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Astrônomos do ESO encontram planeta “perdido no espaço”

O CFBDSIR2149, a 100 anos-luz da Terra, é o mais interessante candidato a planeta órfão já observado. Ele pode ter sido ejetado de um sistema planetário

Por Da Redação
Atualizado em 6 Maio 2016, 16h25 - Publicado em 14 nov 2012, 19h37

O CFBDSIR2149 sempre esteve desacompanhado. Acostumou-se a orbitar despercebido a Via Láctea, em um trajeto longo e, no seu caso, solitário. A vida de sossego durou algumas centenas de milhões de anos. Mas o agora candidato a planeta (ele também pode ser uma anã marrom) terá de conviver com uma legião de astrônomos curiosos, que não vão respeitar a intimidade alheia para descobrir por que o CFBDSIR2149 não se dá com ninguém.

Possivelmente um planeta órfão com massa equivalente de quatro a sete Júpiteres, o CFBDSIR2149 acaba de ser descoberto e possui uma característica apenas vista em outras duas dezenas de objetos conhecidos pela astronomia: ele não está ligado a nenhum campo gravitacional. Isso o torna um planeta que não orbita uma estrela hospedeira, diferentemente do que ocorre com a Terra, por exemplo.

A astronomia sabe da existência desses corpos desde o início dos anos 90. Os poucos planetas órfãos já observados por telescópios, no entanto, estão em regiões pelo menos 10 vezes mais longínquas no espaço. O CFBDSIR2149 tem a vantagem se estar a “apenas” 100 anos-luz da Terra. “Queremos saber como eles (planetas órfãos) se formam e evoluem. Poderemos comparar sua estrutura com os planetas que orbitam sistemas estelares, como Júpiter”, afirmou ao site de VEJA Jonathan Gagné, astrofísico da Universidade Montreal e um dos autores do artigo publicado na revista Astronomy & Astrophysics. De acordo com Gagné, a proximidade do planeta recém-descoberto permitirá analisá-lo em detalhes, algo impossível no caso dos seus primos mais afastados. “É o primeiro desse tipo que encontramos tão perto. Conhecíamos outros mais distantes e difíceis de ver.”

Saiba mais

PLANETA ÓRFÃO

Um planeta órfão é um objeto de massa planetária que não é ligado gravitacionalmente a nenhuma estrela hospedeira, ao contrário do que acontece com a Terra, por exemplo. Dessa forma, os planetas órfãos orbitam diretamente a galáxia. Tão comuns quanto estrelas, acredita-se que eles podem ter sido ejetados de sistemas planetários.

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ASSOCIAÇÃO DE ESTRELAS

Uma associação de estrelas é formada por um grupo de estrelas que se movem juntas pelo espaço. Seus membros têm idades e composição semelhantes e se originaram na mesma região.

ANÃ MARROM

Espécie de elo perdido entre planetas gasosos gigantes e estrelas, uma anã marrom é um objeto de pouca luminosidade que não consegue iniciar a fusão de hidrogênio em seu núcleo. Por isso, as anãs marrons são também chamadas de estrelas fracassadas.

Embora os astrônomos conheçam poucos planetas errantes, acredita-se que esses objetos sejam tão comuns no Universo quanto as estrelas, contadas na casa das centenas de bilhões. A dificuldade em encontrá-los está no fato de não refletirem a luz de uma estrela próxima.

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Dessa forma, o CFBDSIR2149, praticamente um vizinho, dá aos astrônomos a oportunidade de identificar padrões comuns a esses corpos, o que deve facilitar a caça por novos planetas solitários. Certamente eles serão alvo – complementa Gagné – da nova geração de telescópios terrestres, que deve começar a operar na próxima década.

“Este objeto poderá ser usado como base de dados para compreender a física de qualquer exoplaneta (planetas fora do Sistema Solar) semelhante, que seja descoberto com futuros sistemas especiais de imagens de elevado contraste”, complementou Philippe Delorme, do Observatório da Universidade de Grenoble e autor principal do estudo, em entrevista ao site do ESO (Observatório Europeu do Sul).

Também renegado? – Para confirmar o CFBDSIR2149 como um planeta errante, os astrônomos precisam saber se ele faz parte de uma associação de estrelas chamada AB Doradus. Tal agrupamento é composto por cerca de 30 estrelas – de idade semelhante e nascidas na mesma região – que se movem em conjunto ao redor da galáxia. Caso faça parte desse comitê, será possível intuir com precisão sua idade (provavelmente em torno de 50 a 120 milhões de anos), massa e temperatura.

Essas informações serão fundamentais para saber se ele é de fato um planeta ou uma anã marrom, uma espécie de estrela fracassada que não conseguiu desencadear reações termonucleares. Caso seja um planeta, acredita-se que o CFBDSIR2149 possa ter surgido das mesmas nuvens moleculares que originaram as estrelas da AB Doradus. “Em sistemas em que as órbitas são próximas entre si, com muitos objetos interagindo, pode acontecer que um planeta seja jogado para fora”, explica Gagné, que lembra que o nosso próprio sistema solar pode ter tido outros planetas que vieram a ser renegados.

“Estes objetos são importantes já que nos podem ajudar a compreender melhor como os planetas são ejetados dos sistemas planetários ou como objetos muito leves podem resultar do processo de formação estelar”, afirmou Philippe Delorme, do Observatório da Universidade de Grenoble. “Se esse pequeno objeto for um planeta ejetado do seu sistema nativo, dá-nos a imagem de mundos órfãos, perambulando no vazio do espaço.”

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O CFBDSIR2149 foi encontrado a partir de observações do telescópio Canadá-França-Hawaii, no Havaí, e suas propriedades foram examinadas pelo Very Large Telescope, do ESO, no Chile.

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