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A primeira reprodução em cativeiro da raia-borboleta, ameaçada de extinção

O enorme peixe marinho, que chega a alcançar 2 metros de comprimento, deu à luz cinco filhotes no aquário do Rio de Janeiro

Por Fernanda Thedim
Atualizado em 4 jun 2024, 16h18 - Publicado em 2 ago 2019, 07h00

Mantidos em reservatórios separados, sob observação dia e noite, cinco filhotes que não parecem nada com peixe estão fazendo a festa do AquaRio, o aquário marinho do Rio de Janeiro — são as primeiras crias do mundo nascidas em cativeiro de uma raia-borboleta, espécie nativa do Oceano Atlântico que se encontra no último degrau da ameaça de extinção. A raia-borboleta, também chamada raia-manteiga pela qualidade de sua carne tenra e saborosa, é uma das grandes atrações do AquaRio por causa do tamanho: o peixão com jeito de disco voador, do qual não se veem olhos nem boca, chega a alcançar 2 metros de comprimento. Ela está classificada como “criticamente em perigo” no Livro Vermelho da Fauna Brasileira, listagem dos animais que podem sumir da natureza nos próximos anos, produzida pelo ICMBio, órgão ligado ao Ministério do Meio Ambiente. Em um cenário desses, a reprodução inédita é apreciada meio como milagre. “Trata-se de um feito a ser comemorado”, declara Marcelo Vianna, chefe do departamento de biologia marinha da UFRJ e especialista nessa espécie.

Papai e a mamãe raia foram capturados no litoral fluminense e se reproduziram de forma natural, sem intervenção dos pesquisadores. Biólogos e veterinários monitoraram toda a gestação a distância e só entraram em ação durante o trabalho de parto. Aos seis meses, levaram a fêmea para uma área reservada e a colocaram perto da superfície de barriga para cima. “Quando fazemos isso, raias e tubarões costumam ficar imóveis, como se entrassem em um transe. Assim, pudemos fazer uma ultrassonografia, ver a quantidade de fetos e ajudar na retirada dos filhotes”, diz Marcelo Szpilman, biólogo marinho e diretor do AquaRio. Os cinco “irmãos” pesavam cerca de 500 gramas cada um e foram levados para um tanque menor, onde permanecem até hoje.

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ATRAÇÃO – Mamãe raia-borboleta: um dos principais destaques do aquário pelo tamanho de quase 2 metros (Ricardo Borges/VEJA)

Nascidas em agosto do ano passado, as pequenas raias, três machos e duas fêmeas, em breve terão companhia. Mamãe raia está prenhe novamente, de dois meses, e a previsão é que o parto aconteça até novembro. O bem-sucedido programa de reprodução em cativeiro do aquário carioca também já registrou o nascimento de filhotes de raias-prego, raias-ticonha e cavalos-marinhos. Está prevista ainda a reprodução dos tubarões-leopardo, lixa e mangona. Dessa última espécie, a fêmea Margarida, trazida do Aquário de Ubatuba, poderá escolher entre Donald e Gastão, machos que vieram dos Estados Unidos especialmente para acasalar com ela.

O êxito na reprodução em cativeiro pode ser visto como um atestado do bem-estar dos animais e das boas condições ambientais replicadas nos aquários marinhos. Manter espécies marítimas aprisionadas, contudo, tornou-se uma atividade controvertida desde que surgiram denúncias de maus-tratos nos parques aquáticos e virou escândalo com o documentário Blackfish, de 2013, que conta a história da orca Tilikum. A baleia de 7 metros morava em um estreito tanque retangular e apresentava-se ao público de hora em hora, oito vezes por dia, sete dias por semana. A exaustão lhe causou úlceras, e o confinamento fez dela um animal agressivo — matou três treinadores. Ela própria morreu em 2017, de infecção.

A situação costuma ser bem diferente nos aquários marinhos, sobretudo os mais modernos, montados para tornar-se centros de preser­vação e pesquisa. O New England Aquarium, em Boston, recuperou e libertou 733 tartarugas marinhas que haviam encalhado nas praias de Cape Cod em um único ano. Na Califórnia, o Monterey Bay Aquarium mantém um programa de resgate e recuperação de lontras marinhas, animal caçado até sua quase extinção. Foi ali que uma fêmea, pela primeira vez no mundo, deu à luz em cativeiro em dezembro de 2015. No caso das raias carioquinhas, a preservação da espécie exigirá uma separação da “família”: um casal deve se mudar em breve para o espetacular Oceanário de Lisboa, com a missão de crescer e multiplicar-se. Tomara que haja química por lá também.

Publicado em VEJA de 7 de agosto de 2019, edição nº 2646

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