Autoridades recomendam oficialmente que detalhes das pesquisas sobre H5N1 alterado não sejam publicados
Segundo órgão do Departamento de Saúde dos Estados Unidos, a divulgação do estudo coloca em risco a biossegurança e a saúde pública mundiais
Os Estados Unidos desaconselharam oficialmente nesta terça-feira a publicação na íntegra das pesquisas científicas que deixaram o vírus da gripe aviária (H5N1) mais letal. De acordo com comunicado publicado nas revistas Science e Nature (periódicos aos quais os artigos foram submetidos para veiculação), de autoria do Painel Científico Consultivo para Biossegurança Nacional (National Science Advisory Board for Biosecurity, NSABB), órgão do Departamento de Saúde dos Estados Unidos, a divulgação dos estudos colocaria em risco a biossegurança e a saúde pública mundiais.
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O Painel Científico Consultivo para Biossegurança Nacional (National Science Advisory Board for Biosecurity), solicita que as revistas Science e Nature não publiquem detalhes de um estudo sobre uma nova versão do vírus da gripe aviária, mais perigosa, transmissível entre mamíferos.
Os cientistas que criaram uma versão geneticamente alterada e potencialmente transmissível entre humanos do vírus da gripe aviária H5N1 decidem interromper as pesquisas por 60 dias. Em um artigo publicado nas revistas científicas Nature e Science, eles afirmam que querem dar tempo “aos governos e organizações para discutir esse tipo de pesquisa.”
31 de janeiro de 2012
Em comunicado publicado nas revistas Science e Nature (periódicos aos quais os artigos foram submetidos para veiculação), o Painel Científico Consultivo para Biossegurança Nacional (National Science Advisory Board for Biosecurity, NSABB), órgão do Departamento de Saúde dos Estados Unidos, afirma que a divulgação dos estudos colocaria em risco a biossegurança e a saúde pública mundiais.
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O imbróglio sobre a publicação das pesquisas realizadas por Ron Fouchier e Yoshihiro Kawaoka começou ainda em setembro de 2011. Em estudos distintos, os dois cientistas conseguiram fazer com o que o vírus se tornasse mais perigoso: pela primeira vez, ele tinha a capacidade de transmissão entre mamíferos pelo ar. Apesar de sua alta letalidade, o vírus H5N1 raramente infecta humanos. Desde 1997, quando foi relatado o primeiro episódio, a Organização Mundial de Saúde (OMS) registrou cerca de 600 casos – dos quais, mais de 300 terminaram com a morte dos infectados.
Em dezembro de 2011, o NSABB já havia emitido comunicado oficial recomendando à Nature e Science que publicassem apenas uma versão modificada, que excluiria a metodologia da mutação dos originais. As duas revistas decidiram, então, aguardar por uma posição definitiva do NSABB.
Agora, em parecer oficial e definitivo o órgão mantém sua posição e afirma que a publicação integral dos estudos pode cair em “mãos erradas” e ser usada para o bioterrorismo. A defesa do órgão é embasada na teoria do dual use (uso duplo, em tradução livre), definido como uma pesquisa que pode ser usada tanto para fins bons ou negativos – mesmo que ela tenha sido pensada com bons propósitos. “Pode este conhecimento, nas mãos de indivíduos, organizações ou governos malévolos, permitir a construção de um vírus geneticamente alterado capaz de causar uma pandemia com mortalidade superior à da gripe espanhola em 1918?”, questiona o comunicado.
Decisão – No comunicado, o órgão americano afirma que a decisão, sem precedentes na história da ciência, levou em consideração os lados positivos e negativos da publicação. “Embora cientistas se orgulhem de que a criação de uma literatura científica que defina cuidadosamente uma metodologia que permita a outras cientistas replicarem os experimentos, nós não acreditamos que a ampla disseminação da metodologia neste caso seja um ato responsável”, diz o comunicado.
O Painel afirma ainda que uma pandemia, ou mesmo a liberação deliberada de uma forma do vírus altamente transmissível, geraria uma catástrofe inimaginável para a qual o mundo não está devidamente preparado.