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Bill Gates e a camisinha de 1 milhão de dólares

O multibilionário e generoso criador da Microsoft adota uma nova meta para sua fundação: revolucionar a maneira como se fabricam e se usam preservativos

Por Raquel Beer Atualizado em 9 Maio 2016, 14h47 - Publicado em 25 jan 2014, 05h00

As camisinhas provaram ser o mais eficaz método contraceptivo e de prevenção contra doenças sexualmente transmissíveis (as DSTs). Apenas dois em cada 100 preservativos não dão certo: rompem-se no ato sexual, escorregam e saem ou têm vazamento. Normalmente, os erros são resultado da má colocação. Quando a camisinha é usada da maneira correta, a taxa de prevenção é de 98% (o melhor índice entre métodos do tipo). Por que, então, diante de tanta eficácia, o multibilionário americano Bill Gates, fundador da Microsoft e o segundo homem mais rico do planeta, resolveu investir em pesquisas que procuram revolucionar a forma como são fabricadas as camisinhas? O motivo é simples: 95% dos homens ainda não aceitam usar preservativos. Por meio de sua ONG, a Fundação Bill e Melinda Gates, ele promoveu um concurso para selecionar projetos de preservativos inovadores. Inscreveram-se 812 equipes de cientistas, das quais onze foram escolhidas, em novembro passado, para receber investimentos de 100 000 dólares cada. Os protótipos de camisinhas que se mostrarem eficientes em testes a ser realizados neste ano podem receber mais 1 milhão de dólares para promover o início da fabricação. Felizmente, a aposta da revolução das camisas de vênus não diminuirá os bilhões de dólares entregues pela fundação para a busca de uma vacina e outros recursos no combate à malária.

O adesivo contra mosquitos

O foco principal da fundação de Bill Gates é a melhora das condições de vida em países pobres, principalmente no que envolve a ainda precária saúde de africanos e asiáticos. A meta mais ambiciosa é erradicar a malária. Gates investiu, por exemplo, ao menos 100 000 dólares em pesquisas acadêmicas que criaram uma substância capaz de desorientar a habilidade de mosquitos de detectar o dióxido de carbono emitido pelo corpo humano (o que atrai os insetos). Essa tecnologia foi concedida à Kite, startup americana que criou adesivos com essa substância e que, para dar início à fabricação, levantou mais de 500 000 dólares doados por 11 000 pessoas por meio de um site. Em breve, o produto será testado em Uganda, na África, onde 90% da população é atingida pela malária, doença que todos os anos mata 660 000 pessoas no mundo.

As camisinhas de Bill Gates procuram responder às quatro maiores desculpas dos homens que se recusam a usar proteção. As alegações: o preservativo não se encaixaria adequadamente, seria de difícil colocação, diminuiria a sensibilidade durante o sexo e poderia causar perda de ereção ao interromper o ato sexual. Nos Estados Unidos, 45% dos que não usam camisinha dizem que isso se deve ao fato de eles terem problemas para colocá-la. Preservativos que não são do tamanho ideal têm o dobro de probabilidade de se romper ou sofrer vazamento. Os africanos estão entre os que mais desprezam os preservativos. Um levantamento realizado na África do Sul mostra o que está por trás da aversão: 42% dos sul-africanos alegam que a camisinha tira o prazer do sexo; 43% dos homens acreditam que só pessoas que não confiam em seus parceiros a usam; e espantosos 14% deles acham que apenas quem tem aids se protege.

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Diz o biólogo Stephen Ward, coordenador do projeto na Fundação Bill e Melinda Gates: “Muitos não adotam a camisinha mais por questões culturais enraizadas em seu comportamento. Por isso, é essencial recriá-la, de forma que ela vire um produto atraente, em vez de ser vista apenas como algo necessário, mas indesejado”. Os onze projetos eleitos para receber o investimento inicial têm uma semelhança: são inusitados. O químico indiano Lakshminarayanan Ragupathy desenvolveu uma camisinha feita de grafeno, material quarenta vezes mais resistente que o aço. O engenheiro químico americano Mark McGlothlin, presidente de uma empresa de pesquisas médicas, estuda fabricar uma versão à base de colágeno bovino (veja outros exemplos no quadro abaixo). A ideia é fazer um produto tecnicamente melhor, associado a uma cara futurista, capaz de convencer o público de que utilizar a camisinha é uma atitude genuinamente bacana.

Os homens começaram a adotar preservativos há 3 000 anos. Os primeiros, retratados em tumbas no Egito, datam de 1 000 antes de Cristo e eram feitos de revestimento de linho. Por mais de dois milênios, o objetivo foi principalmente um: cobrir o pênis para evitar engravidar a mulher. Demorou para o preservativo evoluir para o que conhecemos hoje, vendido a menos de 1 real a unidade em farmácias. Foi determinante para sua popularização a descoberta do médico italiano Gabriele Fallopius, no século XVI, de que ele também é útil para evitar DSTs, como a sífilis. Outro fator fundamental para o sucesso comercial foi o começo da utilização de borracha na produção, em 1839, seguida pelo látex – derivado da borracha -, na década de 20. O produto foi aprimorado ao longo dos anos para ficar mais atraente: há versões com gosto, coloridas ou que esquentam durante o sexo. A partir da década de 80, a disseminação da aids fez ainda com que proliferassem campanhas apoiando o uso. Mesmo assim, a aceitação continua pequena, o que ocasiona 86 milhões de casos de gravidez indesejada e mais 2,5 milhões de pessoas contaminadas com HIV (o vírus da aids) todos os anos. “Os números provam que o investimento valerá a pena, mesmo se vingar ao menos um entre os projetos, e assim conseguirmos fazer uma camisinha que passe a ser amplamente aceita”, concluiu Stephen Ward, da Fundação Bill e Melinda Gates.

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