Diesel produz sete vezes mais poluente nocivo à saúde do que gasolina
Pesquisa americana mostra que, mesmo menor, frota de veículos a diesel é responsável pelo maior parte da produção do composto altamente nocivo à saúde. Estudo semelhante está sendo conduzido no Brasil

Em São Francisco, na Califórnia, pouco mais de 10% dos automóveis usam diesel como combustível. Na mesma cidade, entretanto, a queima de diesel é responsável por mais de 60% da produção dos aerossóis orgânicos secundários (AOS), partículas nocivas à saúde humana. Ao analisar a média dos Estados Unidos, onde o diesel corresponde a quase 30% da queima total de combustíveis para automóveis, a proporção aumenta para 80%. Os dados foram obtidos após um estudo da Universidade da Califórnia em Berkeley, publicado nesta segunda-feira na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), que pela primeira vez comparou a produção de AOS na atmosfera proveniente de carros com motores a gasolina e a diesel. Essas partículas de aerossóis são responsáveis por 90% dos danos à saúde causados por poluentes emitidos de escapamentos. Formadas na atmosfera a partir de gases emitidos pelos veículos automotores, também contribuem para o aquecimento global. “De todos os poluentes atmosféricos, os aerossóis (primários e secundários) são os mais prejudiciais à saúde”, diz Paulo Saldiva, pesquisador do Laboratório de Poluição Atmosférica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP). Ele explica que os aerossóis têm um efeito de longo prazo similar ao do cigarro, porém em intensidade menor.
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AEROSSÓIS
Os aerossóis são partículas sólidas ou líquidas nocivas à saúde. Os primários são emitidos diretamente pelo escapamento de um automóvel. Já os secundários são formados na atmosfera a partir dos gases liberados pelo cano de descarga de um carro ou de um ônibus, por exemplo.
O diesel já era reconhecido como mais poluente em relação à gasolina pelas altas emissões de carbono negro e de óxidos de nitrogênio. Também se sabia que o combustível emitia grandes concentrações de aerossóis primários, mas pouco se conhecia sobre sua participação na composição dos aerossóis secundários. De acordo com o estudo, o diesel tem um potencial 6,7 vezes maior para formar aerossóis secundários do que a gasolina. “O artigo mostra que, se você quiser fazer uma política de redução de poluição por aerossóis, a primeira ação terá de ser voltada para os veículos a diesel”, afirma Paulo Artaxo, professor do Laboratório de Física Atmosférica do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP). Pesquisa brasileira – “Do que sai do escapamento de um veículo, o nosso organismo é muito mais sensível às partículas (como o AOS) do que aos gases”, diz Artaxo. O professor da USP participa, junto com outros cientistas da mesma universidade, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e da Petrobrás, de experimentos similares que visam identificar a relação de produção dos aerossóis secundários provenientes de emissões veiculares nas cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro. Trata-se, segundo os dois especialistas ouvidos pelo site de VEJA, de uma questão de saúde pública. Estudos da Faculdade de Medicina da USP já revelaram que, só na capital paulista, ocorrem por ano 4.000 mortes precoces decorrentes da exposição à aerossóis primários e secundários na atmosfera. “Se reduzíssemos a poluição para os níveis recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), ganharíamos três anos de expectativa de vida”, revela Saldiva, do Laboratório de Poluição Atmosférica. CONHEÇA A PESQUISA
Título original: Elucidating secondary organic aerosol from diesel and gasoline vehicles through detailed characterization of organic carbon emissions
Onde foi divulgada: Proceedings of the National Academy of Science of the United States of America (PNAS)
Quem fez: D. Gentner, G. Isaacman,D. Worton, A. Chan, T. Dallmann, L. Davis, S. Liu, D. Day, L. Russell, K. Wilson, R. Weber, A. Guha, R. Harley, A. Goldstein
Instituição: Universidade da Califórnia
Resultado: Testes em automóveis na Califórnia revelaram que o diesel produz até sete vezes mais aerossóis secundários do que a gasolina. O composto é altamente nocivo à saúde. Além de permitir direcionar esforços de fiscalização nos veículos a diesel, a pesquisa brasileira deve reforçar a necessidade de elaboração de projetos em eficiência no país. Ainda muito aquém dos padrões europeus e norte-americanos, os combustíveis brasileiros têm teores maiores de enxofre e de outros hidrocarbonetos. Recentemente, o Brasil abraçou normas para reduzir essas substâncias tóxicas nos combustíveis, mas a adoção generalizada destes combustíveis mais limpos deve demorar ainda alguns anos. Para medir a formação de AOS, os pesquisadores da Universidade da Califórnia, em Berkeley, utilizaram um dinamômetro, equipamento que monitora os gases que saem dos escapamentos, além de medições atmosféricas. A mesma metodologia está sendo aplicada nos estudos em curso no Brasil, segundo Artaxo.