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A população pelo clima

Dimensão da última marcha contra mudanças climáticas revela que cidadãos ao redor do mundo estão engajados e preocupados com o impacto do problema no cotidiano

Por Monica Araya e Hans Verolme
Atualizado em 6 Maio 2016, 16h09 - Publicado em 2 out 2014, 09h40

A Marcha Popular pelo Clima, no dia 21 de setembro, foi um divisor de águas para o emergente movimento global contra as mudanças climáticas, com mais de 400 000 pessoas tomando as ruas de Nova York. Mas o evento na cidade americana foi só a ponta do iceberg. Pessoas em 166 países, da Argentina à Austrália, participaram de mais de 2 800 eventos e mobilizações. Cerca de 2 milhões de ativistas exigiram, por meio de uma petição online, que os governos passem a utilizar somente energia limpa. Pela primeira vez desde a malfadada Convenção do Clima de Copenhague, em 2009, o ativismo virtual pela causa deslocou-se para o mundo real. Por quê?

Os cidadãos preocupam-se com o impacto das mudanças climáticas – e eles sabem que os combustíveis fósseis são o problema. Passaram a perceber que interesses poderosos estão bloqueando a mudança necessária para se alcançar a energia limpa, e simplesmente não acreditam mais que os seus governos estão fazendo o suficiente para defender o futuro do planeta. Isso se refletiu não apenas no número recorde de pessoas que participaram das marchas, mas também na diversidade dos manifestantes – ativistas urbanos, grupos indígenas, adeptos de diferentes crenças e posições políticas e, mais notavelmente, jovens e velhos.

As pessoas hoje esboçam conexões naturais entre as mudanças climáticas e o cotidiano. Os professores defenderam escolas que operem utilizando energia renovável, mulheres apoiaram uma agricultura mais saudável, avós exigiram ar puro para seus netos, sindicatos querem uma transição para empregos verdes e prefeitos exigem investimentos em edifícios energeticamente eficientes.

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Cinco anos depois do fracasso da Convenção de Copenhague, os governos finalmente precisam agir com responsabilidade. A reunião de cúpula sobre o clima, convocada pelo secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, tinha como objetivo reforçar o ímpeto à ação, reunindo líderes políticos, empresariais e da sociedade civil. A meta era criar condições favoráveis para os governos negociarem um acordo sobre o clima no próximo ano em Paris. E, embora a ONU não possa forçar os líderes a cumprirem as promessas que fizeram, a reunião catalisou a manifestação popular que moveu o foco político de volta para o desafio das mudanças climáticas, onde provavelmente deve permanecer até que os governos tomem medidas de credibilidade.

Mudanças – O que mudou desde 2009 foi o nível de preocupação sobre o impacto das mudanças climáticas. Neste ínterim, os nova-iorquinos enfrentaram o furacão Sandy, enquanto o tufão Haiyan devastou as Filipinas. Recordes climáticos continuam a ser quebrados em todo o mundo. Apenas em 2014, houve ondas de calor na Austrália, enchentes no Paquistão e secas na América Central, enquanto o colapso das geleiras no oeste da Antártida se provou irreversível.

Como resultado, o debate global agora não é mais sobre os custos de tomar medidas, mas sobre os de não tomá-las. E, embora os custos dos danos climáticos sejam impressionantes, pesquisas científicas apontam que os gastos para atenuá-los são administráveis.

Isso se tornou evidente no crescimento de geração de energia renovável. As pessoas querem energia limpa, a tecnologia está disponível, é rentável e, com milhões de pessoas sem acesso à energia confiável, a emergência de fontes renováveis é muito útil. A capacidade das energias eólica e solar, em âmbito global, triplicou desde 2009, e a energia renovável agora representa mais de um quinto do fornecimento mundial de eletricidade.

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De fato, de cada dois megawatts de energia nova gerados no mundo, um é verde, sugerindo que a cota de energia renovável poderia alcançar 50% em 2030. A energia limpa é decisiva porque coloca o poder sobre a energia de volta às mãos dos cidadãos, constituindo um desafio direto à indústria de combustíveis fósseis. O próximo passo óbvio na luta contra as mudanças climáticas é eliminar todos os subsídios para essa indústria.

A reunião de cúpula da ONU desta semana pode não afetar o rumo das negociações para um acordo internacional sobre o clima. Mas colocou de volta o foco onde ele deve estar: pessoas reais exigindo mudanças reais de seus governos. Os cidadãos mostraram que estão engajados e vão se manifestar. A Marcha Popular pelo Clima foi só o começo.

Monica Araya é fundadora e diretora executiva dos grupos Nivela e Costa Rica Limpia. Hans Verolme é fundador e conselheiro estratégico sênior da Climate Advisers Network.

(Tradução: Roseli Honório)

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© Project Syndicate, 2014

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