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Ancestral dos humanos, Lucy passava muito tempo em árvores

Cientistas concluíram que os hominídeos bípedes de sua espécie se locomoviam mesmo pelas árvores e não apenas pelo chão

Por Da redação
Atualizado em 2 dez 2016, 10h48 - Publicado em 2 dez 2016, 10h16

Uma nova análise do esqueleto de Lucy, o mais conhecido e mais antigo fóssil de um ancestral dos humanos, revela que, há 3,1 milhões de anos, os hominídeos bípedes de sua espécie se locomoviam mesmo pelas árvores e não apenas pelo chão. Através de análises, os cientistas concluíram que o andar dela era menos eficiente que os dos humanos, o que limitava a sua mobilidade no chão.

Segundo os autores do estudo publicado nesta semana na revista científica Plos One, Lucy subia nas árvores principalmente à noite para repousar e escapar de predadores, além de procurar por alimentos. No artigo, os pesquisadores ainda chegam a conjecturar que, caso dormisse por oito horas, Lucy passaria um terço do tempo nas árvores.

A pesquisa foi realizada por cientistas da Universidade Johns Hopkins, em Maryland, e da Universidade do Texas, em Austin, ambas nos Estados Unidos. Os resultados encontrados podem auxiliar outros novos estudos sobre a evolução humana.

O esqueleto de Lucy, um Australopithecus afarensis foi desenterrado na Etiópia em 1974. Ela era uma fêmea de pouco mais de um metro de estatura, que combinava traços humanos com características similares às do chimpanzé e já caminhava ereta.

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Desde então os cientistas debatiam se esses ancestrais dos humanos passavam mais tempo no chão, como os humanos, ou se alternavam a caminhada com a locomoção pelas árvores, típica dos macacos.

Lucy, um exemplar fóssil de 3,18 milhões de anos de Australopithecus afarensis da Universidade do Texas em Austin
Os ossos de Lucy auxiliaram as universidades americanas nas descobertas (John Kappelman/The University of Texas at Austin/Reuters)

Utilizando novas técnicas de tomografia computadorizada, cientistas americanos estudaram ossos dos braços e pernas de Lucy e concluíram que, para sua espécie, subir em árvores era tão frequente que as evidências desse comportamento ficaram preservadas na estrutura interna de sua ossatura.

Os resultados do novo estudo sugerem que a força relativa dos braços e pernas de Lucy estavam em um grau intermediário entre as dos atuais chimpanzés e dos humanos modernos. Isso sugere, segundo os autores, que a espécie da australopitecos mais conhecida da história devia passar grande parte do tempo usando seus braços para se mover pelas árvores.

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Os paleontólogos teorizavam que os hominídeos dessa espécie caminhavam até certo ponto como os humanos – uma das evidências é que os pés de Lucy não tinham capacidade de agarrar galhos e pareciam mais adaptados à locomoção bípede -, mas ainda é difícil determinar qual era sua real capacidade para caminhar com desenvoltura.

De acordo com o autor principal do estudo, Christopher Ruff, professor de anatomia funcional e evolução da escola de medicina da Universidade Jonhs Hopkins, foi possível realizar o estudo graças ao fato de Lucy ser um esqueleto razoavelmente completo.

“Nossa análise exigia ossos de membros inferiores e superiores bem preservados de um mesmo indivíduo – o que é algo muito raro em registros fósseis”, disse Ruff. Eles estudaram o úmero – osso da parte superior do braço – direito e o esquerdo, além do fêmur esquerdo de Lucy.

Para que os cientistas estudassem a estrutura óssea de Lucy, em 2008, o fóssil foi levado à Universidade do Texas, onde foi minuciosamente analisado em um equipamento de tomografia computadorizada de raios-x de alta resolução. Os dados resultaram em um arquivo digital de mais de 35.000 imagens de “fatias” dos ossos.

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Segundo o professor de anatomia, as tomografias de alta resolução foram outro fator que viabilizou o trabalho: os ossos de Lucy são tão intensamente mineralizados que os equipamentos de tomografia computadorizada convencionais não são capazes de fazer imagens de sua estrutura interna.

“Nosso estudo se baseia em teorias de engenharia mecânica que descrevem como objetos podem favorecer ou prejudicar sua flexão. É como um canudinho de refrigerante, por exemplo: quando o tubo tem paredes finas, dobra-se facilmente, mas essa flexão é impedida quando as paredes são grossas”, explicou Ruff.

Segundo ele, sabe-se que o esqueleto se adapta às funções que exerce ao longo da vida acrescentando osso a certas partes que precisam de mais resistência e reduzindo a massa óssea onde as forças são reduzidas. “Jogadores de tênis são um bom exemplo. Estudos mostram que o osso cortical no braço que segura a raquete é mais robusto que o do outro braço”, explicou.

Locomoção

Os cientistas compararam as tomografias de Lucy com diversas amostras de tomografias de humanos – que passam a maior parte do tempo no chão, andando sobre duas pernas – e de chimpanzés, uma espécie que passa a maior parte do tempo nas árvores e que, no chão, normalmente anda sobre as quatro patas.

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“Nossos resultados mostraram que os membros superiores dos chimpanzés são relativamente mais robustos porque eles usam os braços para escalar. E o contrário ocorre com os humanos, que passa mais tempo andando e tem membros inferiores mais robustos”, disse o autor principal.

Segundo ele, as comparações mostraram que, mesmo quando andava ereta, Lucy tinha um modo de caminhar bem menos eficaz que o dos humanos modernos, o que limitava sua capacidade de se locomover por grandes distâncias no chão.

Além disso, o estudo mostrou que os quatro membros de Lucy são muito robustos em relação ao tamanho de seu corpo, indicando que ela possuía músculos excepcionalmente fortes, mais parecidos com os dos chimpanzés que com os dos humanos.

De acordo com Ruff, uma redução da potência muscular no fim da evolução humana pode ter sido resultado de uma tecnologia melhor, que reduziu a necessidade de esforço físico, e de um aumento das demandas metabólicas ocasionado por um cérebro maior.

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“Pode parecer singular, da nossa perspectiva, que hominídeos primitivos como Lucy combinem a caminhada no chão sobre dois pés com uma considerável frequência de escalada em árvores. Mas Lucy não sabia de sua ‘singularidade’ – ela se movia no chão e subia em árvores, dormindo e buscando comida lá no alto, até que sua vida terminasse, muito provavelmente por uma queda de árvore”, disse Ruff.

Como morreu Lucy

No fim de agosto, um outro estudo – que também teve participação dos cientistas da Universidade do Texas – revelou que, há 3,1 milhões de anos, Lucy provavelmente morreu após cair de uma árvore provavelmente com 12 metros de altura, em uma de suas sonecas. No meio da queda, ela despertou. Torceu o seu tronco à direita e posicionou os braços à frente, uma ação realizada pela fêmea para tentar se proteger. Porém, já era tarde demais. Lucy fraturou o úmero direto (o osso do ombro), a mandíbula, os tornozelos, a caixa torácica, o ombro esquerdo, o quadril, a pélvis e as costelas. A fêmea teve uma morte rápida, o que é um alento.

(Com Estadão Conteúdo)

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