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Cientistas querem base científica na Antártida mais segura e transparente

Especialistas pedem reestruturação da base destruída e pedem o fim de visitas inesperadas à estação — parentes de políticos que, ao viajar no avião da FAB, ocupam o lugar de quem realmente deveria estar lá: os próprios cientistas

Por Marco Túlio Pires
Atualizado em 6 Maio 2016, 16h45 - Publicado em 27 fev 2012, 20h00

O início da reconstrução da EACF (Estação Antártica Comandante Ferraz), que foi praticamente destruída em um incêndio no sábado, deve ocorrer “o mais rápido possível”, segundo prometeu a presidente Dilma Rousseff. Contudo, pesquisadores brasileiros envolvidos no programa antártico querem que a ‘nova estação’, quando pronta, seja mais segura e que a pesquisa na Antártida seja menos burocrática e mais transparente, especialmente em relação aos visitantes da base.

Uma das primeiras modificações na estação brasileira deveria ser na localização de cada setor, de acordo com Jefferson Simões, diretor do Centro Polar e Climático da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Para Simões, que coordenou a implantação do primeiro módulo científico brasileiro no continente antártico, a estrutura da base precisa ser revista. A estação brasileira é composta por blocos, ou contêineres, que formam um complexo de 2.600 metros quadrados. A maior parte desses blocos está muito próxima. Seria melhor se ficassem mais distantes uns dos outros. “Os setores de meteorologia, rádio e química não foram afetados porque estavam isolados”, diz.

Yocie Valentin, coordenadora do INCT-APA (Instituto Nacional da Ciência e Tecnologia Antártico de Pesquisas Ambientais), concorda. “A vantagem de termos blocos mais próximos é não passarmos frio ao transitar pelas diferentes partes da estação”, diz. “Contudo, temos que avaliar se isso é mais importante do que a segurança das pessoas que estão lá.” Se os módulos estivessem separados, afirma Yocie, o fogo não encontraria combustível. “O bloco onde o fogo começou seria destruído, mas a neve impediria que o incêndio se alastrasse.”

Turismo na Antártida – Além da reestruturação da base, será preciso dar mais transparência ao processo que autoriza a visita de pessoas à base brasileira. De acordo com um pesquisador que não quis se identificar, “não é justo que um cientista deixe de ir fazer ciência na Antártida porque perdeu seu lugar no avião da Força Aérea Brasileira para um filho ou parente de deputado ou senador”. O número de pessoas que podem visitar o continente a partir do Brasil é restrito, apenas 30 civis podem viajar por vez no avião da FAB (Força Aérea Brasileira).

Em entrevista ao site de VEJA, o especialista revelou que, por vezes, pesquisadores perdem seis meses ou um ano esperando o próximo voo. “Não é sempre que os aviões da FAB podem decolar para a Antártida”, disse. “As condições climáticas podem fazer com que a próxima expedição ocorra apenas no verão seguinte”, diz.

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Dinheiro – Para Yocie, que coordena 208 pesquisadores no INCT-APA, é difícil entender de onde sairá o dinheiro não só para “construir a casa, mas para mobiliá-la”. O valor previsto no OGU (Orçamento Geral da União) para investimentos na Antártida em 2012 é o menor dos últimos sete anos e vem caindo.

Segundo informações do site Contas Abertas, o governo autorizou o gasto de 11,8 milhões de reais para ações no continente gelado. A verba está dividida entre a ‘Missão Antártica’ (8,2 milhões de reais), ‘Fomento à Pesquisa na Antártica’ (1 milhão) e ‘Monitoramento das Mudanças Ambientais Locais e Globais Observadas Na Antártica’ (403.500 reais).

Em 2011, estavam previstos 18,4 milhões de reais, valor praticamente igual ao de 2010. Se comparado com 2009, a diferença é ainda maior: 27,4 milhões de reais foram aprovados naquele ano.

Burocracia – Além da falta de dinheiro, a burocracia continua sendo inimiga dos pesquisadores. Yocie afirma que existe um aparelho a caminho do Brasil para medir a sanilidade e temperatura da água do mar. O equipamento custou 100.000 dólares e vai ajudar nas pesquisas com os navios polares. “Esse tipo de equipamento chega a ficar seis meses parado em Guarulhos ou Cumbica por causa de uma burocracia injustificável”, diz.

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A pesquisadora, que também faz parte do comitê que prepara a política científica para a Antártida nos próximos 10 anos, diz que vai aproveitar o momento para reivindicar menos burocracia. “Se querem que façamos pesquisa de ponta na Antártida, precisamos de condições melhores”, diz.

De semestre em semestre, a porção científica da estação brasileira na Antártida poderá amargar longos invernos à espera de equipamentos. Um deles é o FlowCam, uma câmera de 120.000 dólares adquirida pela Faperj (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro) capaz de analisar organismos microscópicos e registrar fotografias.

A câmera foi totalmente destruída no incêndio de sábado e provocou parada total na pesquisa brasileira de micro-organismos da Antártida. De acordo com Yocie, o equipamento foi finalmente adquirido em 2011 e começou a ser usado em dezembro. “Fomos os primeiros na América Latina a usá-lo em águas geladas”, lamenta.

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