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Cientistas reconstroem rosto de ‘carioca’ que viveu há 2 mil anos

As feições são semelhantes aos índios encontrados na região pelos portugueses, 1.500 anos depois

Por Leticia Fuentes Atualizado em 10 abr 2018, 17h18 - Publicado em 22 mar 2018, 16h06

Arqueólogos do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) revelaram, nesta quinta-feira, como seria a aparência dos indivíduos que viveram na capital fluminense há 2.000 anos. A descoberta foi a primeira reconstrução facial de um “carioca” da pré-história e pode ajudar a desvendar como viviam e se relacionavam os povos antigos brasileiros.

“Esse indivíduo vem de uma população que habitou a região do Rio de Janeiro entre 8.000 e 1.000 anos atrás”, disse a VEJA o arqueólogo Murilo Bastos, que trabalhou na descoberta. “Ao estudá-lo, estamos resgatando 7.000 anos de história.”

Bastos explica que o rosto desse indivíduo é parecido com os índios encontrados pelos portugueses ao desembarcar no Brasil, mas com traços mais robustos. “Era um homem de aproximadamente 38 anos, com 1,40 metro de altura – considerado ‘baixinho’ para os padrões atuais”, explica o pesquisador.

A parte mais surpreendente, segundo ele, é que, com a análise do esqueleto, foi possível não só descobrir como eram as feições desse indivíduo, mas também quais hábitos ele mantinha em vida. “Os dentes, por exemplo, não apresentavam cáries. Isso é bem inesperado, afinal, estamos falando de um homem das cavernas que não tinha o costume de escovar os dentes, como nós temos”, afirma. “Esse é um indício de que a dieta do povo que viveu ali era pobre em carboidratos.”

Homem das cavernas Carioca
Crânio do homem das cavernas encontrado no sambaqui do Zé Espinho, na zona oeste do Rio (Museu Nacional da UFRJ/Divulgação)

O pesquisador explica que os cientistas já sabiam, por causa dos registros históricos, que esses grupos eram caçadores-coletores – plantavam seus próprios alimentos e também caçavam. Porém, a ausência de cáries indica que eles se alimentavam menos de plantas do que de animais.

“É interessante notar, também, que o esqueleto não apresenta nenhum calo característico de quando o osso se recupera de uma fratura. Isso indica que esse indivíduo não teve uma morte violenta, nem sofreu fraturas muito críticas em vida”, diz Bastos.

O esqueleto foi encontrado por arqueólogos do Museu Nacional na década de 1980, durante escavações no sítio Sambaqui do Zé Espinho, localizado na região de Guaratiba, zona oeste da cidade do Rio de Janeiro. O excelente estado de preservação do crânio permitiu estimar a posição dos músculos, olhos e nariz para recriar a aparência do indivíduo em vida.

A equipe fez uma réplica virtual do crânio em 3D a partir de fotografias com câmera digital. Depois, as estruturas anatômicas foram modeladas virtualmente e cobertas com uma camada de pele, adicionando detalhes como expressão facial, cabelos e sombras.

Luzia

Bastos esclarece, no entanto, que o indivíduo escavado não possui nenhuma relação com Luzia, nome dado ao fóssil mais antigo encontrado na América, que foi escavado na década de 1970 em Lagoa Santa, em Minas Gerais.

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O esqueleto “carioca” é muito mais jovem do que a “mineira”, que teve sua idade estimada em 11.000 anos. “É possível que eles nem tenham chegado a conviver”, afirma o arqueólogo.

Além da diferença de idade e da distância física que separa as regiões habitadas pelos dois grupos, Bastos diz que eles tinham características físicas completamente diferentes. “Ele tem um aspecto bem parecido com os indígenas que habitaram a região depois, enquanto ela é mais semelhante aos aborígenes que eram encontrados na Austrália.”

Como Luzia veio parar no Brasil é, desde que ela foi descoberta, um mistério para os arqueólogos. “Talvez, estudos posteriores mostrem alguma interação entre o povo de Luzia [e do esqueleto do Rio de Janeiro], mas ainda não é possível afirmar nada”, diz Bastos.

Até o momento, única coisa que os dois esqueletos têm em comum é que ambos fazem parte do acervo do Museu Nacional.

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