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A repercussão online do caso dos beagles

Estudo feito com exclusividade para VEJA mostra como redes sociais, a exemplo do Facebook e do Twitter, ajudaram a divulgar e respaldaram os protestos de ativistas contra os supostos maus tratos contra cobaias no Instituto Royal

Por Filipe Vilicic. Com reportagem de Victor Caputo
Atualizado em 6 Maio 2016, 16h16 - Publicado em 26 out 2013, 07h11

Em seu livro Lá vem todo mundo, o escritor americano Clay Shirky, professor de Telecomunicações Interativas da Universidade de Nova York, mostra como a internet – e, em especial, as redes sociais – mudaram a maneira como as pessoas se organizam em grupo. Diz ele: “estamos vivendo em meio a um extraordinário aumento de nossa capacidade de compartilhar, de cooperar uns com os outros e de empreender ações coletivas, tudo isso fora da estrutura de instituições e organizações tradicionais.” Sites como o Facebook, o Twitter e o Instagram passaram a ser usados para organizar, divulgar e reverberar ações em grupo, da festa de aniversário de um amigo a um protesto no meio da Avenida Paulista. As redes sociais estão também no cerne do caso da invasão do Instituto Royal, na cidade de São Roque, em São Paulo. O que culminou com o resgate de animais usados como cobaias – incluindo cerca de 200 cachorros da raça beagle -, a depredação do laboratório e choques com a polícia. É o que prova um estudo feito com exclusividade pela agência R18, especialista em levantamento e análise de dados digitais.

A compilação de mais de 10 000 publicações no Facebook, no Twitter, no Instagram e no YouTube mostra como a repercussão entre os usuários desses sites foi o que motivou a invasão do instituto na madrugada do dia 18, uma sexta-feira (confira o infográfico abaixo). Comentários de apoio ao ato também respaldaram o protesto violento que ocorreu um dia depois, no qual 700 manifestantes se concentraram nos arredores do Instituto Royal e entraram em choque com a polícia. O movimento dos que reclamavam de supostos maus tratos contra animais que serviam de cobaia para pesquisas no laboratório começou no fim de semana anterior, quando cerca de quinze ativistas acamparam em frente ao Instituto Royal. O protesto, porém, não tinha repercussão significativa até o dia 16, quando começaram a surgir comentários no Facebook sobre os possíveis maus tratos a animais.

Entre os dias 16 e 17 dobraram os posts feitos no Twitter e no Facebook sobre o caso. Comenta o publicitário Rodrigo Arrigoni, da agência R18: “A instantânea repercussão positiva na internet ajuda os manifestantes a se sentirem respaldados por seus pares e confiantes para agir.” Foi o que eles fizeram na madrugada do dia 17 para o dia 18, ao invadirem o laboratório para capturar os animais. “Após a ação, as redes sociais foram ainda mais ativas para chancelar o movimento”, diz Arrigoni.

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No dia 18, multiplicaram-se por quatro os posts sobre o assunto. Algumas das hashtags – como são classificados por temas os posts nas redes sociais, sempre com palavras antecedidas pelo sinal # – mais populares mostram apoio aos atos. Como exemplo: #precisamosdeajuda; #salveosbeaglesdilma; #salveosbeagles; #institutoroyaltemdepagar; #institutoroyaltemdeparar; dentre outras de teor similar. No dia 18, o tópico #institutoroyal foi o mais popular do Twitter brasileiro durante 7 horas consecutivas, com 20 301 menções. Um dos tuítes (nome dado às mensagens de 140 caracteres do Twitter) que mais repercutiram foi o da atriz global Tata Werneck: “Instituto Royal esta (sic) matando cachorros para testar seus cremes de merda”. No Instagram, foram criadas mais de 50 hashtags sobre o caso entre os dias 16 e 21, com ao menos 100 fotos relacionadas a cada uma delas. “Um dos pontos relevantes para a repercussão ter sido tão grande foi o apoio de celebridades diversas, que ajudam a difundir mais rápido o protesto”, afirmou Roberto Cassano, diretor de planejamento da agência Frog, que também fez um levantamento em redes sociais sobre a repercussão do caso dos beagles.

O estudo da Frog descobriu, por exemplo, que 15% dos posts relacionados ao assunto eram de estrangeiros. “A notícia passou a virar de interesse global quando começou a correr o boato de que o Instituto Royal matava os beagles dentro de seu prédio”, disse Cassano. Na madrugada do dia 18, poucas horas antes da invasão do laboratório, uma ativista irresponsável postou em seu Twitter uma mensagem afirmando que cães estariam sendo mortos no porão do prédio. Os manifestantes chegaram a essa conclusão apenas pela alegação de que teriam ouvido uivos e gritos de cachorros. A comoção virtual foi imediata – e estrondosa. Só que o boato se provou uma mentira poucas horas depois, quando invadiram o prédio e não encontraram os tais cães mortos. O laboratório não só não estava matando os animais como ainda falta prova dos maus tratos contra as cobaias. Mesmo assim, o boato continuou a se espalhar e a ser comprado por muitos nas redes sociais, o que motivou os ativistas a criarem no Facebook o evento “Manifestação pela Vida II”, com a finalidade de reunir manifestantes em frente ao Instituto Royal, no dia 19. Foram convidados 78 412 usuários da rede social e 11 083 aderiram virtualmente (700 compareceram no dia).

As redes sociais certamente mudaram a forma como pessoas se organizam, protestam e defendem suas opiniões. “Elas ajudaram a democratizar a comunicação entre indivíduos e a tornar a política mais líquida e fácil de ser discutida”, opina Arrigoni, da R18. Sim, é verdade. Mas também há claros efeitos negativos. A rapidez com que se espalham as informações na web ainda aumenta a velocidade de repercussão de falácias, mentiras ou mesmo histórias inventadas por pessoas com intenções duvidosas. Caso da boataria em torno da suposta matança de beagles no Instituto Royal e das graves consequências dessa mentira. “Alguns podem usar a força de um Facebook ou de um Twitter para ganhar seguidores para causas egoístas ou para impor à sociedade um ponto de vista”, diz Arrigoni.

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