participar da conquista espacial. Isso será excelente para a exploração do cosmo e para nós, aqui na Terra. Sabemos que para conseguir fazer o lançamento de um equipamento tão complexo como uma nave tripulada, é necessário o desenvolvimento de muita tecnologia. Esse conhecimento acaba sendo revertido em tecnologias de uso diário”, explica Rundsthen Vasques de Nader, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e astrônomo do Observatório do Valongo, na UFRJ.

De acordo com o calendário das empresas, a primeira a fazer os testes será a SpaceX. A cápsula Dragon , lançada pelo Foguete Falcon 9, fez história em 2012 ao se tornar primeira nave espacial construída por uma empresa privada a transportar carga para a Estação Espacial Internacional. Nos últimos anos, os lançamentos da SpaceX parecem estar cada vez mais seguros e espera-se que o voo tripulado seja possível até o fim de 2017.

O foguete Falcon 9 fez mais de um pouso em plataformas terrestres e oceânicas. Mas, em setembro, explodiu em um teste, danificando um satélite do Facebook. A empresa ainda investiga as causas do acidente para aperfeiçoar o foguete, já que um problema como esse é inaceitável em testes de voos tripulados. De acordo com a SpaceX, a cápsula Dragon está sendo aprimorada e os primeiros experimentos de voos tripulados, inicialmente previstos para 2016, devem ocorrer até maio de 2017.

Já a Blue Origin anunciou seus testes de voos tripulados para o mesmo ano – e as primeiras viagens turísticas para 2018. A empresa é conhecida por ter feito, em novembro de 2015, o primeiro voo de um foguete reutilizável, o New Shepard. Em outubro deste ano, a empresa testou com sucesso um sistema de emergência que poderia salvar tripulantes em caso de problemas com o foguete.

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Durante o teste, um propulsor e uma cápsula decolaram juntas e, no espaço, separaram-se, descendo lentamente até o solo, sem qualquer avaria. Segundo Bezos, o teste foi o “mais difícil” já feito pela empresa. “Nosso próximo voo será dramático, não importa como termine”, escreveu o empresário em seu blog. O sistema de emergência era uma das tecnologias que faltava para os primeiros testes de equipamentos tripulados em direção ao espaço.

Outra companhia com testes previstos é a Boeing, a mais antiga no ramo. Desde o início dos planos da Nasa para empregar a iniciativa privada em voos espaciais, a Boeing e sua cápsula Starliner estão envolvidas.  Em novembro, os testes de células solares, responsáveis pela energia da cápsula foram bem sucedidos. A proposta é que a CST-100 Starliner, impulsionada pelo foguete Atlas 5, decole da base de Cabo Canaveral, na Flórida, levando carga e astronautas, inicialmente, para a ISS. Os primeiros testes, previstos para o fim de 2017, foram adiados para o início de 2018.

Chegada comercial à Lua

Outra iniciativa privada que deve marcar o ano é a competição Google Lunar Prize, que pretende, até dezembro, enviar uma sonda à Lua. O prêmio, parceria entre o Google e a organização sem fins lucrativos XPrize, foi idealizado em 2007 com o objetivo de “incentivar empreendedores espaciais a criar uma nova era de acesso barato à Lua e além”.  Para entrar na competição, era necessário que uma equipe de cientistas apresentasse um plano para pousar no satélite e percorrer 500 metros em sua superfície usando uma sonda controlada a distância – da Terra. A condição para ganhar a recompensa, de 20 milhões de dólares, era que ao menos 90% do financiamento do projeto viesse de vir do setor privado; os outros 10% poderiam partir do governo.

O prazo inicial para lançar o foguete era 2012 – adiado ano a ano até 2017. Restaram dezesseis empresas (entre elas, uma brasileira) e duas delas assinaram contratos para, em 2017, lançar foguetes com as sondas. A americana Moon Express, em conjunto com a neozeolandeza Rocket Lab, devem fazer o lançamento de uma base nos Estados Unidos. A SpaceIL, de Israel, uniu-se à SpaceX para utilizar o foguete Falcon e lançar sua sonda.

Entre outras coisas, a competição busca fomentar o turismo e a mineração espacial. Junto à conquista do espaço por empresas, esses são objetivos que, pouco a pouco, estão ficando mais próximos da realidade. Protagonistas espaciais, como Estados Unidos e Rússia, terão, nos próximos anos companhia, como a União Europeia e países como China, Índia – e até o Brasil. “Estamos modificando, radicalmente, a forma de olhar para o espaço”, afirma Gustavo Rojas, astrônomo e físico da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). “Essas iniciativas, se bem sucedidas, podem marcar o início dessa nova era. A tendência, para os próximos anos, é a presença privada no espaço e um acesso mais democrático a ele.”

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