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Como defender o planeta dos asteroides

O asteroide 2012 DA14 será o primeiro objeto de seu tamanho a passar tão perto da Terra. Ela não oferece perigo, mas serve para lembrar que a Terra está constantemente ameaçada. Conheça os planos dos cientistas para lidar com objetos maiores e mais destrutivos

Por Guilherme Rosa
Atualizado em 6 Maio 2016, 16h23 - Publicado em 15 fev 2013, 08h46

No final da tarde desta sexta-feira, o asteroide 2012 DA14 vai passar raspando pela Terra. O corpo de 45 metros de diâmetro vai passar a apenas 27.700 quilômetros da superfície do planeta, chegando a invadir a órbita de alguns satélites. Desde que esse tipo de medição é realizada, é a primeira vez que um objeto desse tamanho passa tão perto. Por sorte, os cientistas já sabem que não há nenhum risco de colisão. Mesmo assim, uma passagem tão próxima pegou os astrônomos de surpresa – eles sabem do evento há cerca de apenas um ano – e serve para lembrar que a Terra está localizada em uma espécie de campo minado galáctico, cercada por todos os lados por asteroides e cometas imensos. Enquanto isso, a humanidade parece dar os primeiros passos para garantir um futuro diferente dos dinossauros – extintos após a queda de um meteorito há 66 milhões de anos.

O asteroide 2012 DA14 tem uma órbita de 368 dias em torno do sol, muito similar à da Terra, o que garante que os dois astros se encontrem pelo menos uma vez a cada ano. Desta vez, o momento de maior proximidade entre os dois corpos se dará às 17h24 desta sexta-feira, quando o asteroide sobrevoará o Oceano Índico, próximo da ilha de Sumatra. Nessa hora, ele estará mais baixo que os satélites em órbita geoestacionária, como os de televisão e geolocalização – mas ainda estará acima de todos os outros. Sua distância da Terra será apenas um décimo da que separa o planeta da Lua.

Mesmo com toda essa proximidade, ele foi descoberto somente no dia 23 de fevereiro do ano passado, por astrônomos do La Sagra Sky Survey, um observatório localizado no sul da Espanha. Como ele, existem muitos outros asteroides. Os astrônomos preveem que existam pelo menos 500.000 outros de mesmo tamanho com órbitas próximas à Terra, mas só foram capazes de localizar 1% deles.

A verdade é que a Terra está sendo bombardeada por rochas espaciais a todo o momento. Quando são muito pequenas, se desfazem na atmosfera – são as estrelas cadentes. “Blocos um pouco maiores também entram constantemente no planeta. Na grande maioria das vezes, caem em áreas desabitadas, como desertos, florestas e mares e passam despercebidos”, diz Enos Picazzio, professor do Instituto de Astronomia da Universidade de São Paulo. O problema é quando o asteroide tem algumas dezenas de metros – o impacto seria devastador.

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Meteorito russo – Os astrônomos já conhecem a rota do asteroide 2012 DA14 e sabem que ele não vai chegar a tocar o planeta. No entanto, se ele caísse na Terra, a destruição seria enorme. O impacto liberaria aproximadamente 2,5 megatons de energia na atmosfera, cerca de 200 vezes a energia liberada pela bomba de Hiroshima, causando devastação regional.

Os cientistas comparam as consequências desse impacto imaginário ao causado por um meteorito que caiu na Sibéria em 1908, no que ficou conhecido como Evento de Tunguska. Ele era um pouco menor que o 2012 DA14 – não passava dos 40 metros – mas destruiu cerca de 1.200 quilômetros quadrados de floresta. “O asteroide devastou completamente a região, que era inóspita. Ele não chegou a atingir o solo, se desintegrou no ar. Mas a desintegração foi tão violenta que a onda de choque e calor queimou as árvores em volta. Se caísse em uma região densamente povoada, a destruição iria ser brutal”, diz Enos Picazzio.

Para calcular o impacto de um asteroide na Terra, os cientistas precisam levar uma série de variáveis em conta. Seu grau de ameaça pode variar conforme o tamanho, a área que atingir, sua composição e velocidade no espaço. “Toda a energia cinética do asteroide é transferida para o solo – é isso que causa o estrago. A energia dissipada por uma colisão dessas é maior do que qualquer coisa criada pelos homens. Para se ter uma ideia, um corpo desses pode colidir com a Terra a uma velocidade de 30 quilômetros por segundo. Se alguém visse um asteroide passando na altura de um avião, levaria menos de um segundo para ele bater contra a superfície”, diz Enos Picazzio.

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Um estudo de 1994, publicado por cientistas da NASA na revista Nature, tentou levar essas variáveis em conta e fazer uma média dos danos causados pelo impacto de um meteorito. Segundo os cálculos, asteroides com mais de 50 metros caem na Terra com uma frequência de entre 250 e 500 anos, causando em média cinco mil mortes. Objetos com mais de um quilômetro, caem a cada um milhão de anos e podem causar um bilhão de mortes. Já os corpos com mais de seis quilômetros, capazes de causar extinções em massa como a que matou os dinossauros, caem a cada 100 milhões de anos. Mesmo raros, esses eventos são muito perigosos, e chamaram atenção da comunidade científica, que já começou a pensar em como se defender.

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Catálogo espacial – Os cientistas dizem que antes que se possa desenvolver uma estratégia para se proteger dos meteoritos, é importante saber quantos cometas e asteroides ameaçam a Terra. Antes de desenvolver tecnologias de defesa, eles dizem que precisam saber do que, quando e onde se defender.

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Uma série de times de astrônomos, amadores e profissionais, ajudam a vasculhar os céus ao redor do mundo. Os grupos mais importantes são mantidos por Universidades, como o MIT ou a Universidade do Arizona, e pela NASA. Ao localizar algum corpo novo, eles enviam as informações para o Minor Planet Center, um centro financiado pela NASA que visa manter um banco de dados com todos os objetos já descobertos.

Por causa de seu tamanho, os objetos maiores são os mais fáceis de serem descobertos, e a chance de um deles colidir com a Terra nas próximas décadas está praticamente descartada. “Praticamente todos os asteroides com mais de um quilômetros são conhecidos. O problema surge quando começamos a procurar por objetos menores”, diz Enos. Até agora, já foram catalogados 9.688 objetos. Desses, os pesquisadores consideram que 1.377 mereçam observação constante, por terem rotas potencialmente perigosas.

Para descobrir se a aproximação de uma objeto é realmente preocupante, os pesquisadores desenvolveram uma escala que mistura seu potencial de destruição com a probabilidade de atingir a Terra. A Escala de Torino classifica os asteroides de zero a dez, onde o zero representa nenhuma chance de colisão com o planeta e o dez representa certeza de catástrofe global. Entre os objetos encontrados até hoje, apenas um deles foi avaliado com uma nota um – todos os outros receberam a pontuação zero. Isso dá tempo para que os cientistas se antecipem.

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Primeira defesa da Terra – Existem duas estratégias para afastar cometas, asteroides ou objetos potencialmente perigosos. Uma delas pressupõe que o objeto seja detectado décadas antes de chegar na Terra, e os cientistas tenham bastante tempo para agir. Nesse caso, bastaria lançar em sua direção algum dispositivo que altere sua rota aos poucos. Sem nenhum grande impacto, na data projetada, ele irá errar o planeta. “Já levantaram a possibilidade de lançar uma pequena nave que grudaria no asteroide. Com a força de seus foguetes, ela o empurraria para fora de seu caminho. Outros pesquisadores pensaram em lançar ao espaço pequenas naves com espelhos ou laseres, que com seus raios de luz poderiam, muito lentamente, tirar o objeto de órbita”, diz Enos Picazzio.

O pesquisador também cita a possibilidade de, em um futuro mais distante, a humanidade desenvolver uma espécie de sistema de patrulhamento espacial. Ele descreve uma série de naves no espaço entre Marte e a Terra que, assim que detectassem um asteroide potencialmente perigos, mudassem sua direção.

No entanto, também existe uma possibilidade mais perigosa, que a aproximação surpresa do 2012 DA14 trouxe à tona: um asteroide ser descoberto na última hora, deixando pouquíssimo tempo de reação. Nesse caso, a única solução pode ser a bomba atômica. Apenas uma explosão de grande magnitude poderia mudar a direção de um grande corpo vindo em direção à Terra com tempo de colisão de menos de dez anos.

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Uma equipe da Universidade Estadual do Iowa, nos Estados Unidos, deu início ao Centro de Pesquisas de Desvio de Asteroides. Ali, eles estudam uma série de alternativas para defender a Terra. O enfoque atual dos pesquisadores, no entanto, é nas técnicas que usam bomba atômica, pois estão mais perto de ficar prontas e podem ser usadas rapidamente em caso de emergência – eles calculam que poderão testar a tecnologia em cinco anos. “Se tivermos um tempo muito pequeno de ação, podemos usar a tecnologia em menos de dois anos. Vamos precisar de um ano para projetar e construir os sistemas, e mais alguns meses para a nave atingir o alvo. Se descobríssemos que haveria um impacto em 2015, conseguiríamos estar preparados”, disse o engenheiro aeroespacial Bong Wie, responsável pelo projeto, em entrevista ao site de VEJA.

A estratégia desenvolvida pelo pesquisador é usar um dispositivo composto de duas cargas principais. A primeira abre um rombo no asteroide. A segunda entra na cratera e explode o corpo a partir de dentro, o que pode garantir uma explosão ate vinte vezes mais eficaz do que uma na superfície. O projeto recebeu um financiamento de 100.000 dólares da NASA. “Parece que, de modo devagar, os governos estão começando a considerar seriamente esse problema. A NASA e as agencias espaciais europeias estão começando a dar algum dinheiro para esse tipo de pesquisa”, diz Bong Wie.

Pouco a pouco, a humanidade parece estar montando as primeiras estratégias de defesa que podem garantir seu futuro na Terra. “Conforme aumentamos nosso conhecimento e dominando novas tecnologias, começamos a aumentar nossas condições de sobrevivência. Isso faz parte da evolução da sociedade humana”, diz Picazzio. Como todos os astrônomos sabem, é apenas questões de tempo – mesmo que sejam bilhões de anos – para que a Terra volte a ser atingida por um asteroide causador de grandes extinções. A intenção dos cientistas é que ela esteja preparada.

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